Comércio do pau-rosa será monitorado

Proposta brasileira de inclusão da árvore, ameaçada de extinção, em lista de produtos controlados é aceita por unanimidade em Doha

18 de março de 2010 | 0h 00
Uma proposta brasileira para incluir o pau-rosa na lista de produtos controlados pela Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora (Cites) foi aprovada ontem em Doha, no Catar, em uma conferência de 175 países.
O pau-rosa é uma árvore da Amazônia ameaçada de extinção, cujo óleo é usado como essência na formulação de vários perfumes na Europa e nos Estados Unidos, entre eles o famoso Chanel N.º 5.
A espécie entrará para o Anexo 2 da convenção, o que significa que todos os processos de exportação e importação do óleo passarão a ser monitorados e certificados de acordo com padrões internacionais de sustentabilidade estabelecidos pela Cites. A proposta ainda precisa ser votada na plenária final da conferência, no dia 25. Mas já foi aprovada em votação simbólica ontem, segundo informou ao Estado o diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama, José Humberto Chaves.
"Foi uma votação unânime", disse Chaves, que faz parte da delegação brasileira em Doha. "A chance de (a proposta) não ser aprovada é praticamente nula."
O Brasil é o único produtor de óleo de pau-rosa. A exploração começou na década de 1920, e o produto chegou a ser o terceiro colocado na pauta de exportações da Amazônia, atrás da borracha e da castanha. Nos anos 1960, a produção chegou a 500 toneladas/ano, mas declinou com a chegada de uma versão sintética do linalol (principal substância aromática do pau-rosa) e da descoberta de outras espécies com essências semelhantes.
O que mais afetou a indústria, porém, não foi a concorrência comercial, mas o extermínio de sua matéria-prima. Para extrair o óleo essencial de pau-rosa é preciso derrubar a árvore, picotar seu tronco e fervê-lo numa caldeira, para que o óleo evapore com a água e condense - técnica chamada "arraste a vapor". Para obter 10 quilos de óleo, consome-se 1 tonelada de madeira.
A espécie foi predada de tal forma que começou a ficar rara. No Pará, praticamente não existe mais, segundo o especialista Paulo Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A produção, que hoje não chega a 10 toneladas/ano, ficou restrita ao Amazonas. E, mesmo lá, é preciso ir cada vez mais longe para encontrar uma árvore.
O pau-rosa, então, entrou para as listas de espécies ameaçadas do Ibama e da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN).
A espécie pode ser plantada, mas a maior parte da produção ainda provém do extrativismo - ou seja, de árvores da natureza.
O químico Lauro Barata, da Universidade Estadual de Campinas, apoia a inclusão do pau-rosa na Cites, mas teme que para salvar a espécie seja preciso exterminar o que resta da indústria do óleo. "O preço vai subir muito, sem dúvida. A indústria já definhou e vai definhar mais ainda." Ele desenvolve uma técnica que permite extrair óleo essencial dos galhos e folhas da árvore, sem precisar cortá-la, e com características muito semelhantes ao óleo da madeira.
Já Chaves, do Ibama, aposta que a inclusão na Cites fortalecerá a indústria certificada, diminuindo a concorrência com produtores clandestinos. "O maior problema do pau-rosa é a exploração ilegal", diz. "Quem quiser trabalhar com o plantio, dentro da lei, será beneficiado."
Um levantamento feito pelo Ibama, segundo ele, revelou que o volume exportado de óleo de pau-rosa entre 2003 e 2008 foi 500% maior do que o volume que havia sido autorizado pelo instituto. "Acho que o futuro da indústria é mesmo o plantio, com produção de óleo das folhas e galhos", opina também Sampaio, do Inpa.
Por ser um produto de difícil obtenção - e, portanto, caro -, a essência do pau-rosa é usada principalmente pela indústria de perfumes finos. O linalol sintético continua no mercado, mas compará-lo ao óleo do pau-rosa, segundo Barata, "é como comparar o som de uma rabeca ao de uma orquestra sinfônica".

