Viagens: Especial Amazónia


E S P E C I A L A M A Z Ó N I A Setembro de 2004

Explorar a imensa floresta amazónica é descobrir um mundo de formas, aromas, cores e sons exóticos. Ao longo dos rios ou no coração das matas, a multiplicidade de plantas, árvores e animais surpreende mesmo os viajantes mais experientes.




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iversidade é, sem dúvida, a palavra que melhor caracteriza a amazónia. De região para região, os diversos ecossistemas oferecem ao visitante um espectáculo único – paisagens repletas de árvores gigantescas opõem-se a pequenos lagos e praias fluviais de areias brancas e águas transparentes.

O exotismo de alguns animais impressiona os mais descrentes, que pensam só ser possível encontrar tais formas e cores em filmes de ficção científica. Com as suas 2500 espécies de peixes, 50 000 plantas superiores, 950 espécies de pássaros e um incalculável número de insectos, a Amazónia alberga um décimo das espécies vivas do planeta. Tal é a grandeza deste universo verde, onde os investigadores continuam a descobrir novos animais.

Terra de grandes contrastes, a floresta vive dividida entre o clima seco e as chuvas intensas. Durante a época das chuvas – não podemos esquecer que esta é a região do planeta com o nível mais elevado de pluviosidade – as ilhas fluviais ficam totalmente isoladas, sendo apenas visitadas por pássaros, répteis e algumas espécies de tartarugas.

Fonte de estudo para milhares de cientistas e curiosos, o “pulmão do

Raros são os encontros dos turistas com a lendária onça pintada, que prefere habitar as zonas menos povoadas da floresta.
Mais hospitaleiros e comunicativos, os macacos da região convivem tranquilamente com as populações indígenas. Plantas e flores multicoloridas embelezam a vasta paisagem tropical
mundo” inspira diversos grupos de ecologistas que procuram defender a floresta e as suas espécies animais e vegetais em vias de extinção. Os macacos uacari brancos e os pequenos saguins-de-coleira ou as árvores sumaúmas, as lianas e as castanhas-do-pará são apenas alguns exemplares da vida da Amazónia que podem desaparecer em poucos anos.


Flora
A Bacia Amazónica surgiu de uma sequência de fenómenos
geológicos, há mais de 420 milhões de anos, quando a América do Sul ainda se encontrava unida a África. A separação e a elevação dos Andes inverteram a corrente dos grandes lagos, dando assim origem ao rio Amazonas. Hoje, temperaturas constantes e chuvas intensas favorecem a flora amazónica, criando uma biodiversidade incrível.

Ao percorrer os milhares de quilómetros da densa selva encontramos paisagens diversas que albergam uma enorme de variedade de espécies de árvores e plantas.

As florestas de terra firme ocupam terras não inundáveis. As árvores
de grande porte e copa compacta caracterizam esta paisagem onde podem existir entre 140 a 280 espécies arbóreas por hectare. Caucho, castanha-do-pará, sapucaia, maçaran-duba, acapu, cedro,
mogno, angelim-pedra, paxiúba (palmeira) e figueira são algumas das espécies mais repre-sentativas destas paragens.

Embora com menor número de espécies vegetais por hectare – cerca de 100 –, a floresta de várzea constitui um dos mais importantes ecossistemas da Amazónia. A constante entrada e saída das águas fluviais dos seus terrenos favorecem o aparecimento de algumas árvores que auxiliam a fixação do oxigénio. Várias culturas podem crescer associadas à várzea, como milho, cana-de-açúcar, arroz, cupuaçu, limão, laranja, biribá, graviola, banana e cacau. Tirando o máximo proveito do que a natureza lhes oferece, os habitantes da várzea utilizam as palmeiras – folhas, frutos, sementes e raízes, como utensílios para as mais variadas funções.

Mais perto do oceano encontra-se o ecossistema restinga, caracterizado pelas suas longas planícies arenosas. A sua vegetação varia à medida que avançamos pelo litoral. As cerca de 250 espécies vegetais, distribuídas por planícies e dunas, são elementos fundamentais para o equilíbrio desta paisagem.

Os campos ou savanas amazónicas surgem tanto em terra firme como nas várzeas. Os primeiros distribuem-se principalmente em Amapá, Cachimbo, Cururu, Madeira, Roraima, Trombetas, Paru, Marajó e Carajás. Os campos de várzea aparecem no Baixo Amazonas, no rio Araguari, na boca do rio Oiapoque e nas ilhas Caviana e Mexiana. Em geral, os campos são dominados por gramíneas e ciperáceas. Pela característica da sua vegetação, estes ecossistemas são frequentemente avassalados por incêndios.



Vitória-régia, símbolo da Amazónia
Conhecida como a “rainha dos lagos”, a vitória-régia (vitoria regia lindl) é uma planta de águas rasas e calmas. A sua folha circular abre-se como uma bandeja verde e chega a medir 1,8 metros de diâmetro, suportando facilmente o peso de uma criança. O seu nome foi dado por um biólogo inglês de forma a homenagear a Rainha Vitória. Uma das principais características desta planta é a sua mudança de cor. No primeiro dia em que abre, os botões são brancos, adquirindo um tom rosado no dia seguinte. O bolbo e as sementes (milho de água) são muito apreciadas pelos índios, que incluem esta planta na sua dieta alimentar. No período de seca, a vitória-régia praticamente desaparece, voltando a florescer novamente na época das chuvas. No Parque Ecológico do Janauary, próximo de Manaus, existe um lago onde os turistas podem observar esta preciosidade da natureza.
Finalmente, os manguezais desenvolvem-se sobre sedimentos lodosos, sendo constituídos por espécies adaptadas ao baixo teor de oxigénio e às variações de salinidade decorrentes da acção das marés. A vegetação caracteriza-se pela presença de poucas espécies lenhosas. Os manguezais servem como local de reprodução e de alimentação para várias espécies de animais marinhos e de água doce, dos quais se destacam o caranguejo e as ostras, com grande importância para a economia local. No Pará, ocorrem os géneros rhizophora, avicennia, laguncularia e conocarpus num total de cinco espécies, entre as quais se destacam o mangueiro, a siriubeira e o tinteiro.

Mundo animal

Os milhares de espécies que habitam a Amazónia fazem desta o maior jardim zoológico aberto do mundo. Aves, répteis, mamíferos, peixes e insectos das mais variadas espécies inundam de cores e sons a imensa floresta, minuto a minuto, fazendo com que esta nunca adormeça.

A anta é o maior mamífero da Amazónia, chegando a atingir mais de dois metros e 250 quilos. Embora sendo um animal terrestre, prefere viver perto da água, que lhe serve de refúgio em caso de ameaça. A sua gestação dura mais de um ano e as crias nascem com apenas seis ou sete quilos. Muito popular entre os caçadores, a anta esconde-se geralmente no meio do mato, onde dorme durante o dia e procura comida durante a noite. Apesar de o seu aspecto físico não o denunciar, na realidade, este animal é um parente próximo do cavalo e do rinoceronte.

As cores vivas do anacã tornam este o papagaio mais exuberante da Amazónia. Vive na floresta de terra firme, onde viaja em bandos que variam de cinco a mais de uma dúzia de elementos. O nome surge da sua vocalização, pois ao voar grita “anacã, “anacã”, chamando os seus companheiros para manter a integridade do bando.

Impressionante pela envergadura das suas asas e pela força das suas patas, o gavião real é a águia mais poderosa da Terra. Entre as suas presas favoritas encontram-se as preguiças e os macacos.

Chegando a atingir mais de um metro de comprimento e 65 quilos de peso, a capivara é o maior roedor do mundo. Pelas suas características, é utilizada, no Pará, como uma fonte alternativa de proteína animal. Presa preferida da onça-pitada, este roedor defende-se mergulhando na água, ficando, assim, a salvo do seu maior inimigo.

Muitas são as lendas e histórias protagonizadas por este grande predador, a onça pintada. Geralmente habita nas zonas menos povoadas da floresta, o que torna difícil a sua observação. O macho pode medir até 2,5 metros de cumprimento e pesar 160 quilos. A onça é um animal muito solitário e só procura a fêmea na época de acasalamento. Independentes e autónomas, as crias permanecem junto da mãe apenas durante os dois primeiros anos de vida.

O macaco-de-cheiro é uma das espécies de primatas mais comuns da várzea. Anda em grupos bastante numerosos, que podem chegar a centenas de indivíduos, especialmente na época da seca. Alimenta-se à base de insectos, mas também come frutos e a seiva das árvores.

Muito procurada pela sua pele, a ariranha é uma das maiores lontras do mundo, chegando a medir quase dois metros e pesar 34 quilos. A caça ilegal reduziu em muito esta população, encontrando-se hoje em vias de extinção. Pescadora exímia, a ariranha prefere os peixes mais comuns, também eles capturados pelos pescadores da região.

O boto cor-de-rosa é um dos mamíferos aquáticos mais característicos da Amazónia. Fisicamente semelhante aos golfinhos, cresce até 2,5 metros de comprimento e pode pesar 90 quilos. Este animal da família dos cetáceos vive especialmente em águas rasas, onde procura peixes de couro tais como o tamuatá e o bagre. Também não dispensa tartarugas jovens, recém-saídas do ovo. A protuberância na cabeça desempenha as funções de sonar, ou seja,
Com as suas 2500 espécies de peixes, 50 000 plantas superiores, 950 espécies de pássaros e um incalculável número de insectos, a Amazónia alberga um décimo das espécies vivas do planeta.
A variedade de plantas e animais é de tal modo grandiosa que ainda hoje os investigadores locais descobrem novas espécies
para receber os reflexos dos sons. Desta forma consegue nadar na floresta inundada na época da cheia e mover-se sem problemas nas águas turvas da região. Os filhotes de boto nascem após 11 a 12 meses de gestação e permanecem dois anos com a mãe.

Apreciador das águas calmas dos rios e lagos, o peixe-boi é um dócil mamífero aquático. O seu porte imponente – cerca de 2,5 metros de comprimento – não o protege dos caçadores da zona que o perseguem insistentemente, sendo considerada uma espécie em vias de extinção. Este simpático animal come principalmente vegetação aquática, sendo a cabomba o seu alimento predilecto.

O jacaré-açu é o maior da Amazónia. Com mais de cinco metros de comprimento, esta espécie é a única que representa perigo para os seres humanos. Os moradores da região não perdem uma oportunidade de o caçar, não só para se protegerem, mas porque a sua carne é muito apreciada. Para além do jacaré-açu, existem mais três espécies de jacaré no Pará: o jacaré-tinga (caiman crocodilus) e duas espécies de jacaré-anão (paleosuchus).

