O aumento patrimonial de até 2.058%, no espaço de quatro anos, de membros das bancadas parlamentares estadual e federal do Amazonas mostra que o escândalo que provocou a queda do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, no dia 8 último, não é um caso isolado na política brasileira.
Palocci pediu demissão diante da denúncia de que multiplicou por 20 o patrimônio pessoal nos últimos quatro anos. Reportagem do jornal Folha de São Paulo, do dia 15 de maio, revelou que o ex-ministro declarou à Justiça Eleitoral, em 2006, bens no valor de R$ 375 mil (valores corrigidos). E entre 2009 e 2010, a empresa Projeto, de propriedade dele, comprou imóveis de R$ 7,5 milhões.
O cruzamento das declarações de bens de parlamentares à Justiça Eleitoral, nas eleições de 2006 e 2010, elaborado pela Organização não-governamental Transparência Brasil, e consulta ao site do Tribunal Superior Eleitoral (www.tse.gov.br/) aponta multiplicação de três a 21 vezes do valor do patrimônio de deputados estaduais, federais e senadores do Amazonas.
A deputada estadual Conceição Sampaio (PP) registrou nesse período crescimento patrimonial de 2.058%. Em 2006, declarou R$ 36 mil. Tinha um carro Fiesta, de R$ 30,9 mil, aplicação no Bradesco de R$ 5 mil e uma linha telefônica de R$ 100. Em 2010, a declaração à Justiça Eleitoral saltou para R$ 777,7 mil.
A principal causa da multiplicação por 21 vezes do patrimônio foram R$ 515,2 mil em caderneta de poupança. E um apartamento no condomínio Napole, no bairro Parque Dez, Zona Centro-Sul de Manaus.
O patrimônio do deputado Adjuto Afonso (PP) foi multiplicado por nove nos últimos quatro anos. Saltou de R$ 115,4 mil para R$ 1,073 milhão. Um aumento de 829,3%. Na disputa de 2006, possuía dois apartamentos uma casa residencial, uma sala comercial, um terreno no residencial Ponta Negra e uma pick up S 10. Na declaração do ano passado incluiu mais três apartamentos, dois de R$ 266,5 mil cada, e um de R$ 118 mil. E ainda um carro, saldo de R$ 117,4 mil no Banco do Brasil e cotas da empresa L Queiros no valor de R$ 112,2 mil.
O valor dos bens declarados pelo deputado Marcos Rotta (PMDB) multiplicou por sete vezes. Em 2006 era dono de R$ 80 mil. Possuía dois carros e um jet ski. Quatro anos depois suas posses saltaram para R$ 627 mil. Uma elevação de 683,8% sobre o valor anterior. A maior diferença foi provocada pelo registro de R$ 340 mil em espécie. Declarou também uma pick up Frontier, uma lancha reagal de R$ 120 mil e um lote de terras.
O patrimônio do ex-prefeito de Maués e deputado Sidney Leite (DEM) multiplicou por seis. Em 2006, quando concorreu ao cargo de vice-governador na chapa do hoje prefeito Amazonino Mendes (PTB), a declaração de bens do parlamentar somou R$ 152 mil. Na última eleição para ALE-AM, esse valor saltou para R$ 1,014 milhão. Além de uma casa, um terreno em área rural, um lote no residencial Ephigênio Sales, cotas de capital de uma construtora, declarou dois carros, um imóvel comercial em Maués, um apartamento de R$ 280 mil, no edifício Saint Remy, e três outros imóveis.
Sabino na lista dos ‘pobres’
Cinco parlamentares do Amazonas disseram à Justiça Eleitoral que empobreceram nos últimos quatro anos, segundo cruzamento dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das eleições de 2006 e 2010.
