"A Usina de Belo Monte e o modelo de desenvolvimento" por Bruno Lima Rocha
Acredito que o país nunca chegou a discutir a fundo o uso dos recursos naturais não-renováveis e em especial os hídricos. Infelizmente, tenho de me referir aos mega-projetos como sinônimos da eletrificação, incluindo a atual batalha de milhares de brasileiros contra a hidrelétrica cruelmente chamada de Belo Monte. Conversando com um funcionário de carreira do setor, este me confidenciou que pelos critérios atuais, o Brasil não poderia construir grandes represas no período desenvolvimentista, antes e durante a ditadura militar (1964-1985). Se naquela época fossem levados em conta os direitos das populações ribeirinhas, dos micro e pequenos proprietários atingidos por barragens, dos povos originais (indígenas), isto sem falar na correspondente legislação ambiental que exige um rigoroso relatório de impacto das obras, os donos do poder teriam duas escolhas.
Uma escolha, fora de cogitação para o regime da caserna, seria a não urbanização precoce e a não industrialização tardia. A outra implicaria, antes que nada, uma definição política dos conceitos fundamentais para um modelo de desenvolvimento sustentável. A conseqüência disso seria um amplo investimento na pesquisa de energias renováveis e a prioridade de alguns fatores como: a durabilidade dos cursos de água, fontes e mananciais; a aplicação racional da irrigação; fortalecer a agricultura voltada para a produção de alimentos e regionalizada; a preservação das formas de vida tradicionais (como ribeirinhos, extrativistas, indígenas, posseiros e quilombolas); a compreensão dos recursos naturais e da biodiversidade como patrimônio nacional e por tanto como elemento permanente de defesa soberana.
Obviamente que nada disso ocorreu e população tradicional alguma foi ou é levada em conta quando se trata de mega-empreendimentos, todos eles devidamente subsidiados com dinheiro fruto dos impostos sob controle do governo central. Assim o foi durante a ditadura militar e segue sendo no ano em que vamos às urnas para decidir o recâmbio do presidente. A sina da transamazônica continua e, infelizmente, não se trata de nenhuma novidade.
por Bruno Lima Rocha
cientista político (www.estrategiaeanalise.com.br /
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