Com a aparência de uma enguia, o poraquê produz uma descarga eléctrica muito forte, entre 300 e 500 volts. Esta “arma” revela-se essencial para capturar peixes, a sua principal fonte de alimentação. Ao atordoar as presas, evita que estas danifiquem a sua boca, que funciona como uma espécie de pulmão.

Finalmente, a temida anaconda da Amazónia, celebrizada por filmes de terror e ficção, é uma das preciosidades da floresta. Com cerca de 10 metros, a anaconda mata as suas presas por constrição, apertando-as até à morte. Dotada de grande força, é capaz de neutralizar qualquer tentativa de defesa da vítima. Habita geralmente as áreas ribeirinhas, tornando-se, obviamente, um problema para as populações locais


A floresta amazónica é o mundo dos índios. Dos seus frutos, folhas, flores, raízes e cipós tiram os medicamentos para curar os seus enfermos e a matéria-prima para confeccionar os utensílios e os enfeites para as cerimónias. Na mata vivem os animais que lhes servem de alimento e por ela correm as águas que lhes matam a sede e lhes fornecem o peixe

"Protegemos a floresta porque ela faz parte de nossa vida”, conta Pirakumã Yawalapiti. “Estamos perdendo muitos remédios com o desmatamento”, continua. “Na mata nos sentimos bem, respiramos forte, sentimos a sua forte energia. O branco não entende isso.”

Na sua língua, “Pirakumã” significa “Peixe Grande”. Ele pertence ao povo yawalapiti, do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, onde por muitos anos trabalharam os irmãos sertanistas Orlando e Cláudio Villas-Bôas. Este índio também é presidente da Associação Portal do Xingu, organização não-governamental a trabalhar na recuperação das nascentes do rio que dá nome à região. Recentemente, Pirakumã esteve em São Paulo para participar no Encontro de Povos Indígenas, Tradição e Resistência, que fez parte da mostra artística do Fórum Cultural Mundial.

Ao contrário do que se pensa, as nações e etnias de índios existentes no Brasil são diversas e muito peculiares. Originalmente, eles somavam seis milhões de pessoas e falavam 1300 línguas diferentes. Hoje, são apenas cerca de 300 mil, a maior parte deles a viver nas terras da Amazónia, uma região que se estende por 60% do território nacional, atravessando os estados do Acre, do Amapá, do Amazonas, do Maranhão, do Mato Grosso, do Pará, da Roraima, da Rondônia e de Tocantins. Sobreviveram aproximadamente 170 idiomas indígenas e os seus povos somam pouco mais de 200.

E se é verdade que cada um destes povos indígenas tem a sua própria cultura e tradições, alguns dos descendentes dos primeiros habitantes do Brasil já aprenderam a falar Português. Na essência, todos têm a mesma preocupação: proteger as suas terras e o seu povo da invasão branca na tentativa de extrair indiscriminadamente a sua madeira, o ouro e outras riquezas fornecidas pela natureza. O problema é que, algumas vezes, essa luta acaba em conflito e derramamento de sangue.

Tutelados pela Fundação Nacional do Índio (Funai), os povos indígenas da Amazónia vivem em comunidades com pouco mais de 300 habitantes – uma mesma etnia costuma dividir-se entre diversas aldeias. O seu quotidiano é baseado numa política de partilha: produzem, caçam, pescam, festejam e celebram os seus rituais em conjunto. Todos têm os seus caciques, pajés e xamãs – os curandeiros – e respeitam os mais velhos, os depositários dos segredos ancestrais transmitidos aos jovens e às crianças ora em rituais iniciáticos, ora por transmissão oral. São povos em que a voz do homem impera e cabe às mulheres cuidar da roça, da oca e da família, num convívio em que impera a harmonia social.

Muitos dos povos indígenas (tribo dos assurini, em cima) mantêm os seus ritos e tradições ancestrais. Os mais velhos são respeitados e venerados pelas gerações mais jovens. A protecção da floresta, dos seus animais e dos seus espíritos continua a ser a prioridade das tribos índias

Do contacto com os brancos assimilaram novos hábitos como o de cobrir o corpo, ir à escola, usar água canalizada, possuir antena parabólica e rádio para comunicar entre aldeias, andar de barco a motor e recorrer ao posto de saúde para curar doenças como a gripe, o sarampo, a tuberculose, que apareceram depois da chegada do branco e são desconhecidas pelos seus curandeiros.

“Hoje os índios gostam de ter dinheiro apenas para comprar as coisas para seu próprio uso”, conta Megaron Txucarramãe, membro do povo kayapó. “Mas o dinheiro não circula entre os índios nas aldeias”, esclarece igualmente. A dele chama-se Cremoro e situa-se na terra indígena Caporo Jarina, no Norte do estado do Mato Grosso, na fronteira com o Sul do Pará. Sobrinho do lendário cacique e pajé Raoni, é o primeiro administrador regional da Funai em Colíder e coordena a implementação do projecto de colecta e beneficiação da castanha do Pará junto das comunidades kayapó da terra indígena Mekrangnotire. O seu nome, Megaron, foi herdado do avô e significa “Espírito Grande”.

Houve um tempo, nos anos 80, em que uma das aldeias kayapó no Sul do Pará – são diversas, situadas em quatro reservas indígenas – era a mais rica do Brasil, no sentido capitalista. Chegou a movimentar cerca de U$S15 milhões por ano com a venda de mogno e a extracção de 6000 litros anuais de óleo de castanha, então muito utilizada pela empresa de cosméticos naturais The Body Shop. Na época, esses índios ostentavam luxo e riqueza, pelo que surgiram sérios conflitos internos decorrentes da perda dos seus valores espirituais. Foi um duro golpe para esta etnia, cujos líderes tentaram recuperar as suas tradições e corrigir o percurso.

“Na minha aldeia, as lideranças não pensam em vender madeira, ouro ou castanha para ficarem ricas, mas sim para ajudar a comunidade”, garante Megaron. “Para as mulheres terem vestidos e chinelos, e para todos poderem proteger-se com os mosquiteiros,
transportar-se de barco a motor, ter caminhão para carregar palha e madeira”, continua.

“Nós resistimos. Todos os dias, os homens ensinam os meninos a caçar, pescar, confeccionar o seu arco e flecha, a sua borduna, os cocares, enfeites para as festas, e a conhecer as plantas que curam. Nossos ensinamentos dependem dos velhos. As mulheres ensinam as meninas a cuidar da casa, buscar a comida na roça, água no rio”, diz ele. “Nós temos um conhecimento que o branco não entende; diz que é crença de índio, mas não tem interesse de aprender.”

Pelo Estatuto do Índio, a exploração do turismo indígena é proibida. Isto não significa, no entanto, que os turistas não possam contactar os índios brasileiros. É possível fazer pedidos de visita à Funai (consulte o site www.funai.gov.br), que analisa caso a caso com as lideranças da aldeia a ser visitada.

Por exemplo, é habitual a visita às cerimónias do Kuarup, a bonita homenagem aos mortos dos índios do Xingu – são cerca de 4000 a viverem em 36 aldeias. A festa é realizada sempre um ano após a morte de um dos seus membros. O ritual é a representação da lenda da criação e não é para qualquer índio. Para merecer a honraria, é preciso ter sido acompanhado pelo herói-criador, o Mavutsinim. No ano passado, Orlando Villas-Bôas foi homenageado nesta cerimónia repleta de símbolos, cantorias e danças e para a qual os índios pintam os seus corpos. Também o foram os seus irmãos, Cláudio, em 1998, e Álvaro, em 1995.


Tudo sobre os índios
Se quiser saber um pouco mais sobre as culturas e tradições indígenas, participar em colóquios e palestras ou mesmo visitar umas das reservas consulte as moradas aqui indicadas e encontrará os especialistas nesta área:

Studiorimagens – www.studiorimagens.com.br; rosagauditano@uol.com.br; studior@uol.com.br

Tutaquara - Ligar para Benigno Pessoa Marques, administrador da Funai em Altamira e um dos coordenadores do projecto (tel. 00 5593/515-1829).

Fundação Orlando Villas Boas – www.estadao.com.br/villasboas

Fundação Nacional do Índio – www.funai.gov.br
O Xingu é uma área bastante isolada e, portanto, de difícil acesso. A partir de alguma das capitais em seu redor – como Goiânia, em Goiás – toma-se um autocarro para a cidade de Canarana, onde há um posto da Funai. De lá, segue-se de carro fretado até as margens do rio Culuene, a 140 quilómetros a Norte deste município, de onde os índios levam o visitante à sua aldeia num barco a motor. O pagamento é o combustível para a viagem de ida e volta duas vezes.

Numa ilha do rio Xingu, no Oeste do Pará e a 110 quilómetros a Norte de Altamira, existe um pequeno hotel ecológico chamado Tataquara Lodge, integrado no ambiente e com guias locais. É propriedade da AmazonCoop, uma cooperativa formada por 1400 índios e pela Funai, em parceria com a Fundação Body Shop.

A história dessa empresa com os kayapós sofreu algum estremecimento a partir dos anos 90, mas através da fundação ela procura manter projectos sociais na região, como a “farmácia verde”, que fornece 70% dos medicamentos naturais gratuitamente para as comunidades.

O Tataquara tem capacidade para 30 pessoas e as suas construções são rústicas, feitas com palha e cimento, sendo a água recolhida das cachoeiras.

Afinal, neste mundo intranquilo, há muito a aprender com os índios. Davi Yanomami, um dos mais influentes pajés da aldeia Watorik, ao pé da serra do Demini, a “Serra do Vento”, no Amazonas, e chefe do posto indígena local, ensina: “Queremos viver como nascemos. Em paz.”





Visitar as principais cidades brasileiras da Amazónia significa conhecer parte da sua natureza e também os portos que floresceram no início do século XIX com a economia da borracha



Teatro Amazonas
Inaugurado em 1896, grande parte do material utilizado na sua construção foi importado da Europa. As peças de ferro fundido e as telhas de vidro da cúpula foram trazidas de França, e os espelhos, de Itália. Os belos painéis que decoram os tectos do auditório e do salão nobre são da autoria do pintor italiano Domenico de Angelis.
O teatro tem capacidade para 700 pessoas – 450 em camarotes e 250 na plateia.

Manaus e belém constituem as duas principais portas de entrada da vasta floresta amazónica. Importantes portos comerciais e económicos da região Norte do país, estas cidades oferecem uma enorme variedade de programas turísticos que vão da exploração dos rios e da vegetação das suas margens à descoberta dos centros históricos e culturais.

