Atendimentos de saúde e campanhas passam a ser feitas em português e em guarani em Tacuru, segunda cidade do País a adotar medida.
Com apenas 9.554 habitantes, segundo o IBGE, o município de Tacuru  (MS), próximo à fronteira com o Paraguai, adotou o guarani como  linguagem co-oficial por meio de decreto assinado pelo prefeito Cláudio  Rocha Barcelos (PR) no último dia 24. Tacuru passa a ser, assim, o  segundo município brasileiro a tomar medida semelhante para disseminação  da linguagem.
O primeiro foi São Gabriel da Cachoeira, cidade do extremo norte do  Amazonas. Além do português, São Gabriel tem três línguas indígenas  oficiais. Em Paranhos, também em Mato Grosso do Sul, tramita um projeto  de lei semelhante ao aprovado em Tacuru, que propõe a oficialização do  idioma guarani como segunda língua do município.
Nas contas do prefeito de Tacuru, um terço dos habitantes do  município é formada por indígenas – a maioria guarani/ kaiowá,  recentemente retratados no filme “Terra Vermelha”, do diretor chileno  Marcos Bechis.
Com o decreto, serviços públicos básicos na área da saúde, campanhas  de prevenção de doenças e tratamentos passam a ser realizados em guarani  e em português em Tacuru. Segundo o prefeito, a maior dificuldade da  população indígena é ainda durante o atendimento hospitalar. Para isso, a  prefeitura passou a disponibilizar uma intérprete indígena para  acompanhar os atendimentos em um hospital municipal. “Temos muitos  nativos que só falam guarani. Muitos nem falam outra língua e acabam  tendo dificuldade no diálogo”, explica.
Pelo decreto, o município terá incentivos também ao ensino da  linguagem indígena nas escolas e meios de comunicação. Segundo o  decreto, “nenhuma pessoa poderá ser discriminada em razão da língua  co-oficial que manifeste”. A lei municipal prevê ainda que as variedades  do guarani, como o kaiowá, o ñandeva e o mbya, sejam respeitadas.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a medida vai ao  encontro da posição defendida pela instituição, segundo a qual o  português não pode ser considerado a única língua utilizada no País. O  Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, do qual o Brasil é  signatário, determina que nos Estados em que haja minorias étnicas ou  linguísticas não pode haver privação do uso da própria língua entre  determinados grupos.
Além disso, lembra o MPF, uma convenção da Organização Internacional  do Trabalho (OIT) determina que, durante procedimentos legais, a  linguagem desses povos devem ser adotadas, ainda que por meio de  intérpretes, durante os processos para que os integrantes das minorias  possam compreender e se fazer compreender.
A não-aceitação do uso da linguagem por parte das minorias já causou  transtornos para essas populações, inclusive durante processos  judiciais. Em 4 de maio deste ano, representantes do MPF abandonaram o  plenário do júri dos acusados de matar a pauladas um cacique guarani, em  Juti (MS), porque a juíza do caso acatou pedido da defesa para negar  que os indígenas se expressassem em guarani, mesmo com a ajuda de  intérprete. Um novo júri foi marcado para fevereiro de 2011.
via Último segundo 
 
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