Mais de cem índios organizam invasão em região de usina no Xingu

As lideranças indígenas da Volta Grande do rio Xingu, no Pará, prometem realizar uma ocupação da região em que será construída a usina hidrelétrica de Belo Monte. Não há previsão de quantas pessoas estarão envolvidas. Cerca de 150 índios da etnia Xikrin Kayapó devem chegar à área a partir de quarta-feira (21).
O cacique Luis Xipaya, presidente do Conselho Indígena de Altamira (PA), afirma que a ocupação das margens próximas à área da barragem principal é uma forma de protestar contra o projeto da usina. Ele diz que as comunidades locais não foram ouvidas nos debates sobre a construção.
- Vários grupos estão chegando e a partir de quarta-feira vamos invadir a área. Não queremos que seja implantado [o projeto de Belo Monte]. Primeiro porque o projeto é instável para os nossos povos indígenas. Sem contar que o projeto de impacto ambiental será muito grande para a região.
Renata Soares Pinheiro, do movimento Xingu Vivo para Sempre, diz que o protesto será pacífico.
- Não há risco de violência porque o governo não tem a licença de instalação [da hidrelétrica]. Não podem retirar ninguém de lá. Belo Monte atravessa nove terras indígenas, e tem duas áreas diretamente impactadas.




Reunião com a Justiça
Nesta quarta-feira (19), a índia Sheila Yakrepi Juruna e Antônia Melo, do mesmo movimento, se reuniram com o presidente do TRF1 (Tribunal Regional Federal da Primeira Região), em Brasília, para falar sobre as obras.
Os indígenas dizem que não foram ouvidos durante a elaboração do projeto da hidrelétrica e podem ser enormemente afetados pela construção da usina, a segunda maior do país – atrás apenas de Itaipu.
Manifestações foram marcadas para esta terça-feira (20) contra a realização do leilão. Duas empresas concorrem à concessão de Belo Monte, e o resultado deve sair amanhã.
Juruna, do Grupo de Articulação dos direitos Indígenas do Médio Xingu, diz que a usina vai totalmente contra o discurso de defesa ambiental do governo.
- Esse leilão vai contra os estudos ambientais e contra as leis brasileiras. Essa usina já está resultando na invasão de terras demarcadas e prejudicará a demarcação de outras terras indígenas. Além disso, causará seca nos rios Xingu e Bakajá.
Já Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, diz que a usina tem somente objetivos eleitoreiros, porque não trará benefícios às populações locais.
- Nosso protesto é contra a politização do Judiciário e a favor da utilização de formas alternativas de energia. Apoiamos o MPF porque sabemos que este projeto foi montado em cima de grandes mentiras e com intenções eleitoreiras.
Sem comemoração
As divergências na Justiça estão relacionadas ao impacto ambiental e social que a usina trará às cinco cidades próximas ao local da obra, nas cidades de Altamira, Vitória do Xingu, Anapu, Senador Jorge Porfírio e Brasil Novo.
O governo alega que a hidrelétrica trará desenvolvimento econômico à região, assim como a geração de 18 mil empregos e o repasse de R$ 175 milhões às cidades atingidas pela obra.
No entanto, associações de moradores e aldeias indígenas questionam os pontos negativos da obra, baseadas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que, segundo elas, minimizam os dados. Especialistas apontam que o número de atingidos pela obra poderá ser maior, já que a usina irá mudar o curso do rio, alagar vilas e secar cerca de 100 km do Xingu.

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    via R7

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