As cidades mais pequenas caracterizam-se pela simpatia e pela hospitalidade dos habitantes, que transformam a mais dura das expedições numa agradável viagem de recreio. Ao longo dos inúmeros afluentes do grande rio Amazonas é possível mergulhar nas águas límpidas e frescas das pequenas praias fluviais, descobrindo em cada areal uma paisagem que jamais se esquecerá.


Manaus, a Paris da Amazónia
Como muitas cidades da Amazónia brasileira, também Manaus deve o seu nome a uma tribo indígena – a dos índios manaós – que habitava aquela região, em 1660, ano em que os portugueses aí chegaram.

No meio de um emaranhado de floresta, a cidade permaneceu completamente isolada, durante mais de 300 anos, até ao início da exploração da borracha, já no século XIX. Nessa época torna-se, então, num dos principais centros comerciais e económicos de todo o mundo. A riqueza gerada pela
extracção da borracha atraiu para a região pessoas vindas de todo o Nordeste em busca de trabalho: por um lado, os seringueiros – trabalhadores que extraem o látex de cauchu das árvores-da-borracha – e por outro, promissores negociantes que viram naquele local uma fonte de riqueza.



O porto de Manaus alberga dezenas de embarcações

No final do século XIX, a abundância gerada pela exportação da borracha atingiu tais proporções que esta cidade perdida no meio da selva foi apelidada, durante algum tempo, como a “pequena Paris da Amazónia”.


Curiosidades
A grande prosperidade de Manaus deveu-se muito a dois homens: Charles Goodyear que, em 1844, descobriu a vulcanização da borracha, e Dunlop que, em 1888, inventou o pneu e iniciou a sua produção.


Torres da igreja da Conceição, em Santarém
Os grandes proprietários, chamados de seringalistas, possuíam fortunas tão avultadas que o povo dizia que mandavam lavar a roupa a Lisboa e só bebiam água de Vichy ou champanhe.

Toda esta opulência é ainda hoje bem visível nos edifícios construídos na época, prédios luxuosos que reproduziam os estilos arquitectónicos em voga na Europa. As senhoras usavam a última moda de Paris e importavam objectos de luxo: cristais venezianos, louças portuguesas e espanholas e mármores italianos para decorar as suas casas. Num enorme contraste, os seringueiros viviam como escravos, entregando aos senhores todo o dinheiro que recebiam pelo seu trabalho em troca de comida e de um local para dormir.

Vista aérea do Mercado de Ver-o-Peso, umas das zonas mais movimentadas de Belém, onde é possível comprar todo o tipo de produtos vindos do coração da floresta

Os tempos de luxo e abundância não duraram muito. De forma engenhosa, o aventureiro inglês Henry Wickham conseguiu comprar, por uma quantia irrisória, 70 000 sementes de Hevea brasiliensis – a preciosa árvore-da-borracha – e fazer chegar a carga a Londres. Poucas semanas depois, as estufas de Kew Gardens, na capital britânica, apresentavam uma enorme produção desta planta. Este foi o ponto de partida para um mercado concorrente que, em pouco tempo, conseguiu arruinar toda a estrutura criada em plena floresta tropical.

Manaus é a capital do estado do Amazonas, albergando mais de dois milhões de habitantes. A riqueza que outrora provinha
Brinquedos fabricados em miolo de miriti, um fruto muito utilizado na gastronomia local
exclusivamente da extracção da borracha é hoje complementada com a indústria turística. Ponto de partida para quem quer explorar a imensa floresta, Manaus possui inúmeros programas organizados para os mais aventureiros. Simultaneamente, hotéis de luxo servem de porto de abrigo aos turistas que querem também conhecer a cidade. No centro, os visitantes podem apreciar o requinte dos edifícios do século XIX, entre os quais o Teatro Amazonas é um verdadeiro ex-libris. Nas diversas lojas do Mercado Municipal encontramos a riqueza do artesanato local e indígena, bem como uma enorme variedade de frutas e peixes vindos da floresta.



Mercado Ver-o-Peso
Uma infinidade de produtos é vendida nas barracas armadas em torno do mercado – peixes, frutas regionais, legumes, ervas e raízes medicinais e aromáticas, condimentos, comidas, bebidas típicas e artesanato. O mercado surgiu no século XVII e continua a ser o principal posto de abastecimento da cidade. As peças que formam o Mercado de Ferro, que faz parte do complexo, foram fabricadas na Inglaterra, no século XIX, e montadas em Belém.
Mas quem se desloca a Manaus tem muito mais para descobrir. Para conhecer os rios da região existem magníficos passeios organizados, como o do “Encontro das Águas”, que transportam os visitantes para a confluência dos rios Solimões e Negro, dois afluentes do Amazonas. A diferente cor das águas de cada um cria um interessante fenómeno de separação, com os dois rios a correr, lado a lado, no mesmo leito, sem se misturarem ao longo de vários quilómetros. É, porém, ao navegar pelos pequenos rios que se embrenham na mata, que o visitante tem verdadeiramente a oportunidade de conhecer a profundeza da floresta.



Círio de Nossa Sra. da Nazaré
Desde 1793 é festejada, em Outubro, a maior festa religiosa do Pará, que junta milhares de pessoas vindas de diversos países. O Círio de Nossa Senhora da Nazaré tem origem numa lenda, segundo a qual, em 1700, o caboclo Plácido José de Souza encontrou, na floresta perto de Belém, uma imagem da Nossa Senhora da Nazaré, padroeira dos pescadores portugueses. Feliz com o achado, levou a imagem para casa e construiu um santuário em sua honra. Porém, misteriosamente, a imagem desapareceu no dia seguinte, vindo a reaparecer no local onde tinha sido encontrada. O “milagre” repetiu-se várias vezes. Intrigado com a situação, o governador mandou que a imagem fosse levada para o seu palácio, ficando sob vigilância. Nem mesmo os guardas conseguiram impedir que na manhã seguinte o altar estivesse vazio. Foi então que os devotos concluíram que Nossa Senhora queria ficar nas margens do Igarapé e lá construíram uma ermida, onde actualmente se encontra a Basílica da Nazaré.

Nesse mesmo ano, o governador da província, Francisco de Souza Coutinho, resolveu fazer uma procissão em homenagem à Santa, mas adoeceu dias antes. Desesperado, prometeu a Nossa Senhora que, se recuperasse, levaria a imagem até a Capela do Palácio. No dia seguinte, a população promoveu o primeiro Círio de Nazaré, que levou a Santa de volta à sua capela, acompanhada de uma grande procissão.

A tradição manteve-se ao longo dos tempos até se dar mais um estranho fenómeno. Oitenta anos depois do primeiro Círio, a baía de Guajará transbordou, impedindo a passagem do cortejo. O carro de bois que transportava a imagem ficou atolado e um dos devotos resolveu passar uma corda à sua volta e puxá-la. Com a força dos fiéis, a carruagem foi retirada e levada até a ermida, o seu destino final. Em 1868, o simbolismo da corda foi oficializado e, hoje, constitui a maior tradição da romaria. Agarrados a ela, os fiéis pagam as suas promessas em troca de milagres.

Terminado o Círio, o ritual segue por mais 15 dias, tempo em que a réplica da imagem fica exposta, para gáudio dos peregrinos.



O simbolismo da corda constitui a maior tradição da romaria do Círio da Nazaré
Por todas estas razões, Manaus é um ponto de visita obrigatório para aqueles que pretendem desvendar os mistérios da mítica Amazónia.



Santarém, Caribe amazónico

Quem parte de Manaus rumo a Belém encontra Santarém, a s
egunda maior cidade do estado do Pará. Também aqui se dá o encontro das águas do Amazonas com um dos seus maiores afluentes, o Tapajós. O nome do rio é inspirado na tribo tapajó, a mais numerosa de toda a Amazónia, e é também aqui que surgem as primeiras cabanas de índios.

Cidade alegre e acolhedora, a teia urbana é totalmente rodeada por uma densa vegetação. A população vive maioritariamente da pesca e da comercialização dos produtos vindos da floresta vendidos no mercado local.

A tranquilidade que se vive em Santarém estende-se pelas
inúmeras praias fluviais que se encontram a poucos quilómetros do centro. Conhecida pelas suas águas límpidas e frescas, a Praia de Alter do Chão é a mais célebre de uma região que muitos apelidam de “Caribe Amazónico”. Na região existe ainda a Reserva Florestal do Palhão e a Floresta Nacional do Tapajós. Juntas formam mais de um milhão de hectares de floresta virgem.

Porto Velho
O caminho-de-ferro Madeira-Mamoré, e mais uma vez a exploração da borracha, estiveram na origem da cidade de Porto Velho. O abrandamento desta exploração teve como consequência a desactivação desta linha e, em 1972, o seu precioso acervo foi transferido para o Museu Ferroviário. Neste espaço pode ficar a conhecer um pouco melhor a história dos seringueiros e da época áurea deste negócio.

Os carris que ainda se encontram no local, com pouco mais de sete quilómetros, são actualmente usados para passeios turísticos. Durante o percurso é possível apreciar as ruínas da Madeira-Mamoré e as suas estações. O trajecto acompanha as curvas do rio Madeira, por dentro da selva, através de trechos repletos de exemplares de árvores centenárias.

Zona de encontro de turistas e nativos, os bares flutuantes do rio Madeira constituem um dos principais atractivos desta localidade. Os mais destemidos podem ainda aventurar-se pelos 18 quilómetros que separam Porto Velho da Cachoeira de Teotónio, conhecida pelas suas agitadas águas.

Belém, porta de entrada para a floresta
Fundada por Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616, à beira do rio Pará, Belém é o principal porto fluvial do Norte do Brasil. Local de defesa estrategicamente situado, a cidade rapidamente se transformou num dos pontos de partida para o interior da Amazónia.

Na época áurea da exploração da borracha, Belém completava o ciclo de exportação, recebendo a mercadoria de Manaus e enviando-a para a América do Norte e para a Europa. Hoje, Belém não perdeu a sua importância como porto fluvial e os produtos vindos das regiões do interior continuam a passar por esta cidade. Cargueiros, e todo o tipo de embarcações de grande porte, navegam pelas água do rio até Iquitos, no Peru sendo, por isso, o Amazonas a via fluvial mais navegável do mundo.

A cidade reúne de forma harmoniosa a cultura e a história do Pará. No centro mantêm-se prédios dos séculos XVII a XIX, como o Teatro da Paz, a recém-restaurada Casa das Onze Janelas, o Forte do Castelo e o conjunto de casarões e igrejas da Cidade Velha. No mercado Ver-o-Peso é comercializado todo o tipo de artigos vindos do coração da floresta. O Museu Emílio Goeldi, conceituado centro de pesquisas, mostra a fauna e a flora amazónicas.

