Homenagens a Marielle Franco cobram resultado das investigações

Homenagens a Marielle Franco e manifestações cobrando resultados das investigações sobre os assassinatos da vereadora do PSOL e de seu motorista Anderson Gomes marcaram as duas semanas do crime. No Cine Odeon, na Cinelândia, houve lançamento do clipe da música “Marielle, presente”, composta por Daniel Fernandes, especialmente para a vereadora, com participação de 24 cantoras, entre elas Zezé Motta, Dorina, Tereza Cristina e Olívia Hime. Também no Odeon, um debate sobre o papel da mulher e a exibição do documentário “Primavera das Mulheres”, do qual Marielle participou, completaram as homenagens. Na Candelária, jovens secundaristas lembraram a morte de Edson Luís, há 50 anos, e exigiram que o assassinato de Marielle não fique impune como o do estudante, símbolo da luta do movimento estudantil contra a ditadura militar. 
“A gente precisa sonhar que mais mulheres negras vão ocupar esses espaços (na política)”, desejou a escritora Antônia Pellegrino, presente nas homenagens no Cine Odeon, na Cinelândia. Organizadora do ato na Candelária, a estudante Gabriela Maiques, de 14 anos, criticou a condução da segurança no Rio: “A morte da Marielle é mais um desafio dessa intervenção, que afeta diretamente quem mora na favela. É inacreditável que a ida do Exército para a Maré, no ano passado, tenha custado R$ 600 milhões, enquanto o investimento no ensino público dali é bem menor”.   
Amigos dos cinco jovens assassinados em chacina de Maricá, no domingo passado, estiveram na passeata. “Foram mais jovens assassinados nessa violência do Rio. Isso precisa acabar”, cobrou Carlos Eduardo Júnior.

Pela manhã, a Comissão Externa da Câmara Federal criada para acompanhar as investigações da execução de Marielle se reuniu com o chefe da Polícia Civil do Rio, delegado Rivaldo Barbosa. A intenção era cobrar o andamento da apuração do caso. Depois de duas horas de reunião, o grupo formado por Jandira Feghali (PCdoB) e Glauber Braga (PSOL) se disse satisfeito com as informações apresentadas pelos investigadores. 
“Temos indicativo de avanço nas investigações. Nos demonstraram que a polícia tem estrutura para descobrir a motivação do crime. A execução da Marielle quis mandar um recado. Só não sabemos ainda qual foi o recado”, disse o deputado federal Glauber Braga, relator da comissão. Segundo ele, as investigações estão avançando com informações obtidas com agentes  dos núcleos de inteligência das polícias civil e federal, além das Forças Armadas. 
Depois das ameaças sofridas pela vereadora Talíria Petrone (PSOL), correligionária e amiga de Marielle Franco, a polícia identificou e interrogou o homem que ameaçou de morte a vereadora mais votada de Niterói. O homem foi indiciado por injúria, calúnia e difamação e liberado em seguida. 
Após determinação da 15ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, o Facebook informou, ontem, que vai retirar do ar todos os posts com informações falsas sobre  a vereadora assassinada. A ação foi movida pela viúva de Marielle, Mônica Benício, e a irmã da vereadora, Anielle Silva, depois que circulou a notícia mentirosa de que ela tinha ligação com criminosos. O magistrado entendeu que, ao veicular ofensas, o Facebook é conivente com quem propaga essas informações.
'Não se cala os jovens'
Os 50 anos que separam a morte do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, assassinado em pleno regime militar, guardam muitas semelhanças com os dias atuais, segundo o economista aposentado João Neto, 69 anos, um dos estudantes que carregaram o corpo de Edson Luís do Calabouço — o Restaurante Central dos Estudantes, onde foi morto pela polícia — até a Assembleia Legislativa — que ficava no Palácio Pedro Ernesto, onde hoje funciona a Câmara dos Vereadores e o corpo foi velado. 
“Edson era de Belém e veio ao Rio em busca de melhores condições de vida para seus pais. No dia da morte, a polícia reprimiu uma passeata e começou a atirar. Quando Edson Luís foi morto, levamos o corpo dele para a Santa Casa. Ao chegarmos lá, o doutor Benito Gama atestou que não havia mais nada a fazer. Então, seguimos para a Assembleia. A polícia queria tomar o corpo da gente. De tanto carregá-lo, minha camisa ficou ensanguentada”, relembra
 “Naquela época, uma das nossas reivindicações era por conta do preço do Calabouço, que atendia muitos estudantes. A juventude de hoje precisa de uma maior profissionalização e melhores condições no mercado de trabalho para conseguir realizar seus sonhos. Não se cala nem se deve calar e desencorajar os sonhos dos jovens. E o que a intervenção faz hoje também está inserido nesse contexto. O que o país realmente precisa é resolver suas questões sociais. Não precisamos de militares para isso. Nada paliativo é bom. O cerne de toda essa questão é social”.#

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