Loja no Pará tem artesanato de mais de 80 diferentes povos indígenas

Dono viaja cinco meses por ano pela Amazônia.
Acervo encanta antropólogos e apreciadores de arte, diz.

 
Marcelo Freitas conta que passa entre 4 e 5 meses por ano viajando pela Amazônia para conseguir suas mercadorias. (Foto: Dennis Barbosa/Globo Amazônia) 


Além das belas praias formadas pelas águas límpidas do Rio Tapajós, os visitantes da vila de Alter do Chão, em Santarém (PA), se surpreendem também com uma loja que reúne um acervo único de arte indígena. São centenas de peças originais de mais de 80 distintos povos amazônicos.
Há exemplares do banquinho típico dos índios tukano, redes, colares, vasos de diferentes tipos de cerâmica, máscaras com formas de animais, cestas, tecidos, armas, remos, entre outros tipos de ornamentos e artesanatos.
Para reunir o acervo, o dono do local, o paulista Marcelo Freitas, um “antropólogo autodidata", como brinca, passa quase metade de seus dias viajando pela floresta para negociar diretamente com os povos indígenas.
Segundo conta, às vezes o negócio é fechado em dinheiro, e outras acontece na base do escambo. “Levo alguma coisa de que eles estejam precisando”, diz.
Marcelo diz que só vende material autêntico encontrado nas aldeias. “Nunca encomendo ou digo para mudarem alguma peça”, afirma.
Já são 11 anos percorrendo as aldeias e fazendo amizade com os índios. “Sou convidado pelas próprias lideranças, não pela Funai”, explica.
Sua loja conta com muitos clientes estrangeiros que vêm a bordo de cruzeiros amazônicos, mas também faz vendas pela internet. “Os antropólogos babam quando vêm aqui”, conta, em meio à sua rara coleção.

Globo Amazônia
03. Abr.2010
via Folha do Progresso


Loja em Alter do Chão parece um museu de cultura indígena. 


Banquinho de madeira é objeto sagrado na mitologia de índios do AM

Segundo os tukanos, Deus estava sentado nele quando criou o homem.
Arte de produzir o móvel passa de geração em geração.




Na mitologia dos índios tukanos, que vivem no noroeste do Amazonas, um banquinho de madeira é considerado um objeto sagrado. Pela lenda desses indígenas, Deus estava sentado num banco quando resolveu criar o homem.

Só que o banco de “ãmakõ nhecã”, o avô do universo em tukano, era de quartzo e feito num piscar de olhos celestiais. Reproduzir um móvel desses, à imagem e semelhança do banco de Deus, dá muito trabalho, a começar pela procura da madeira, nem sempre disponível perto de casa.
O banco, para nós, para ser o símbolo dos tukanos, ele dá o poder de autoridade, dá o poder de ser um grande pensador, e ter uma grande responsabilidade”, explica Maximiliano Menezes, diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Pelo Rio Tiquié, Celestino Resende, artesão tukano, procura uma parente da seringueira, a soveira, árvore de madeira macia. O manejo é rigoroso e tem autorização da Funai e do Ibama. Uma só árvore serve de matéria-prima para mais de vinte banquinhos.

O artesanato que faz dos tukanos os grandes mestres do entalhe do Alto Rio Negro é feito a machadadas. Os banquinhos são esculpidos nos blocos de madeira maciça. O mestre Celestino vai fazendo o pamarirrori, o delicado desenho que reproduz, no assento, a pelagem dos animais da floresta. Ele leva um dia inteiro para fazer um banco.

Sua família faz esses pequenos assentos há incontáveis gerações. “Desde aonde nasceu essa história do banco, veio passando até chegar aqui a nossa vez”, conta. O pai de Celestino, Aprígio, diz em tukano que o banco de Deus torna o homem sábio.

Com a produção desses banquinhos ainda não dá pra ganhar dinheiro, embora eles já tenham até sido vendidos em shoppings de decoração de São Paulo.

Mas os índios pensam em incrementar a produção. “Temos que buscar nossa autonomia, essa autonomia tem partir da gente. Nós mesmos é que temos que trabalhar, produzir, vender e ter nossas coisas”, comenta Menezes.

via Globo Amazônia
11/08/09
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