Belém pode ser o início de viagens para as belas praias marítimas do Pará, como Algodoal e Ajuruteua, e também para a Ilha de Marajó. A cidade dispõe de bons hotéis e estruturas de transporte aéreo, rodoviário e fluvial, sendo desta forma um destino turístico muito procurado.

Com mais de um milhão de habitantes, Belém tem todos os inconvenientes de uma metrópole: trânsito, ruído, arranha-céus… No entanto, se nos embrenharmos pelas ruas dos bairros típicos, encontramos outra cidade.



Interior da Casa das Onze Janelas, um dos monumentos a não perder numa visita a Belém

A animada zona das docas, repleta de novos bares e restaurantes

A imagem do interior do Teatro da Paz, ex-libris da cidade, revela-nos um pouco da beleza deste magnífico edifício colonial

Rio Branco, “capital natureza”
Uma das portas de entrada para os caminhos do turismo verde da região amazónica, Rio Branco, capital do estado do Acre, é conhecida por “capital natureza”. A sua forte influência indígena e nordestina conferem-lhe um encanto especial. A mistura de povos, crenças e costumes é visível na arquitectura dos palácios, museus e praças. Este estilo ecléctico pode ser apreciado na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, uma construção de 1959; na Igrejinha de Ferro, capela feita de chapas de ferro; e no Palácio Rio Branco, com colunas jónicas que lembram um templo grego.

Assim como todas as outras cidades da Amazónia, também Rio Branco tem a sua história ligada aos seringais. Na Casa do Seringueiro é descrito todo o processo de extracção do látex. As mais variadas possibilidades de utilização da borracha, que vão de brinquedos a sapatos e bolsas, estão expostas no Museu da Borracha, que também abriga fósseis pré-históricos.




Percorrer o Rio Negro, em toda a sua extensão, é mais do que uma simples aventura. É viver um turbilhão de sentimentos e de emoções que nunca mais se esquecem


Foi com grande entusiasmo que embarcámos nas águas de um dos mais importantes e maiores tributários do Amazonas: o Rio Negro. Navegar pelo Negro é uma lição de cidadania e universalidade.

Partimos do Porto Davi numa embarcação regional, toda de madeira. O comandante Kleber Bechara adaptou e projectou a sua nave para atender às necessidades de uma empresa de viagens que tem como objectivo promover o máximo de proximidade e intimidade nos destinos por ela concebidos, com o conforto e a segurança dos turistas como prioridade. De Manaus a Barcelos, a expedição tinha várias finalidades: primeiro explorar os dois maiores arquipélagos fluviais de água doce do planeta, Anavilhanas – próximo de Manaus – e, sobretudo, o desconhecido Mariuá – no médio Rio Negro, no percurso até Barcelos –, e, em seguida, visitar as comunidades ribeirinhas e entrar em contacto com a biodiversidade da região.

Foram mais de 500 km percorridos em 11 dias de navegação com muito espaço para respirar e explorar São Tomé, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Novo Airão, Anavilhanas, Parque Nacional do Jaú, Rio Carabinani, Boca do Rio Branco, Moura, Vila de Carvoeiro, Arquipélago de Mariuá e Barcelos.

Estávamos no início do ciclo das águas, época em que as muitas ilhas, com as suas areias brancas emersas, se encarregaram de dar à expedição uma aura de pioneirismo.

O Negro nasce na região pré-andina da Colômbia e corre ao encontro dos Solimões para formar o Rio Amazonas. Os seus 1700 km de curso, como disse o comandante Kleber, poderiam ser explicados como um “caleidoscópio sem lógica”. É essa a sensação de navegar por estas águas, tudo muda, a paisagem e até os nossos humores, como num labirinto continuamente em transformação.

No percurso, o GPS, o sonar e o radar foram bons aliados, porém algumas vezes insuficientes para desvendar os mistérios de um rio que tem uma trajectória sinuosa e que não nos deixa partir antes da hora ou nos convida a fincar raízes em cada lugar.

Acima de Carvoeiro, no lago Acajutuba, navegámos durante todo o dia à procura de uma saída. Alturas houve em que esta parecia estar próximo da praia, mas a realidade era bem diferente. Por vezes, parecia contornar a grande boca da baía, mas não. O barco encalhava em bancos de areia. A praia acabara de submergir com a maré-alta. Aqui e ali, surgiam alguns picos de pedras graníticas, icebergues amazónicos em meio ao rio-oceano, forçando-nos a desviar o curso. Kleber impacientava-se entre os mapas e os instrumentos à disposição. A tripulação mergulhava para retirar o barco dos encalhes e para tactear a profundeza dos locais com uma lancha rápida.

Eu espiava, solidária, a batalha. Em determinado momento, a lancha partiu, riscando o majestoso espelho de água, que se alterou momentaneamente em pequenas ondas, para logo após retornar à serenidade. A lancha regressou um tempo depois, com um novo tripulante, Joaquim Ferreira, piabeiro, pescador de piaba (peixe pequeno), nascido nas redondezas e conhecedor de cada pingo daquelas águas.



Ao longo dos 500 quilómetros percorridos no leito do Rio Negro pode ter oportunidade de conhecer um dos animais mais acarinhados da floresta: o boto-cor-de-rosa, protagonista de mitos e lendas locais.
“Seu” Joaquim subiu à cabina. Um tempo depois, Kleber veio até à proa do barco, sentou-se ao meu lado e deu um longo suspiro de alívio. Disse-me que agora sim, íamos achar o canal. Pensei: “Para quê a pressa?”, mas não traduzi o pensamento em palavras. Respeito a obrigação de quem tem um diário de bordo com dias contados. Perguntei-lhe apenas: “Está preocupado?” “Um pouco”, respondeu. Continuei: “Não deveria, porque nós, seus passageiros, não estamos. Estamos muito bem, obrigado. Felizes da vida!”

Ele abriu-se em sorrisos e gritou da quilha da proa para o imediato no posto da cabina do comando: “Mike, como é mesmo aquela música do fio da terra? Banda Xaxado: terra não, terra não, isto vai dar confusão!”

“Seu” Joaquim navegou por mais uma hora, até dizer que por ali, àquela época do ano, não se ia achar o caminho. Regressou à rota inicial. Só à noite encontrámos a saída, ou seja, o canal.



O percurso sinuoso obriga a longas paragens, durante as quais se pode desfrutar da paisagem com toda a tranquilidade.
O “Encontro das Águas” é, sem dúvida, uma visita obrigatória´
Nos seus relatos de viagem por estas paragens, que datam de 1853, Alfred Russel Wallace referiu desta maneira as dificuldades da sua navegação: “Carvoeiro é um labirinto de lagos e de consoles em que mesmo os pilotos experientes ficam, às vezes, ficam perdidos.”
À espera dos botos
O Negro é uma trajectória que eterniza o tempo. As suas águas são matizadas entre o ocre-âmbar e os tons de ferrugem. O translúcido é o resultado da luz que atravessa dois metros e meio da profundidade do rio, quase sem resistências, o que faz com que não reluza. As rochas das regiões da nascente, por serem muito antigas – pré-andinas –, produzem poucos sedimentos, o que reduz, dramaticamente, a fartura de vida nas águas. Tal facto inibiu o plantio e desmotivou a ocupação da área, mas garantiu a sua preservação. A acidez afasta as criaturas aladas, populares nas águas barrentas. Reduzir a fartura não significa ausência, mas selecção. As espécies que habitam o Negro são sofisticadas, adaptadas ao meio em questão. Peixe não falta.

Em muitos momentos, sentíamos que estávamos em terras selvagens e desabitadas, diante de gaivotas perturbadas por uma presença não anunciada. Como se já não bastasse o rasto artístico dos jacarés ao redor, as aves viam-se agora ameaçadas por estes estrangeiros. Em desespero, piavam ameaçadoras e faziam voos rasteiros e acrobatas, até que se sossegaram. A nossa presa era outra: o espectáculo do pôr-do-sol, azul que se faz rosado, rosa que se faz arroxeado, lilás que se expande em alaranjado, laranja que se faz dourado, lua que era quase cheia.

Jantámos na Praia Alta, à luz da fogueira. Cardápio: caldo de piranha, batatas, cebolas assadas e “marvada” com cupuaçu. O caldo de piranha, de acordo com Hilda, cozinheira e bruxa dos sabores da expedição, é um afrodisíaco... “Hilda” – exclamei – “que injustiça! Para quê atiçar os desejos? Já não bastam a lua cheia e a água por todo o lado?” Mas ela tinha a resposta pronta: “Mal num faz, né? Depois quem sabe aparece um belo dum boto? Tem coisa melhor?”

Histórias de boto povoam o imaginário de todos. Diz-se que este golfinho da Amazónia é um encantador de mulheres que, por ele seduzidas, se deixam levar. Amados ou odiados, os botos são um rival sem paralelo, belos, vigorosos, excelentes bailarinos e nadadores elegantes. Anatomicamente, têm a sua genitália semelhante às do homem e da mulher. Daí as possíveis origens de relatos a respeito de relações sexuais entre homens e fêmeas do boto e de mulheres com o boto macho. Daí, também, o corrente (no Brasil) “filho de boto” para designar os filhos sem pai.

Os órgãos sexuais dos botos, diz a lenda, transformam-se em poderosos amuletos nas mãos de hábeis feiticeiros, e daí que sejam caçados. A tripulação, constituída por “seu” Manoel, Mike e Ivan, estava de acordo em pelo menos duas questões: estas histórias são mesmo verdadeiras e com boto é melhor não mexer.

Ecoturismo e virtualidade
De noite, à entrada do Arquipélago de Anavilhanas (80 km a Oeste de Manaus), ancorámos precisamente no lago dos botos, em frente ao posto do Ibama. Não foi possível dormir. Madrugada dentro, um grupo de botos cercou o barco. A princípio, não consegui discernir o estranho ruído de uma respiração acentuada, até que a barulheira se elevou e ocupou tudo. Neste ínterim, a luz da lua revelou a silhueta de um grupo que saltava em acrobacias à procura de alimento e prazeres.

Ficámos gratos pelos cuidados de Marilda, proprietária do melhor restaurante de Novo Airão (que saudades do pirão...) e protectora de vinte botos cor-de-rosa que visitam, diariamente, os fundos do seu restaurante flutuante.