PARA ENTENDER
1.O que é a Cites?A Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora é um acordo internacional, com 175 países signatários, que regulamenta e supervisiona a exportação e importação de espécies ou produtos da biodiversidade em risco de extinção.
2.O que são os Anexos?
A Cites organiza as espécies em três listas. O Anexo 3 inclui controles regionais. O Anexo 2 impõe restrições globais. O Anexo 1 impõe moratória total ao comércio da espécie. É o caso do tigre e das tartarugas marinhas.
3.O que é a conferência de Doha?
A cada três anos há uma Conferência das Partes (COP), que reúne todos os países da Cites. A reunião de Doha é a COP 15, de 13 a 25 deste mês.

OUTRAS ESPÉCIES
Pau-brasil
A proposta de incluir o pau-rosa no Anexo 2 é a segunda apresentada pelo País. A primeira foi para o pau-brasil, em 2007, que também entrou para o Anexo 2. Mas nenhum certificado de exportação foi emitido, pois o uso da espécie é restrito à produção de arcos de violino, com madeira obtida antes de 2007.
Mogno
O tema mais polêmico enfrentado pelo Brasil na Cites foi a proposta de inclusão do mogno no Anexo 2, apresentada pelos EUA e pela Bolívia em 1997. O Brasil, que já impunha restrições domésticas à exploração da espécie, foi contra. O mogno ficou no Anexo 3 até 2002, quando foi elevado para o Anexo 2.
O futuro do atum vermelho discute-se esta quinta-feira em Doha, a capital do Qatar, onde decorre a CITES, Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres.
Representantes de cerca de 150 países analisam a aprovação, ou não, da proposta do Mónaco, para proibir a pesca desta espécie do Atlântico Oriental e do Mediterrâneo, que está ameaçada.
Em Espanha, um dos principais pescadores de atum em conjunto com França e Itália, a proposta é vista com algum nervosismo.
Na região da Andaluzia, os pescadores falam na possibilidade de se perder uma tradição centenárial.
“Um desastre completo. Há 36 anos que faço isto. Tenho 52 e dedico-me a isto desde criança. Nem consigo pensar. Vamos lutar para manter o que temos porque não há mais nada. Para onde é que vamos?”, perguntou Joaquin Pachego, responsável por um barco de pesca.
Agustin Rivera, também pescador, acrescenta: “A verdade é que há muita incerteza entre os meus colegas, porque o nosso futuro vai ser decidido em Doha. Esperamos que eles parem com as frotas industriais e deixem os pescadores tradicionais continuarem porque fomos nós quem menos prejudicou a espécie”.
O Japão consome aproximadamente 80 por cento da pesca mundial da espécie.
O atum é normalmente usado no sushi e sashimi.
A Turquia, um país pesqueiro, também trabalha contra esta proposta, bem como a China.
Até o momento, o Mónaco conta com o apoio de Estados Unidos, Noruega, Suíça, Colômbia, Costa Rica, Equador e Sérvia. Mas, segundo fontes europeias, Canadá, Austrália e Brasil vão-se abster.
Segundo dados da CITES, as reservas de atum vermelho, no Mediterrâneo e Atlântico, caíram em 80 por cento em quatro décadas.
O atum vermelho é a maior das várias espécies de atum e alguns exemplares, já raros, podem atingir os quatro metros e cerca de 700 quilos.

Cf. também:
 Atum-vermelho deve ser um dos principais causadores de polêmica na conferência da Cites. (Foto: Adulau/Creative Commons)

Reunião internacional discute proteção a espécies ameaçadas

Brasil vai propor medida para o pau-rosa, presente na região amazônica.
Pesca do atum-vermelho deve ser o tema mais polêmico.

13/03/10  

Os 175 membros da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (Cites, na sigla em inglês), reúnem-se a partir deste sábado (12) em Doha, no Catar, para negociar novas medidas de proteção à biodiversidade, e a expectativa é de que os 13 dias do evento sejam marcados por polêmica entre os participantes.

O Brasil também estará representado, e deve propor maior proteção à espécie Aniba rosaeodora Ducke, conhecida como pau-rosa. A proposta é que a variedade seja incluída no Apêndice II da convenção, destinado a espécies que não estão ainda com alto risco de extinção, mas que podem vir a correr perigo se não houver maior controle sobre seu comércio.

Trata-se de uma árvore de grande porte que pode atingir até 30 metros de altura e é procurada pela qualidade de seu óleo, utilizado como fixador de perfumes.