O deputado federal Sabino Castelo Branco (PTB), que está no segundo mandato na Câmara de Deputados, apresentou queda de 81,91% no valor do patrimônio declarado à Justiça Eleitoral. Em 2006, quando deixou o mandato de vereador de Manaus para concorrer ao atual cargo, informou possuir R$ 1,1 milhão. Quatro anos depois, o parlamentar, abatido por um súbito empobrecimento, declarou apenas R$ 214,2 mil.
Ex-vice-prefeito de Manaus, o deputado Carlos Souza (PP) informou perdas de 67,12%. Em 2006 possuía R$ 1,4 milhão. O deputado federal (hoje está no terceiro), Souza entregou declaração no valor de R$ 485,9 mil. Uma diferença a menor de R$ 991,9 mil.
O irmão dele, o deputado estadual Fausto Souza (PRTB) foi outro parlamentar que teve a relação de bens esvaziada. Na eleição de 2006, disse que tinha R$ 508,6 mil. Quatro anos depois, esse valor caiu para R$ 185 mil. Uma perda de R$ 323,6 mil, o que significa 63,6%.
Faz parte da lista de parlamentares que apresentaram redução do valor dos bens o deputado federal Silas Câmara (PSC). Entre 2006 e 2010, o patrimônio dele caiu 35,5%. Silas, que está no quarto mandato na Câmara de Deputados, possuía R$ 574 mil. No ano passado informou ser dono de R$ 370 mil à Justiça Eleitoral. Uma diminuição de R$ 203,9 mil.
Deputado estadual no quarto mandato, Sinésio Campos (PT) está entre os parlamentares que, em 2010, disseram ao Tribunal Superior Eleitoral ter perdido patrimônio nos últimos quatro anos. Em 2006, declarou R$ 218 mil. No ano passado, disse ser proprietário de R$ 180 mil.
Braga lidera ranking local no Senado
O ex-governador e hoje senador Eduardo Braga (PMDB) lidera o ranking de elevação patrimonial entre os representantes do Amazonas no Senado. Em quatro anos o valor da declaração dele quase quatriplicou.
Saltou de R$ 4,1 milhões em 2006 quando disputou a reeleição para o Governo do Estado para R$ 16,4 milhões em 2010.
A lista de bens de Braga é composta por 32 itens. O de valor mais elevado é a aplicação de R$ 5,3 milhões em renda fixa no Bradesco. Mais R$ 3,7 milhões estavam aplicados em um fundo de investimentos do mesmo banco.
Cotas de capital da Parintins Veículos no total de R$ 2,6 milhão integram a declaração; um terreno edificado na Ponta Negra, de R$ 800 mil; aplicação no banco Safra, de R$ 750,6 mil; um apartamento no edifício Farol da Ponta Negra, de R$ 338,5 mil, outro no Maison Camille de R$ 570,4 mil.
As posses da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) cresceram 35,7%. Em 2006, na eleição para deputada federal possuía R$ 243,5 mil em bens.
Rebecca tem maior crescimento
Representantes do Amazonas na Câmara Federal também registraram, nos últimos quatro anos, crescimento do patrimônio. O mais expressivo ficou por conta da lista de bens da deputada federal Rebecca Garcia (PP), filha do empresário e ex-deputado Francisco Garcia.
Rebecca teve o valor dos bens multiplicado por seis no período. Em 2006, declarou R$ 367,4 mil à Justiça Eleitoral. Eram R$ 260 mil em dinheiro vivo, participação em duas empresas e um apartamento na rua Recife. Na disputa pela reeleição o valor declarado subiu para R$ 2,2 milhões.
Um dos fatores da elevação foi o registro de R$ 875 mil de capital social da firma JG Rodrigues que antes havia sido registrado por R$ 625. Pesou no crescimento patrimonial R$ 500 mil de cotas da empresa GBR Componentes da Amazônia e R$ 488,7 mil de saldo credor na firma JG Rodrigues.
O segundo maior crescimento patrimonial foi do deputado federal Átila Lins (PMDB). Saltou de R$ 1,2 milhão para R$ 1,7 milhão. Uma evolução de 42,5%.publicado em A Crítica
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