O Novo Airão, a propósito, é um exemplo dos bons projectos sociais, culturais e ambientais da Amazónia. O programa Funbio consciencializa a comunidade para a preservação do património natural e para uma melhor gestão do manejo das matérias-primas locais. É também responsável pela formação de monitores de ecoturismo, turismo receptivo, acomodações e pousadas (programampe@funbio.org.br e www.mpefunbio.org.br).


A população cabocla, algumas vezes mal saída das aldeias indígenas, mostra-se sempre disponível para conversar com os forasteiros, contando-lhes histórias do quotidiano.
Esta é a melhor forma de desvendar os mistérios da grande floresta. Navegar pelo Negro é uma lição de cidadania e universalidade
A noite nunca foi silenciosa e muito menos solitária; a sonoplastia é que variava. Durante o dia, as aves, com o som estridente cortavam os ares no ballet das araras-azuis, dos papagaios e das libélulas. Ao fim da tarde, surgia a dança dos bacuraus. A noite era dos guaribas, dos botos e dos jacarés.

Navegámos pelo Negro e por alguns dos seus afluentes: o Branco, o Jaú e o Carabinani. Na lancha, passámos por paranás e igarapés. No igarapé Preto fizemos a viagem das imagens. As águas reproduziam na profundidade o que se vê à superfície. De tal forma é a miragem que se pode atingir um ângulo totalmente novo de visão. Virtual, mas sem computador! Pudemos contemplar ainda a exposição do acervo de arte permanente do Rio Negro. A vegetação das margens pela acção das inundações paira sobre as águas formando jardins naturais de ikebanas.


Gente bonita
Os dias não se resumiam apenas a navegar; descíamos e explorávamos comunidades, sítios, pequenas vilas e até cidades. A população cabocla, algumas vezes mal saída das aldeias indígenas, produzia continuamente a mandioca, pescava o peixe de cada refeição e vendia-nos fruta.

Em São Tomé, comunidade que abriga vinte famílias, uma pousada está em fase de finalização. Dona Nair espera, em breve, receber os turistas. Já tem uma lojinha de artesanato que expõe as habilidades dos seus membros. Parámos ali por um bom bocado, porque “o banzeiro tava muito mexido, deixou entrar muita água no porão, e aí molhou o revés, entrou óleo no Kater e o motor desengatou, então, o tubo de lubrificação do revés, que quebrou.” Explicações da tripulação.

Revés é a caixa de marcha marítima (reversor). Já banzeiro é o vento, que ganha uma força imensa nas baías do Negro. Foi preciso buscar “seu” Raimundo Maia da Silva, morador de Tiririca, reconhecido profissional, para diagnosticar o que se deveria consertar.

Como a reparação ia demorar, seguimos de lancha até à comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Que lugar agradável e que gente bonita! Ficam duas dicas: o artesanato do Leo, um dos melhores acervos de artigos indígenas do trajecto – máscaras e cerâmicas belíssimas – e a visita a um seringalzeiro.

No percurso, demos com o “sítio” Carabinani, no Parque Nacional do Jaú, onde fomos acolhidos pela família Catanheide, representada pela Marcela. Maria de Jesus, Da Liena, Rosa Fátima e Francisca deram-nos as boas vindas. Ao fim do dia foi difícil a despedida, devido ao calor humano e também à cerveja estupidamente gelada do sargento Leão.

No Carvoeiro, um lugar que está em vias de desaparecer do mapa, “seu” Pedro confidenciou-me o dilema da vila: “Um tempo já foi grande, mas agora a gente daqui foi pra Barcelos e Manaus, o comércio é fraco, a gente mal tem com quem conversar. Toda moça aqui já é casada ou está pra casar. Carvoeiro foi esvaziando, esvaziando, não vê aquelas casas vazias?” – aponta uma – “Carvoeiro só sai do lugar na festa de Santo Alberto. Vocês vão ficar pra missa?” Não ficámos, mas jogámos três partidas na quadra de vólei. Os carvoeiros deixaram-nos perder com alguma dignidade.

No 11º dia de navegação, amanhecemos a 30 km do nosso destino final: Barcelos. No entanto, o arquipélago ainda nos reservava cenas excepcionais: praias de areia fina e branca a perder de vista. Ilha do Barroso, Pacacanga, Dulumina, Paraná do Maxipieda.


Como ir
Em www.mundus.com.br pode descobrir uma infinidade de propostas de viagens e ideias para quem gosta de explorar lugares exóticos. A Mundus Travel é uma operadora de turismo brasileira, especializada em expedições pela Amazónia, tendo sempre em consideração a valorização do ambiente, a educação ambiental e as manifestações culturais. Nada melhor do que contar com a experiência de profissionais para descobrir os segredos da floresta. Numa expedição de 15 dias pelas profundezas da selva, a Mundus leva-o a explorar a Amazónia de Manaus a Barcelos, percorrendo os lugares mais emblemáticos, incluindo o Parque Nacional do Jaú e Mariuá. Ao longo do rio Negro é possível desfrutar o melhor da floresta.

Contactos Mundus: R. Rocha, 425, 4º andar - São Paulo - SP - 01330-000; Telefone: (5511) 289 9786 - 289-3675; Fax: (5511) 3262 4015; E-mail: mundus@mundus.com.br
A trinta minutos de Barcelos, Kleber pediu a Joaquim Ferreira que descesse a lancha. Sabíamos que este dia – o último da nossa aventura – chegaria mas, aproximada a hora, deu-nos um aperto no peito... Tudo foi cuidadosamente planeado para conhecermos a cidade de Barcelos e assistirmos ao anoitecer nas escadarias da sua igreja. Visivelmente alterados, desembarcámos.

Um bom forró, as frutas do Sítio Santo Alberto, Yuri – uma espécie de relações públicas de Barcelos –, o projecto Piaba, a comunidade de Piloto, as praias na margem direita do rio, a estrada dos Caués e suas pontes inusitadas. Tivemos tempo para vermos a vida passar!

O projecto Piaba conta com fundos nacionais e internacionais para cadastrar e proteger os pescadores de peixes pequenos (piabeiros). Um dos monitores explicou-me porquê: “O preço do peixe para exportação é baixo, mas, em pouco tempo, deverá ser ainda menor, pois na Florida já são produzidos viveiros de piabas....nascidas em laboratório.”

Saí indignada e lembrando-me de uma afirmação de Cezar Martins de Sá, um especialista brasileiro em biologia nuclear que connosco navegou pelo Negro: “Conhecer a Amazónia é uma questão de soberania.” Foi ainda ele quem opinou: ‘‘Nossa viagem é também um combate à biopirataria.’’


A mítica floresta do continente sul-americano não deve ser vista apenas como um bastião reservado aos investigadores. No estado do Pará podemos fazer longos passeios a cavalo, pescar na companhia de gente hospitaleira e até experimentar a imensa tranquilidade de praias inexploradas



É uma coisa estranha, esta visão de arranha-céus a espreitar sobre a floresta tropical. Uma cena insólita, comparável às miragens mais alucinadas de exploradores perdidos num qualquer deserto. Janelas, cimento e antenas – são realmente pedaços inconfundíveis da civilização que pairam num horizonte dominado pelo verde intenso e selvagem da natureza. De súbito, a voz do piloto interrompe a cadência monótona do motor da embarcação e concentra os olhares distraídos na próxima curva daquele furo (canal). Aos poucos, como uma cortina que se vai abrindo, é finalmente desvendada a imagem que parece ter escapado aos documentários sobre esta parte do planeta: a cidade de Belém como uma colossal jangada encalhada no delta do Amazonas.

Esta é uma região dominada pela água; um labirinto de canais, rios, igarapés, ilhéus e penínsulas a perder de vista, ponto de encontro dos caudais que formam a maior bacia hidrográfica do mundo. A própria capital do Pará tem dois terços do seu território distribuído por 55 ilhas. Há água por baixo, por cima e mesmo pelo meio, já que o clima equatorial eleva frequentemente a humidade relativa até ao limite. Isto sem esquecer a outra grande massa líquida que se estende por mais de 500 quilómetros de costa atlântica, desenhando a fronteira Norte do estado. Tudo o resto é floresta, principalmente um tipo de ecossistema que se designa por várzea, intercalado por pastagens naturais onde gado e fazendeiros partilham o espaço com bandos de aves exóticas. Aqui começa a Amazónia.


De Belém à floresta



A poucos minutos de cidades como Belém ou Santarém (em cima, sala do antigo tribunal), entramos em plena floresta. Por sua vez, os contornos de Marajó, a maior ilha fluvial do mundo, são feitos de areais extensos, banhados pelas águas do Tocantins, do Amazonas e do próprio Atlântico. De um lado existe um intrincado sistema de raízes e ramos, do outro a vastidão das agues
Uma urbe do tamanho de Belém, com mais de um milhão de habitantes, não é o local ideal para permanecer por muito tempo, porque o clima – suportável no ambiente natural – parece fazer transpirar até os prédios mais modernos e climatizados.

De qualquer forma, a atribulação do centro não tarda a empurrar-nos para a beira-rio, para a baía do Guajará, local onde vale realmente a pena passar bons bocados. Ali se ergue grande parte da arquitectura colonial da cidade, misturando diversos estilos europeus, com destaque para os contornos azuis do edifício mais emblemático de Belém. Ver-o-Peso é habitualmente definido como um mercado-ancoradouro, mas o inverso talvez o caracterize melhor, porque são os barcos, e toda a diversidade de mercadorias que estes transportam, que estão na origem do frenesim comercial que aqui se vive. Peixe, carne, frutos, essências, farinhas, remédios e poções chegam diariamente por via fluvial, vindos dos confins da floresta pela mão de caboclos e fazendeiros, suscitando a curiosidade de qualquer viajante pelo mundo fascinante que se esconde além-rio.

Na verdade, a poucos minutos da cidade, entramos num universo que julgaríamos só poder estar a milhares de quilómetros de qualquer cinema, centro comercial ou aeroporto.

Navegando pelas águas barrentas do rio Guamá, atravessamos um desses furos que funcionam como autêntica porta para as comunidades caboclas que vivem na floresta. Nas margens, como frágeis caixinhas sobre palitos, vão surgindo as tradicionais palafitas que lhes servem de habitação, quase sempre com o indispensável bote a seus pés. Há mulheres que penduram roupa em estendais suspensos sobre as águas, ao mesmo tempo que distribuem sorrisos rasgados a quem passa; outras, mais jovens, sentam-se nas tábuas do cais tecendo conversas mornas de fim de tarde, corpos morenos de pés no rio e cabeça nas nuvens. E há miúdos que assaltam o compasso lento da embarcação, só pelo gozo de usarem a popa para os seus saltos acrobáticos.

