O eurodeputado independente eleito pelo Bloco de Esquerda Rui Tavares exige um pedido de desculpas ao líder Francisco Louçã, depois de este o apontar como estando na origem de informações enganosas sobre os fundadores desta força política.
A exigência de Rui Tavares, historiador, consta numa nota de imprensa do seu gabinete no Parlamento Europeu, à qual a agência Lusa teve acesso, e visa responder a um texto publicado por Francisco Louçã, às 23h18 de sexta-feira, na página do facebook do líder do Bloco de Esquerda (BE).
Segundo o eurodeputado independente, Louçã, nesse seu texto, sugere que ele, Rui Tavares, esteve na origem de informações falsas colocadas nos jornais “I” e “Sol” sobre os fundadores do Bloco, “fazendo desaparecer da história Fernando Rosas”, substituído pelo ex-dirigente Daniel Oliveira (uma das vozes críticas da actual direcção do Bloco).
“O carácter público daquela nota [de Francisco Louçã] obriga-me a responder também publicamente. Como é evidente, nunca disse a qualquer jornalista, ou a qualquer pessoa, em privado ou em público, que Daniel Oliveira fosse um dos quatro fundadores do Bloco de Esquerda e jamais omitiria o nome de Fernando Rosas para o substituir fosse por quem fosse. Conheço muito bem a história da fundação do BE e já conhecia na época vários dos seus protagonistas”, contrapôs o eurodeputado independente eleito pelo Bloco de Esquerda.
Neste contexto, Rui Tavares lamenta “a aparente leviandade com que Francisco Louçã extrapola em público sobre a sua curiosidade ‘acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos’, ligando-a a um deputado eleito em listas do seu partido, sem ter feito o mais fácil — que seria telefonar a esse deputado para procurar satisfazer essa curiosidade”.
“Mas Francisco Louçã vai mais longe, utilizando num contexto em que citou o meu nome termos e expressões como ‘falsificação’ e ‘tentativa de refazer a história’, que para um historiador como eu têm implicações tão graves que não podem simplesmente passar em claro. Eu não sou, caro Francisco Louçã, dos que refazem a história e, politicamente, não sou daqueles que apagam um camarada da fotografia para lá pôr outro”, adverte ainda Rui Tavares, dirigindo-se a Louçã.
Depois de lamentar que Louçã esteja a lançar contra si “suspeitas em filigrana”, o eurodeputado do Bloco de Esquerda deixa a terminar um aviso ao líder do Bloco de Esquerda.
“O mínimo que espero de Francisco Louçã é que esclareça a confusão que levianamente criou, peça desculpas pelo facto, e retrate o seu texto”, refere Rui Tavares na parte final da sua nota de imprensa. link
Post de Francisco Louçã no Facebook:
Um jornal (o "i") enganou-se e escreveu, com ligeireza, que os quatro fundadores do Bloco foram o Luis Fazenda, o Miguel Portas, este que assina e o Daniel Oliveira. O Fernando Rosas desaparecia da história. Explicou depois o jornalista que tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares.
Escreve hoje outro jornal (o "Sol") a mesma coisa. Estou por isso curioso acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos.
A história, aliás, é bem conhecida. O Luis Fazenda contactou-me em 1999 e apresentou a ideia da formação de um novo partido. Eu contactei para o efeito o Fernando Rosas e o Miguel. Entre os quatro fizemos cuidadoso trabalho de casa para ver se era possível. E depois decidimos avançar e começamos a reunir com outras pessoas sobre a ideia (incluindo o Daniel). Por isso, é simplesmente uma falsificação a tentativa de retirar o Fernando desta história e de a refazer com novos protagonistas.
Nota de Rui Tavares sobre post de Francisco Louçã:
Francisco Louçã publicou ontem, às 23:18, na sua página de facebook, uma nota intitulada “4 são mesmo 4”, na qual comenta artigos que terão aparecido na imprensa (jornais “i” e “Sol”) com a informação errónea de que os quatro fundadores do Bloco de Esquerda fossem Luís Fazenda, Miguel Portas, Francisco Louçã e Daniel Oliveira.
