Como Jundiaí pode influenciar na conservação da Floresta Amazônica.
Atualmente a conservação da Floresta Amazônica é grande preocupação dos brasileiros e da comunidade internacional. Além do grande valor da biodiversidade, o que começa a ser reconhecido, outros aspectos da floresta já estão em maior evidência para o grande público, como sua importância frente às mudanças climáticas e sua importância para as chuvas do continente sul americano.
A Floresta Amazônica se configura como gigantesco reservatório de carbono, elemento que constitui a biomassa da floresta. Esse carbono, se removido e/ou queimado por desmatamento, retornará à atmosfera e, dessa forma, aumentará a concentração de gases causadores do efeito estufa, intensificando os efeitos do aquecimento global. O Brasil é o 5º maior emissor de gases do efeito estufa, sendo 75% dessas emissões resultantes do desmatamento, de acordo com o Primeiro Inventário de Emissões de Gases Causadores do Efeito Estufa realizado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.
Parte das chuvas do centro sul do país provém da região Amazônica. O vento ‘jato de baixa altitude sul-americano’ (LLJ) atravessa a Amazônia de leste para oeste e é desviado pelos Andes, levando o vapor d’água na direção sul e depois para leste para a bacia do rio da Prata, de acordo com estudos de Philip Fearnside. O volume de água exportado anualmente pela Amazônia é de 3,4 trilhões de metros cúbicos ou 52% da vazão na foz do rio.
como o mercado influencia o desmatamento
Apesar da importância incontestável da Floresta Amazônica e dos esforços governamentais, o desmatamento, em 2008, foi de 12.911 Km². O governo baseia sua estratégia de combate ao desmatamento em: expansão de áreas protegidas, combate aos infratores e ataque à corrupção. Essas estratégias, no entanto, ainda permitem que o desmatamento seja influenciado por conjunturas de mercado como taxas de câmbio e preços de commodities. Por exemplo, as reduções das taxas de desmatamento de 2005 e 2006 parecem estar associadas principalmente aos baixos preços internacionais de commodities e não à fiscalização mais eficiente. Em 2007, com a elevação dos preços de commodities, a taxa de desmatamento também voltou a subir. Diante da perspectiva da crescente demanda mundial por produtos agropecuários, é pouco provável que tal tendência possa ser revertida meramente por meio dos instrumentos existentes da política ambiental.
O desmatamento avança a partir do sul do Amazonas e de Rondônia e leste do Pará e do Maranhão, o chamado arco do desmatamento, impulsionado pela pecuária e criação de grãos, influenciadas pela exploração madeireira ilegal. Sem adoção de Manejo Florestal, a exploração madeireira é migratória, estabelece-se em um local até exaurir os recursos e, em seguida, muda-se para outro.
O setor madeireiro da Amazônia é paradoxal. Se, por um lado, é economicamente competitivo e importante gerador de oportunidades de emprego e renda para parcela significativa da população amazônica, por outro, o caráter migratório da indústria madeireira e o baixo índice de adoção de Manejo Florestal revelam alguns dos graves problemas do setor madeireiro, de acordo com estudos do IMAZON.
o estado de São Paulo consome de 15% a 20% da madeira amazônica
A Amazônia Legal é a segunda maior produtora de madeira tropical do mundo, superada apenas pela Indonésia. Há a falsa impressão no Brasil de que a madeira Amazônica é destinada ao mercado internacional. De acordo com estudo do IMAZON, o mercado brasileiro absorve 64% da madeira processada na Amazônia e somente o estado de São Paulo consome de 15% a 20%. Os outros estados do Sul e Sudeste do país consomem conjuntamente 27%, o Nordeste 7%, o Centro-Oeste consome 4% da madeira e 11% são consumidos na própria Amazônia Legal.
Da exploração de floresta nativa no Brasil, apenas em 33% é empregado o Manejo Florestal. Dessa porcentagem, somente em 5% foram utilizadas todas as técnicas e o planejamento adequado e apenas 2% da área manejada é certificada. Embora o manejo seja economicamente viável, ainda existem barreiras para a sua aplicação em ampla escala na Região Amazônica. Dentre elas, a maior rentabilidade da agropecuária, no curto prazo, em comparação com o manejo e a falta de controle eficiente da exploração de madeira sem manejo, o que a torna lucrativa no curto prazo. A exploração ilegal de madeira aumenta a oferta da matéria-prima e diminui significativamente o seu preço. Dessa forma, um empresário que necessita arcar com todas as despesas de um empreendimento de alto custo é obrigado a competir com alguém que explora o mercado madeireiro de forma criminosa, sem qualquer custo trabalhista, de impostos, de compra da terra, de emprego de técnicas de menor impacto, de capacitação dos trabalhadores…
consumo consciente de madeira certificada
Portanto o consumo consciente de matérias-primas é de extrema importância para a conservação da Floresta Amazônica, principalmente pelos consumidores do estado de São Paulo, o que inclui Jundiaí, uma vez que a maior parte da madeira explorada na Amazônia é consumida no estado de São Paulo. Neste ano, viu-se o embargo de compra de carne bovina proveniente de áreas de desmatamento ilegal por redes de supermercado. O fato alertou para a necessidade de mudança de comportamento do consumidor. Não se trata de desestimular o consumo de madeira, economicamente importante para a Região Amazônica, mas exigir a certificação de sua procedência. O consumo consciente da madeira pode dar-se quando o comprador exige a apresentação do DOF (Documento de Origem Florestal) ou ao preferir comprar produtos certificados, que tragam o selo FSC (Forest Stewardship Council) ou certificação socioparticipativa. O DOF é documento exigido pela legislação brasileira para transporte de produtos florestais, atesta que a madeira é proveniente de áreas de manejo florestal ou de desmatamento legalizado. O selo FSC atesta a qualidade das atividades de manejo florestal, o cumprimento de legislação trabalhista e ambiental, além de menor impacto às comunidades do entorno. Uma vez que o maior volume de madeira vendido para São Paulo é utilizado na construção, tais certificações devem ser exigidas tanto pela sociedade civil quanto pelos governos em suas obras públicas.
Assim podem ser privilegiados aqueles que deveriam ser os únicos a produzir madeira tropical, os que manejam e não os que exploram a Floresta Amazônica.
para saber mais acesse:
Primeiro Inventário de Emissões de Gases causadores do Efeito Estufa: http://www.mct.gov.br/
A água de São Paulo e a Floresta Amazônica: http://www.scribd.com/doc/3804448/CIENCIA-HOJE-vol-34-n-203-A-Agua-de-Sao-Paulo-e-a-Floresta-Amazonica
Certificação FSC: http://www.fsc.org.br/
Certificação Socioparticipativa: http://www.rts.org.br/publicacoes/certificacao-participativa
IMAZON: http://www.imazon.org.br/novo2008/index.php?
IDESAM: www.idesam.org.br
TEXTO: André Luiz Menezes Vianna, Engenheiro Florestal, mestrando em Ciências de Florestas Tropicais – INPA – Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas.
por Bagre em 28/11/09
A madeira amazônica em SP | REVISTA BAGRE
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