Quando atracamos, posso finalmente observar um pouco mais da vida deste “povo das águas”, como Pedro Martinelli, fotógrafo e explorador brasileiro, apelidou genericamente os habitantes da Amazónia. De suor a escorrer pela cara, dois homens acabam de chegar por um trilho carregados com um enorme saco de açaís, mais uns quilos a juntar às 40 toneladas deste fruto consumidas diariamente em Belém. Seguindo os seus passos damos com uma escola ampla e arejada onde dezenas de crianças se juntam após a última aula. A maior parte delas descerá agora até ao pequeno cais para seguir de barco até suas casas, noutros pontos da comunidade. Para lá deste local, entre seringueiras e seculares castanheiros, vejo o caminho embrenhar-se cada vez mais na “terra firme” (outro ecossistema que alterna nesta região com a várzea amazónica), até se perder por completo na luz indefinida do crepúsculo. É hora de voltar. O motor rompe de novo a placidez das águas e do silêncio – pof, pof, pof – à medida que a noite se instala e os lampiões das palafitas se transformam em bichos que espreitam da escuridão das margens.

Na vastidão de Marajó

A paisagem parece mudar radicalmente quando passamos a outro ponto do litoral paraense, a pouco mais de três horas de barco de Belém. Os contornos de Marajó – a maior ilha fluvial do mundo – são feitos de areais extensos, lavados vezes sem conta pelas águas do Tocantins, do Amazonas e do próprio Atlântico, cujas marés sustentam extensos mangais e toda a fauna a eles associada. De um lado temos um intrincado sistema de raízes e ramos, do outro a vastidão das águas. As praias de alguns municípios, como Soure, ficam assim resguardadas do assédio voraz das massas, para deleite dos habitantes locais e dos escassos viajantes que aqui vêm encontrar o tão desejado pedaço de paraíso. E quando uma família sulca a areia branca com a sua carroça, vinda sabe-se lá de onde, parece realmente materializar-se essa ideia quase bíblica do Éden: à alegria estampada no rosto, junta-se um saco carregado de peixe e meia dúzia de cocos a rebolar na parte de trás.

É claro que a vastidão de Marajó deixa mais do que espaço para reencontrarmos a floresta, que domina quase toda a sua área interior, mas há sempre uma ou outra clareira a reclamar pastos para manadas de búfalos ou lagoas temporárias que disputam a atenção de bandos de garças e guarás. É em cenários destes que surgem as diversas fazendas, anunciadas quase sempre por casas de alpendres generosos e cavalos à entrada; aqui podemos passar dias de pura contemplação, seja embalados por uma rede ou percorrendo as planuras em demorados passeios.

Os búfalos, que contam nesta ilha o maior efectivo de todo o Brasil, estão por toda a parte, refrescando-se constantemente nas lagunas ou ruminando a erva mais verde que cresce nas imediações. A carne e o peculiar queijo produzido com o seu leite são muito apreciados pela população do Norte do Pará e, tal como os açaís colhidos pelas comunidades ribeirinhas, também ajudam a emprestar cor, aroma e sabor ao mercado de Ver-o-Peso.



Na vastidão de Marajó, além de pequenas povoações como Soure (em cima), existem diversas fazendas anunciadas por cavalos e manadas de búfalos. Nas margens dos rios Tapajós e Xingu uma das áreas mais selvagens da região,encontram-se alguns dos animais mais raros e emblemáticos que subsistem graças às preservação de habitats vitais
Os peixes e os crustáceos são, no entanto, e sem surpresa, os verdadeiros protagonistas de uma região em que a água é o elemento dominante. A eles se deve a ocupação de muitos homens que se fazem diariamente às águas barrentas do Amazonas, ou ao barro propriamente dito. Quando a maré baixa, mais fácil é a busca de caranguejos nos mangais do Tocantins. Mais cedo ou mais tarde, aqueles que vemos flutuar horas a fio em casquinhas de noz no meio do rio lá acabam por pescar o seu tucunaré ou tambaqui, a estrebuchar desesperados na ponta da linha, mas, no fundo, o que todo o caboclo ambiciona é içar o grande pirarucu, o maior dos peixes fluviais que pode muito bem cobrir – e quem sabe, até afundar – um bote de três metros de comprimento.

Nas entranhas da floresta
Em direcção às entranhas da Amazónia, os rios Xingu e Tapajós, que se juntam ao Amazonas após percorrerem cerca de 2000 quilómetros, delimitam uma das áreas mais selvagens do Pará. Nas suas margens encontram-se alguns dos animais mais raros e emblemáticos que subsistem graças à preservação de habitats vitais, uma medida governamental que procura manter longe os efeitos devastadores das queimadas e das moto-serras dos madeireiros. Por isso encontramos belos exemplares de pau-amarelo, maçaranduba, cedro, andiroba ou jatobá, sem esquecer o aromático pau-rosa.

Neste território enorme, maior que muitos países europeus, as povoações ribeirinhas são raras e alguns dos 39 grupos indígenas que vivem actualmente no estado mantêm ainda uma identidade cultural sem grandes perturbações. Contudo, não é difícil cruzarmo-nos com alguns deles ou, pelo menos, com os seus descendentes mais habituados à civilização.

Na pequena localidade de Alter-do-Chão, junto à foz do Tapajós, achei interessantes as explicações dadas por uma mulher borari quando algumas bolas de látex colorido, nas prateleiras de uma lojinha, me chamaram a atenção: “A gente enrola a bolinha directamente da seringueira e damos a cor com pigmento natural.” Não é tóxico quando levado à boca, garante: “Brinquei muito com bolinha dessa quando era criança.” E lá trouxe eu o brinquedo índio, que agora ganha nova vida nas mãos do meu filho.

Já o artesanato dos assurini, da região atravessada pelo Xingu, recorre a outros materiais, como caroços de tucumã – um fruto comestível –, espinhas de peixe e penas de arara, como pode ser visto no Museu do Índio, sediado na cidade de Altamira. Tal como o Tapajós, este rio também oferece ao longo do seu sinuoso curso inúmeras praias, ilhas e cachoeiras, só que as águas azuis do primeiro acabam sempre por atrair mais visitantes àquela região, deixando o Xingu como refúgio ideal para quem procura o verdadeiro espírito de descoberta e evasão.

Nos dias particularmente quentes e húmidos, ou nos momentos seguintes à queda de um aguaceiro diluviano, toda a floresta parece exalar um perfume especial, como uma mistura sábia que só a natureza consegue destilar. É mais uma sensação a juntar ao gosto do açaí, ao burburinho do Ver-o-Peso, ao vermelho garrido dos bandos de guarás, à textura das escamas de um pirarucu.

Um dia, Ernest Beaux colocou diante da estilista Coco Chanel oito frascos com fragrâncias, identificadas apenas pelo número. Ela cheirou todas e escolheu a quinta, à base de óleo de pau-rosa. Assim nasceu o Chanel nº5. Apenas um ínfimo milagre desta região. Porque a beleza da Amazónia não cabe toda num frasquinho.


Parecia impossível imaginar aqui uma praia fluvial cheia de surfistas de pranchas debaixo do braço.
Mas a Amazónia é uma terra
de surpresas e nas margens do Amazonas grandes ondas desafiam os atletas mais audazes

A palavra “pororoca” deriva da expressão tupi “poroc poroc”, que significa “grande estrondo”. Os índios baptizaram assim as grandes ondas do rio porque três dias antes das luas cheia e nova assistiam a um espectáculo inexplicável: o silêncio da mata era quebrado por vagas de quatro, cinco metros que apareciam de forma inesperada. O nome manteve-se até aos nossos dias, mas a forma como estas ondas são encaradas alterou-se radicalmente.

Em 1997, um grupo de surfistas, depois de assistir ao documentário do pesquisador Jacques Costeau sobre este fenómeno, decidiu partir para a Amazónia em busca de aventura. As imagens dos surfistas correram mundo atraindo mais atletas e investidores de desporto, que em pouco tempo decidiram promover o Campeonato de Surf da Pororoca.

Fenómeno da natureza
Estas grandes ondas são formadas pela elevação súbita das águas junto à foz do rio Amazonas, provocada pelo encontro das marés ou de correntes contrárias. Quando ultrapassam essas correntes, as águas correm o rio a uma velocidade de 10 a 15 milhas por hora, subindo a uma altura de três a seis metros. Existem várias explicações para este fenómeno, mas a principal consiste na mudança das fases da Lua, principalmente nos equinócios. A força das águas é de tal forma brutal que é possível ouvir o seu barulho ensurdecedor duas horas antes de podermos observar as ondas.

Muito diferentes das ondas do mar, a Pororoca tem duas correntes, uma por cima que a empurra para a frente e outra por baixo que imprime uma força contrária. Esta característica torna a prática do surf bem mais difícil nesta região. Mesmo os surfistas mais experientes demoram alguns dias até conseguirem dominar a pororoca. Outro factor interessante é o de que no lip da onda existe outra força que também joga o atleta para trás, e por isso as manobras têm de ser muito precisas para que o surfista se consiga manter em cima da onda. Dependendo das condições do vento, as ondas perfeitas, com paredes de mais de cinco quilómetros de extensão, duram mais de trinta minutos. Um cenário de sonho para qualquer surfista.

Espírito de aventura
Para desafiar estas ondas é preciso ser um verdadeiro apaixonado pelo desporto. Este fenómeno só acontece uma vez por dia e as maiores pororocas só podem ser surfadas com a ajuda de uma lancha. O apoio de uma embarcação é imprescindível devido à força da maré, que arrasta os surfistas em direcção à foz.

Para além disso, os atletas têm de acompanhar a pororoca por alguns minutos até que ela abra a parede para os surfistas poderem “entrar”. Finalmente, uma equipa de socorro é fundamental para efectuar o resgate. Ao contrário do que acontece nas praias de água salgada, depois de a pororoca passar a velocidade da maré atinge 20 a 30 Km/h, arrastando o atleta em direcção ao mar. Muitas vezes é necessário recorrer a sinalizadores de fumo para encontrar os surfistas “perdidos” no meio do rio.

Capital da pororoca
Nos últimos anos, a pororoca tornou-se o maior atractivo turístico da região. Apesar de ser um fenómeno natural temível, o espectáculo que proporciona atrai pessoas de todo o mundo. A única cidade onde é possível assistir à passagem deste fenómeno é São Domingos do Capim, a cerca de duas horas da capital do Pará, Belém. Esta cidade, considerada a capital da pororoca, cresceu de forma impressionante com o sucesso das competições de surf nas ondas de rio. Para presenciar este fenómeno a partir de outra localidade, é necessário alugar barcos e deslocar-se para vilas ribeirinhas. Estas viagens revelam-se excelentes para conhecer as populações locais e ouvir as incríveis histórias e lendas que surgem à volta desta onda.

