TERRAMÉRICA - Muro de bambu contra o desmatamento

Por Natalia Ruiz Diaz*


O avanço da produção pecuária sobre as florestas e os recursos naturais enfrentam, no sul do Paraguai, uma experiência de cultivo de cana de taquara e outras espécies em harmonia com o meio ambiente.
SAPUCÁI, Paraguai, 12 de abril (Terramérica).- A criação de gado sem controle no Paraguai leva “à derrubada de árvores e plantação de pastagem exótica”, alerta o ambientalista Guillermo Gayo. Para deter esta prática no sul do departamento de Paraguarí, a fundação que dirige apostou na permacultura. Basta um olhar ao redor de um dos pontos mais elevados do Monte Roke (Puerta Del Cerro, em guarani), onde se desenvolve o projeto, para observar o perigoso avanço das manchas de pastagem.

Há uma década, a Fundação Takuara Renda (“Sítio do Bambu”, em língua guarani) se estabeleceu nas imediações da localidade de Sapucái, em uma montanha que faz parte de uma área remanescente da Floresta Atlântica, que se estende por Brasil, Argentina e Paraguai, cuja superfície florestal original foi devastada em 93%. Para seu projeto de integração à natureza de maneira simples, a entidade não governamental escolheu uma área que estava muito degradada por incêndios florestais e corte de árvores para a atividade pecuária.

“A tecnologia que desenvolvemos busca a apropriação sem muita transformação do natural”, explicou ao Terramérica o diretor da Takuara Renda. Gayo promove a permacultura, o desenho e a manutenção de pequenos ecossistemas produtivos, junto com a integração harmônica das pessoas e de suas casas ao entorno, com a finalidade de dar respostas sustentáveis às suas necessidades. Além disso, utiliza materiais como cana de taquara, ou takuara (do gênero Guadua), e fibras vegetais para a bioconstrução. “Não podemos ter uma casa que seja nosso habitat e cujo entorno seja totalmente agressivo”, destacou o ambientalista.

A Takuara Renda não pretende estabelecer um cultivo de bambu na região, mas utilizá-lo para ajudar na recuperação da floresta degradada. “Quando se corta um ramo de bambu, nasce outro, assim substituímos a madeira”, explicou. No projeto do Monte Roke observa-se diferentes espécies de taquaras, que recebem diferentes usos. O terreno da Fundação tem seis hectares, mas sua intervenção vai além desses limites. Em cerca de 25 hectares ao redor, foi iniciado o processo de ampliação de florestas, com espécies de arbustos de maior porte, e com ênfase nas tarefas de prevenção de incêndios e freio à pecuária extensiva.

O Censo Agropecuário de 2008 indica que o departamento de Paraguarí, com cerca de 500 mil hectares de pastagens, abrigava 4% dos 12 milhões de bovinos que o Paraguai tem. Na área existem pastagens exóticas como a Brachiaria (família Poaceae), originária da África, que ao se estender para as áreas elevadas evita o crescimento de outras espécies nativas como a palmeira bocaiúva (Acrocomia aculeata). Embora a produção pecuária seja baixa em comparação com outras regiões do país, “a lógica indica que a pecuária se desenvolva abaixo, onde estão os pastos”, disse Gayo. “Nos montes é difícil pela falta de água e de superfície, o que leva a uma degradação maior e mais rápida”, acrescentou.

Além disso, o Monte Roke é o maior fornecedor de água doce de Sapucái, com seis mil habitantes, e o desmatamento coloca em risco o fornecimento. A entidade conta com reservatórios para tratar de maneira natural a água usada para higiene pessoal e lavagem de utensílios, e volta a usá-la para irrigação. A água da chuva também é armazenada em tanques.

O vínculo da Takuara Renda com a comunidade foi crescendo com os anos, graças aos paineis sobre desenvolvimento de capacidades e o aproveitamento dos recursos de maneira sustentável. Segundo Gayo, a comunidade adotou formas de cultivos sustentáveis para produzir alimentos, com base na experiência da Fundação, cuja horta é formada por diferentes espécies. São cultivadas hortaliças de consumo comum e outras desconhecidas na região, como a capuchinha (Tropaeolum majus).

“Em Takuara Renda me ensinaram a alimentação vegetariana, novidade para mim, porque se come verduras puras preparadas de maneira incomum”, disse ao Terramérica a jovem Myriam Ramírez, de uma comunidade próxima, que visitou a Fundação há cerca de dois anos com outros estudantes, passeio que já é uma tradição do lugar. “Chamou atenção a casinha de taquara e seus móveis”, recordou Ramírez, que também participou dos paineis abertos sobre bioconstrução, onde se ensina a levantar estruturas e fazer mobiliários de bambu.

* A autora é correspondente da IPS.


Crédito da imagem: Natalia Ruiz Diaz/IPS

Legenda:
Sítio do Bambu em Puerta do Cerro.

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Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

via Envolverde/Terramérica
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