Como escreve Louçã, “o Fernando Rosas desaparecia da história”, substituído pelo nome de Daniel Oliveira. Francisco Louçã escreve que o jornalista do primeiro artigo “tinha sido levado ao engano por uma informação de uma conversa com o Rui Tavares”, e notando que a mesma informação errónea terá saído noutro jornal, confessa-se “curioso acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos”, concluindo que é “simplesmente uma falsificação a tentativa de retirar o Fernando [Rosas] desta história e de a refazer com novos protagonistas”.
O carácter público daquela nota obriga-me a responder também publicamente.
Como é evidente, nunca disse a qualquer jornalista, ou a qualquer pessoa, em privado ou em público, que Daniel Oliveira fosse um dos quatro fundadores do Bloco de Esquerda, e jamais omitiria o nome de Fernando Rosas para o substituir fosse por quem fosse. Conheço muito bem a história da fundação do Bloco de Esquerda e já conhecia na época vários dos seus protagonistas. Nunca mentiria nem levaria alguém “ao engano” sobre ela, porque simplesmente é coisa que nunca faço. Ponto final, parágrafo.
Adicionalmente, lamento a aparente leviandade com que Francisco Louçã extrapola em público sobre a sua curiosidade “acerca da coincidência de dois enganos tão estranhos”, ligando-a um deputado eleito em listas do seu partido, sem ter feito o mais fácil que seria telefonar a esse deputado para procurar satisfazer essa curiosidade.
Mas Francisco Louçã vai mais longe, utilizando num contexto em que citou o meu nome termos e expressões como “falsificação” e “tentativa de refazer a história” que para um historiador como eu têm implicações tão graves que não podem simplesmente passar em claro.
Eu não sou, caro Francisco Louçã, dos que refazem a história. E, politicamente, eu não sou daqueles que apagam um camarada da fotografia para lá pôr outro. Orgulho-me de ter sido aluno de Fernando Rosas e tenho por ele enorme respeito pessoal e profissional. Com ele e com outros aprendi a ser historiador e irrepreensível em matéria de facto histórico. Ninguém — nem sequer o líder do partido pelo qual fui eleito — põe em causa, em vão, a boa-fé e honestidade por que me pauto nestas questões.
Sou também, nestas matérias, absolutamente impermeável às conveniências políticas de momento. Na véspera de uma Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, teria sido fácil a Francisco Louçã esperar para perguntar, aos muitos amigos e camaradas que tenho entre os que estiveram hoje à sua volta, se eu seria capaz de enveredar por “falsificações” ou “tentativas de refazer a história”. A minha segurança é tal que sei que todos lhe diriam que tal é impossível.
No quadro dos difíceis debates que se avizinham para a esquerda portuguesa, é de lamentar que a nota de Francisco Louçã, e a resposta que me vejo forçado a dar-lhe, possam servir de manobra de diversão.
Mas a política, e tudo na vida, faz-se respeitando a dignidade das pessoas, agindo com boa-fé e não lançando sobre elas suspeitas em filigrana. O mínimo que espero de Francisco Louçã é que esclareça a confusão que levianamente criou, peça desculpas pelo facto, e retracte o seu texto.
Rui Tavares
Bruxelas, sábado 18 de Junho de 2011
Louçã não comenta nota em que Rui Tavares exige pedido de desculpa
Francisco Louçã não quis comentar a nota do eurodeputado Rui Tavares em que este exige um pedido desculpa do coordenador do Bloco de Esquerda por o ter acusado de fazer “desaparecer da história” da fundação do partido o historiador Fernando Rosas. Mas num comentário colocado na sua página no Facebook, diz “registar” as palavras de Rui Tavares “que afirma não ter facilitado qualquer confusão”. link
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