A cidade é também conhecida pelas suas festas populares, como a do Exagero, na qual os foliões saem às ruas carregando reproduções gigantes de objectos do quotidiano. As comemorações, em homenagem ao padroeiro da cidade, São Domingos de Gusmão, começam no mês de Junho e só terminam a 4 de Agosto. Nesse dia, além das celebrações religiosas, é realizada uma grande festa, com direito a arraial e leilão de prendas. Na década de 60 os fiéis católicos de São Domingos do Capim mandaram construir uma escultura de Cristo para proteger a cidade dos efeitos devastadores da pororoca, que teimava em invadir a Igreja Matriz.
Praias

Mosqueiro - A cerca de 80 quilómetros de Belém, esta ilha é um dos balneários mais procurados por veraneantes e turistas. Cercada por 18 praias fluviais com vegetação exuberante, estas praias de água doce apresentam uma característica muito especial: têm ondas que se assemelham às do mar. Na ilha existem diversas praias, das quais se destacam as do Farol – excelente para a prática da pororoca –, Chapéu Virado, Murubira (a mais frequentada pelos jovens), Ariramba, Marahú, Paraíso e Baía do Sol. Mas o encanto da ilha não se limita às suas praias. Os adeptos do ecoturismo podem aliar os prazeres da praia com passeios pelos pequenos rios e igarapés.
Localização: Fica a 79 quilómetros de Belém. O acesso pode ser feito pela estrada
Br-316 e o trajecto demora cerca de 50 minutos. Saem autocarros do Terminal Rodoviário de Belém todos os dias.
Melhor época para o surf: Setembro a Novembro (as ondas podem alcançar um metro de altura). A praia do Farol é considerada uma das melhores para os surfistas.

Algodoal - No município de Maracanã localiza-se a ilha de Algodoal. Lugar rústico, onde as ruas não têm calçada, o único meio de transporte são as charretes e as pessoas vivem com energia eléctrica produzida por geradores. A tranquilidade da ilha permite desfrutar de longos passeios pelas praias da Princesa e do Lago, duas das mais belas da zona. Os adeptos da pororoca preferem ir para Beach Break, onde as ondas se abrem para os dois lados e a corrente é mais forte.
Localização: Fica a 178 quilómetros de Belém e a 91 quilómetros de Castanhal. O acesso é feito por Castanhal, através da Rodovia Estadual PA-136. Em Marudá é feita a travessia de barco, a partir da doca do município. O percurso dura, em média, uma hora, dependendo das condições da maré.
Melhor época para o surf: Janeiro a Março.

Viseu - Banhada pelo rio Gurupi, Viseu é uma típica cidade do interior. A sua população é bastante hospitaleira e facilmente o visitante trava conhecimento com os habitantes da cidade. A melhor praia para o surf é a Apeú, com a vantagem de permitir a prática da pororoca todo o ano.
Localização: Viseu fica no extremo Nordeste do estado do Pará, quase na fronteira entre o Pará e o Maranhão. De automóvel deve seguir pela BR-316.
Melhor época para o surf: Janeiro a Março

Apeú-Salvador - Situada a cerca de duas horas e meia da vila de Limondeua, esta ilha só tem acesso marítimo. Ao chegar à ilha, os surfistas ainda têm de viajar durante duas horas ao longo da praia para chegar ao local das grandes ondas. Nesta praia é fácil fazer alguns tubos com boa extensão. Nos dias bons a onda pode alcançar seis metros. É considerada uma das melhores ondas do estado. Esta praia ainda é muito pouco explorada, o que explica a falta de infra-estruturas hoteleiras.

Ajuruteua - A extensão de 35 quilómetros de praia de areias brancas e águas transparentes não seduz apenas os surfistas, mas também dezenas de veraneantes que a escolhem para passar as suas férias. Para além das praias, este é também o local ideal para o turismo ecológico. A caminho de Ajuruteua, os visitantes saboreiam um verdadeiro espectáculo natural: o voo dos guarás e das garças, os lagos criados pelo movimento natural das marés e a travessia dos caranguejos.
Localização: A estrada PA – 112 liga Bragança até à praia de Ajuruteua
Melhor época para o surf: Janeiro a Março.

Para maiores informações sobre o campeonato: Tel.: 00 55 (91) 8112-9640/ (85) 5308-643843 ou surf@surfnaPororoca.com.br.




Como ir
Não existem voos directos de Lisboa para a Amazónia.
A melhor opção é apanhar um voo da TAP-Air Portugal (Tel.: 707 205 700; www.tap.pt) ou da Varig (tel. 214 245 170; www.varig.pt) para o Rio de Janeiro ou outra cidade brasileira e aí fazer a ligação até Belém ou Manaus pela Varig ou pela TAM.

Transportes internos: Para o interior da Amazónia existem travessias regulares de barco e de avião. Santarém está ligada a Belém através de voos diários (uma hora aproximadamente) ou de barco, cuja viagem demora mais de dois dias, ao longo do rio Amazonas. Também pode chegar a Manaus através de voos domésticos. O Aeroporto Eduardo Gomes fica apenas a 15 quilómetros do centro da cidade. As viagens por via terrestre para Manaus incluem, geralmente, longos trajectos de barco ou balsa.

Para se deslocar entre as várias cidades e localidades, as lanchas e outro tipo de embarcações são o meio de transporte mais aconselhado. No caso de grandes distâncias é preferível optar pelo transporte aéreo, através de voos regulares ou de aerotáxis, muito utilizados naquela região.

Informações úteis
Superfície: 5,5 milhões de quilómetros quadrados
Documentação: Passaporte com validade superior a seis meses.
Moeda: O real vale aproximadamente um terço do euro. Os cartões de crédito são aceites nas lojas, nos hotéis e nos restaurantes, mas nem todas as caixas ATM têm acesso às principais redes internacionais. Quando viajar para o interior da floresta opte sempre por levar algum dinheiro. Existem moedas de R$1 e 50, 25, 10, 5 e 1 centavos, e notas de R$1, 5, 10, 50 e 100.
Diferença horária em relação a Portugal Continental: Menos três horas em Belém, menos quatros horas em Santarém.
Indicativo telefónico do país: 00 55 (para o Brasil) + 91 (para Belém) ou + 92 (para Manaus).
Telemóveis: Os operadores nacionais não têm acordos de roaming com o Brasil.
Clima: Equatorial, quente e húmido, com temperaturas anuais que variam entre 21ºC e 42º. A temperatura média anual é de 28ºC. A humidade pode chegar aos 100%, o que aumenta a sensação de calor. A pluviosidade apresenta dois períodos distintos – de Novembro a Abril, quando chove mais, e de Maio a Outubro, quando chove menos.
Saúde: Levar repelente de insectos e um protector solar com elevado factor de protecção.
Vestuário: Roupa ligeira e fresca, t-shirts, calções de algodão e sandálias para a cidade. Para as expedições na floresta aconselham-se calças, camisolas de manga comprida e botas ou sapatos fechados para evitar o ataque dos insectos. Não esquecer de levar um chapéu.
Fotografia: Antes de fotografar alguns animais, certifique-se junto do guia se o pode fazer.
Língua: Nas cidades da Amazónia brasileira o Português é a língua oficial. Nas povoações indígenas existem dezenas de dialectos, mas facilmente encontrará alguém que fale Português.

Para saber mais
Embaixada do Brasil em Lisboa: Estrada das Laranjeiras, 144, 1649-021 Lisboa, Tel.: 21 7248510.
Portal Brasileiro do Turismo – www.embratur.gov.br
Paratur – Companhia Paraense de Turismo, Tel.: 00 55 912120575 / 00 55 912120669. E-mail: turismo@prodepa.gov.br; www.paratur.pa.gov.br
AmazonasTur – www.amazonastur.am.gov.br
Amazónia brasileira – www.amazonia.org.br
Manaus – www.manausonline.com
Aeroporto Internacional de Belém - Av. Júlio César, km 12, Tel.: 00 55 (91) 210-6039
Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, Manaus - Av. Santos Dumont, 1350, km 16 tel: 00 55 (92) 652-1212

Onde ficar

Em Belém
Hotel Hilton - Tem todas as comodidades de um hotel de cinco estrelas urbano, incluindo health clube uma pequena piscina. Fica situado mesmo no centro da cidade, junto ao Teatro da Paz.
Contactos: www.hilton.com; Avenida Presidente Vargas, 882, Belém; Tel.: 00 55-91-2177000 Fax: 00 55-91-2252942

Na Ilha de Marajó
Hotel-Fazenda Sanjo - Unidade de turismo rural no meio de uma planície inundável, ideal para quem quer desfrutar dos prazeres de uma fazenda tradicional. Entre os programas disponíveis destacamos os passeios
a cavalo e a observação dos búfalos-de-água. Os quartos são simples e confortáveis. Para chegar à fazenda temde alugar uma lancha em Soure, a 35 quilómetros. Ao longo do percurso tem oportunidade de apreciar a fauna e a flora da ilha.
Contactos: www.marajo.tur.br; e-mail: fazendasanjo@yahoo.com.br; Tel.: 00 55 (91) 91454475/2281385
Fazenda S. Jerónimo - Também situada no município de Soure, esta fazenda é especializada em turismo ecológico. Quem quiser preencher os seus dias em contacto com a natureza tem ao seu dispor passeios pelos mangais e uma fantástica praia fluvial onde pode usufruir de uma paisagem paradisíaca salpicada de coqueiros.
Contactos: www.marajo.tk; e-mail: saojeronimo@canal13.com.br; Tel.: 00 55 9137412093/96123913/96123233
Pousada dos Guarás - Localizada em Salvaterra, perto de Soure, a pousada dispõe de um complexo de chalés, uma piscina e acesso directo às praias do rio Tocantins. Os chalés têm TV, ar condicionado e minibar.
Contactos: www.pousadadosguaras.com.br; Tel.: 00 55 91 40055656

Em Santarém
Hotel Beloalter - A 35 quilómetros de Santarém, na localidade de Alter-do-Chão, este é, sem dúvida, o melhor empreendimento turístico da região. Junto das praias fluviais do rio Tapajós, tem uma ampla capacidade de alojamento, com quartos equipados com minibar, TV e ar condicionado. O complexo dispõe ainda de uma piscina, restaurante, jardim e uma pequena praia privativa.
Contactos: www.beloalter.com.br; e-mail: reservas@beloalter.com.br; Tel.: 00 55 935271247/48

Em Manaus
Os alojamentos de selva, conhecidos por lodges, são empreendimentos construídos no meio da selva, na margem dos rios ou mesmo flutuantes, sobre as tranquilas águas do Amazonas. Nesses locais o visitante poderá sentir-se, de facto, integrado, em perfeita harmonia com o universo da floresta.

