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Comunidades apresentam protótipo de calendário. Foto: Gabriel Cortes / ISA / Divulgação |
Apesar de festejarem a data, institucionalizada no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas na década de 1940, os indígenas não a incluem em seus próprios calendários, de acordo com o antropólogo Aloisio Cabalzar, do Instituto Socioambiental (ISA).
"Comemorar o Dia do Índio é um fato mais recente se comparado à tradição de cada tribo com seus calendários. A data é mais para a sociedade não indígena mesmo", diz ele, que começou a estudar e desenvolver projetos sobre os calendários indígenas, entre outras atividades, desde 2005.
Sua base de estudos fica em São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas, que recebeu na semana passada o seminário Manejo do Mundo, reunindo indígenas de diversas etnias para debater questões relevantes para as comunidades do Rio Negro, como as pesquisas envolvendo calendários próprios. A cultura de dividir os períodos do ano de acordo com as mudanças de constelações é passada de geração a geração, mas apenas nos últimos anos ganhou status de objeto de pesquisa, segundo Cabalzar.
Calendário indígena considera fenômenos naturais. Círculo central considera rituais, e os outros dois organizam os períodos de acordo com a agricultura e a caça e a pesca. (Foto: Acervo ISA / Divulgação)
Por meio do trabalho de voluntários, chamados de agentes indígenas de manejo ambiental, os calendários das tribos vão, aos poucos, tomando forma no papel.
A maior parte dos calendários é representado por círculos que consideram ciclos naturais como a agricultura, as cheias dos rios e as chuvas. Mas a variação mais importante é a mudança de constelação. A primeira delas, nas comunidades próximas ao Equador, seria a de Jararaca.
Começo do ano
O começo do ano seria correspondente ao período de enchente durante a constelação de Jararaca, que equivale aos meses de novembro e dezembro do calendário gregoriano. Mas as datas não são fixas e o calendário pode ser mudado se a cheia adiantar ou atrasar, por exemplo, o que torna mais complexa a medição do tempo nos sistemas indígenas. "Eles podem variar bastante de acordo com o povos", diz Cabalzar. "Outras tribos na Amazônia também desenvolvem seus próprios calendários. Só no Rio Negro existem 28 comunidades diferentes, considerando a Colômbia, estudando isso."
Reunindo povos tukano, desana, miriti-tapuia, yohopda e hopda, a Associação das Comunidades Indígenas do Médio Tiquié (Acimet) já desenvolve estudos sobre seus calendários há alguns anos e apresentou um exemplo de desenho na semana passada, em São Gabriel da Cachoeira. Já a Cooperação e Aliança no Noroeste Amazônico (Canoa), que abrange povos tukano orientais, aruaki e macu, estuda o assunto há mais tempo. Um dos calendários desenvolvidos por eles é dividido em três círculos principais. O primeiro deles, no centro, considera os rituais de passagem, como benzimentos. O segundo representa o calendário agrícula, e o teceiro inclui períodos de pesca, caça de animais e coleta de insetos
via Portal Amazônia
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