A polêmica construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, alvo de protestos de ambientalistas e tribos indígenas, e cujo leilão ocorreu nesta terça-feira (20), é motivo de discórdia entre alguns dos pré-candidatos à Presidência na eleição de outubro. Enquanto Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) são contrários à obra, Dilma Rousseff (PT) - ex-ministra de Minas e Energia e da Casa Civil - já se manifestou a favor da hidrelétrica, que é estratégica para o plano de desenvolvimento do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. José Serra (PSDB), apesar de dizer não ser contrário ao empreendimento, criticou a falta de transparência em relação ao empreendimento. Ciro Gomes (PSB) não opinou sobre a construção, situada no rio Xingu, perto de Altamira, no Pará.
Marina Silva, que foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, escreveu artigo em fevereiro deste ano, após a concessão de licença prévia dada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), no qual questiona a "eficiência energética" de Belo Monte. Marina afirma que a obra teria uma quantidade de terra e pedra a ser retirada comparável ao que foi removido na construção do Canal do Panamá, mas a energia média efetiva entregue pela usina ao sistema seria de 39% da capacidade máxima de geração, enquanto o recomendado seria, segundo ela, pelo menos 55%. Segundo a pré-candidata, "a indisposição em discutir a sustentabilidade das obras de infraestrutura na Amazônia, somada à percepção de que o governo não faz o suficiente para melhorar a eficiência do sistema como um todo e investir em energias alternativas, acaba por produzir conflitos agudos e processos equivocados, que poderiam ser evitados".
No último dia 11, Marina Silva jantou em São Paulo com o cineasta norte-americano James Cameron, de 'Avatar'. O diretor pediu informações sobre Belo Monte, e, segundo a pré-candidata, se mostrou favorável a ouvir as populações nativas do local. Em vídeo, Cameron manifestou apoio à pré-candidata, afirmando que "pode ver claramente o compromisso e a visão dela para o Brasil no futuro".
Já Plínio de Arruda Sampaio, em seu perfil no serviço de microblogging Twitter, afirma, em relação à usina de Belo Monte, que "a lógica do desenvolvimentismo a qualquer custo não pode prevalecer em detrimento das populações ribeirinhas e indígenas". O pré-candidato do PSOL acredita que não houve o debate adequado a respeito do assunto, e acusa o governo federal de impor a questão. De acordo com Sampaio, com a marcação do leilão, "Lula demonstra de que lado está. Certamente não é do povo, nem dos ribeirinhos e do povo indígena. É uma traição”.
Serra citou o Rodoanel, obra do seu goverrno em São Paulo, na qual segundo ele "foi tudo explicado, tudo aberto, tudo transparente". "Vocês peguem (como exemplo) uma usina como Belo Monte, é tanta complicação e falta de transparência, não sou necessariamente contra, mas é tanta complicação do ponto de vista ambiental, do ponto de vista de vista financeiro, do ponto de vista societário, do ponto de vista da concorrência, que a gente sabe que vai ter problema", disse.
Até o momento, a única presidenciável a se manifestar a favor da construção da usina é a petista Dilma Rousseff. Enquanto ministra-chefe da Casa Civil, Dilma capitaneou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no qual a obra de Belo Monte está comtemplada. Neste período, ela fez parte do núcleo considerado "desenvolvimentista" do governo Lula, integrado também pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que ocupou o cargo até março deste ano. Em posição oposta a eles, estava justamente a então ministra Marina Silva, que pediu demissão em 2008 alegando que integrantes do governo a pressionavam para acelerar os processos de concessão ambiental.
Ontem (19), a pré-candidata afirmou que investir em hidrelétricas no Brasil nunca é arriscado, e comparou Belo Monte ao “investimento da velhinha japonesa”, ou seja, constante e para mais de cem anos. Já em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada no último dia 12, ela disse que não estava acompanhando mais o assunto com atenção, e sugeriu que a desistência das empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa em participar da concorrência é decorrente da grande quantidade de obras no Brasil. “Tem muita obra no Brasil. O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades”, afirmou.
via Folha de S. Paulo
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