Tiwa - A apenas nove quilómetros de Manaus, este hotel oferece aos seus clientes aconchegantes cabanas, decoradas em estilo rústico. Nos terraços de cada cabana é possível passar bons momentos de descontração, aproveitando o conforto das espreguiçadeiras. Se quiser usufruir de todas as actividades ao seu dispor prepare-se para uns dias bastante agitados. Os programas incluem pesca, passeios de bicicleta pela floresta e todo o tipo de animações preparadas pelos monitores do hotel.
Contacto: www.tiwaamazone.com; nfo@tiwaamazone.nl

Ariaú Jungle Towers - O mais popular hotel da selva já albergou personalidades do mundo inteiro, como Bill Gates e Steven Spielberg. Construído sobre palafitas gigantes, o complexo de apartamentos oferece conforto e requinte aos seus visitantes. As suites encontram-se no cimo das árvores e é necessário alguma coragem para percorrer os sete quilómetros da passadeira aérea que liga as várias zonas do complexo. Com capacidade para 600 pessoas, entre apartamentos e suites, o hotel dispõe de três piscinas, heliporto, duas torres de observação e um auditório panorâmico com vista sobre
o rio Negro. Os pacotes Ariaú disponíveis incluem excursões pela floresta com passeios de canoa, caminhadas pela selva, pesca de piranha, visita às aldeias nativas e passeios nocturnos com observação de animais.
Contactos: www.ariautowers.com

Amazon Lodge - A simpatia dos funcionários imprime um clima caloroso e confortável a este lodge.
Os visitantes têm aqui a oportunidade de saborear o requinte dos pratos típicos da Amazónia. A decoração rústica, aproveitando as matérias-primas da região, permite usufruir do autêntico ambiente da floresta.
O principal inconveniente é a falta de infra-estruturas, nomeadamente casas-de-banho privadas.
Contactos: naturesafaris.com.br; R. Flavio Espirito Santo N º 1, Kissia II, 69040-250, Manaus; Tel.: 00 55 926566033

Amazonat - A duas horas de automóvel do aeroporto de Manaus, este complexo é o único da região a ostentar o título de qualidade do International Ecotourism Club. Os percursos pedestres preparados pelos especialistas da zona permitem apreciar todo o ambiente envolvente e dispõem de várias zonas de descanso, para quem quiser relaxar durante o passeio. O verdadeiro espírito de aventura tem de estar bem presente nos seus hóspedes, uma vez que o hotel não dispõe de água quente nem ar condicionado.
Contactos: www.amazonat.com.br; Amazonat Jungle Lodge Brazil 1273, 69006-970; Tel.: 00 55 92 328-1183

Ecopark - Hospedar-se neste hotel permite-lhe uma experiência única: mergulhar nas águas negras das piscinas naturais ou, se preferir, nas praias do rio Negro. Os 64 apartamentos disponíveis estão equipados com água quente e instalações para deficientes.
A proximidade do aeroporto, apenas a 15 minutos de automóvel e 15 de barco, revela-se um inconveniente para quem procura a tranquilidade da floresta, uma vez que esta é, talvez, uma das infra-estruturas turísticas mais procuradas da região.
Contactos: www.amazonecopark.com.br; Tel.: 00 55 92 9146 0594 /00 55 92 9146 0595 / 00 55 92 9117 1700

Flotel Piranha - Recentemente remodelado, este hotel é, na verdade, um complexo de 20 apartamentos flutuantes. A partir da torre de observação é possível assistir diariamente a um magnífico espectáculo: o voo das garças, dos mergulhões e das ciganas que se passeiam nas proximidades do hotel. Os acessos precários desmobilizam alguns turistas que não querem perder meio dia a saltar de barcos para autocarros até chegar a este pequeno paraíso.
Contactos: www.naturesafaris.com.br

Pousada Uacari-Mamirauá - Integrada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, estas instalações são administradas pela própria população local. Os cinco chalés encontram-se divididos em dez confortáveis apartamentos. Os pratos preparados com os ingredientes da região transformam as refeições num verdadeiro manjar dos deuses. A pousada fica a
450 quilómetros da Manaus. A melhor forma de chegar à reserva é através de um voo para Tefé – com duração de uma hora – seguido de um percurso em barco rápido (voadeira) para a pousada – mais uma hora e meia.
Contactos: www.mamiraua.org.br

Gastronomia
Segundo os especialistas, a genuína culinária brasileira tem as suas raízes nos sabores da floresta. Com mais de duas mil espécies de peixes, o pescado é a base da alimentação dos habitantes da Amazónia. A gastronomia local oferece uma variedade de pratos com predominância indígena, aos quais se aliam as influências portuguesa, africana e francesa. Junto com as deliciosas frutas tropicais de sabor marcante, as pimentas e a farinha de mandioca, a culinária regional representa a exuberância e a riqueza da natureza amazónica.

Os principais peixes são o tambaqui, servido assado ou em caldeirada, o pirarucu, conhecido como o bacalhau da região devido ao processo de conservação em sal utilizado. Muito apreciado é também o tucunaré,
de sabor delicado e servido em caldeiradas, ou o jaraqui, muito consumido pela população com farinha e molho de pimenta. A farinha de mandioca de vários tipos é um dos principais acompanhamentos, juntamente com as verduras e as pimentas malagueta, murupi ou de cheiro. Regra geral, são servidas com molho de tucupi, também extraído da mandioca e de sabor marcante, com um alto grau de acidez. Para acompanhar as refeições peça sumos de frutas regionais que também servem de base para os doces, as geleias e os sorvetes de sabor delicioso e invulgar. Cupuaçu, graviola, taperebá, buriti e maracujá são as frutas mais apreciadas.

Parques naturais e reservas
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM)
Esta reserva foi criada em 1990 como Estação Ecológica pelo Governo do estado do Amazonas. Possui mais de 300 espécies de peixes catalogadas, incluindo os ornamentais. No Mamirauá vivem também cerca de 400 espécies de aves e cerca de 45 espécies de mamíferos. Um dos mais estranhos é o uacari-branco (cacajao calvus), um macaco de quatro quilos, que se alimenta quase exclusivamente de sementes de frutos. Os uacaris vivem em bandos até 50 indivíduos e percorrem vários quilómetros por dia, à procura dos seus alimentos preferidos. Aqui pode encontrar também algumas das espécies mais importantes de madeiras tropicais.

No interior da reserva vivem algumas populações locais, as principais responsáveis pela preservação deste espaço.
Parque Nacional do Jaú
Situado no estado do Amazonas, na Bacia do Rio Jaú, entre os municípios de Novo Airão e Barcelos, este parque foi criado em 1980 e é a maior área protegida do Brasil, com 2 272 000 hectares e um perímetro de 540 km. A via de acesso fluvial é através do rio Negro, utilizando barco ou hidroavião e por via terrestre através da estrada Manacapuru/Novo Airão. A cidade mais próxima da unidade é Novo Airão, que fica a uma distância de 150 km de Manaus. Conta com a exuberância da floresta amazónica e toda a sua biodiversidade de flora e fauna. Telefones: 00 55 (92) 613-3277 / 613-3095.

Pico da Neblina
Localizado no estado de Amazonas, no município de São Gabriel da Cachoeira, este parque encontra-se em funcionamento desde 1979. Actualmente abriga uma pequena população indígena, os yanomami. Possui uma área de 2 200 000 hectares. Os transportes fluviais e aéreos constituem as melhores opções para se chegar até ao parque. O acesso fluvial é feito através do igarapé Itamirim e dos rios Cauaburi e Sá. A cidade mais próxima da unidade é São Gabriel da Cachoeira, que fica a 900 quilómetros de distância de Manaus. O parque conta com uma extraordinária beleza paisagística, destacando-se o conjunto de montanhas, cujo ponto mais alto se encontra a 3014 metros de altitude. A época de menor precipitação é de Agosto a Dezembro. Telefones: 00 55 (92) 6133277 / 6133095.

Lago da Piranha
No município de Manacapuru, faz parte do Corredor da Amazónia Central. O Lago da Piranha distingue-se como área prioritária para a conservação do Projecto Nacional de Corredores Ecológicos, criada com o objectivo
de proteger o rico e delicado ecossistema da várzea, promover o desenvolvimento sustentável e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais, propiciando também, um grande potencial para pesquisa e educação ambiental. Esta zona possui 103 000 hectares, que representam 14 por cento do território do município de Manacapuru, e está situada à margem esquerda do rio Solimões, próximo da foz do Manacapuru. Possui um hotel flutuante que, além de utilizar a mão-de-obra local, é o primeiro da região com tratamento de água e esgoto.

A Reserva é rota migratória e de reprodução de aves como a garça branca, o jaburu, o jaçanã e o pato do mato. Possui também uma grande variedade de peixes, destacando-se o exótico acari-bodó (loricaria duodecimalis). A vegetação da região é tipicamente de várzea, que se forma numa planície inundada sujeita a cheias sazonais. As espécies vegetais mais frequentes são samaúma, assacu, axixá, gramíneas e agrupamentos de palmeiras. Dista cerca de 110 quilómetros de Manaus – aproximadamente uma hora de barco ou 15 minutos de hidroavião. A reserva oferece os seguintes atractivos: observação de pássaros, observação da flora, caminhadas em trilhas interpretativas, pesca desportiva, safari fotográfico, observação de fauna.
Telefone: 00 55 (92) 3611386.

Parque Ecológico de Janauary
A 45 minutos de barco de Manaus, nas margens do rio Negro, o Parque Ecológico do Janauary concentra vários ecossistemas da região. Ao longo de mais de nove mil hectares, os visitantes podem deleitar-se com paisagens de terra firme, várzea e igapós. No local, os turistas passeiam de canoa, tendo assim a oportunidade de admirar a vegetação típica deste ecossistema.

No Lago das Vitórias-Régias, existe uma passadeira rústica que leva o visitante a conhecer esta bela flor amazónica, símbolo da floresta. As agências turísticas oferecem passeios diários ao Lago Janauary que incluem almoço num restaurante flutuante – uma excelente oportunidade para saborear os pratos regiona



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