O pau-rosa vem tendo suas populações naturais nos estados do Pará, do Amapá e em grande parte do estado do Amazonas, reduzidas por causa da intensa exploração, a regeneração lenta e o comércio externo, argumentará o Brasil na conferência, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente.

Atum 

Até agora, a Cites era mais conhecida pelas medidas adotadas para restringir o comércio de espécies “simpáticas” como os grandes felinos, os símios e os elefantes. Mas, pela primeira vez, uma espécie marinha - o atum-vermelho (Thunnus thynnus) - estará no papel de protagonista.

Além do atum-vermelho, pescado para fazer sushi, os elefantes perseguidos pelo marfim e a criação de tigres na China para a medicina tradicional encabeçam a agenda da conferência.

Apesar das cotas impostas pelos próprios produtores, a pesca intensiva tem reduzido consideravelmente as reservas de atum, fazendo-as despencar em até 80% no Mar Mediterrâneo e no Atlântico Ocidental desde 1970.

Graças a Mônaco, Estados Unidos e União Europeia (UE), cresce a pressão para que este peixe seja incluído no Apêndice I da lista da Cites (este sim, voltado para as espécies mais ameaçadas), somando-o a animais célebres, como o gorila-das-montanhas e o leopardo-da-neve. A indústria pesqueira tem sido responsável por manter reservas de atum vermelho desde os anos 60. Ainda assim, as populações desta espécie têm caído ano a ano.

Japão

O Japão, o principal mercado do atum-vermelho, se opõe radicalmente à sua proibição e está tratando de bloquear os dois terços de votos necessários para que a proposta seja aprovada. O país também ameaçou ignorar a proibição, caso ela passe.

Outras espécies marinhas terão eventual inclusão no Apêndice II estudada. Estas abrangem oito espécies de tubarão, bem como os corais vermelho e rosado, cobiçados pelos joalheiros.

Tanzânia e Zâmbia, que apresentaram uma moratória de nove anos sobre o comércio do marfim depois de uma venda maciça de reservas por outros quatro países africanos, em 2008, se comprometeram a fazê-lo novamente. China e Japão, os principais mercados para as presas de elefante, provavelmente apoiarão a medida.

África

Mas dezenas de outros países africanos, com o provável apoio da Europa, tentarão estender a proibição a 20 anos. Diferentemente de muitos fóruns de negociação das Nações Unidas, o alinhamento dos interesses nacionais pode evoluir de uma proposta para outra.

Estados Unidos e Europa veem o atum como uma causa comum, mas não estão de acordo, por exemplo, quanto ao urso polar, caçado legalmente pelos povos indígenas do Ártico, que com frequência vendem a pele do animal. Os Estados Unidos pediram que a espécie fosse incluída na lista do Anexo I.

A China, por sua vez, estará na posição de acusado em várias situações. O fórum examinará uma resolução destinada a condenar a criação de tigres, praticada unicamente na China. O país mais populoso do mundo também é um importante mercado para o marfim e as barbatanas de tubarão.

*Com informações da AFP
 

18/03/2010 - 07:09

Organizações discutem reforço no controle do tráfico de animais pela internet

France Presse

A internet é um grande mercado sem fronteiras que os traficantes de espécies selvagens aproveitam para vender produtos de espécies selvagens, por exemplo, vinho de osso de tigre, marfim ou salamandras, mas também pode se voltar contra eles, dando pistas para encontrá-los.

A conferência da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (Cites, na sigla em inglês), reunida até 25 de março em Doha, examinará as possibilidades de se reforçar o controle do comércio na rede, agora que a quarta parte da população mundial tem acesso à internet.

Este é um tema com o qual as ONGs trabalham há anos: o Fundo Mundial para a Proteção dos Animais (Ifaw, em inglês) fez uma investigação em onze países, da Argentina à Rússia, passando por Estados Unidos, Colômbia e França, enviado à Cites, e que concluiu que quase dois terços dos anúncios eram sobre marfim.

"Poucas vezes são presas, na verdade se trata mais de pequenos objetos", explicou Céline Sissler-Bienvenue, especialista da Ifaw para elefantes.

O comércio de aves exóticas também é próspero (20% das ofertas) e os investigadores encontraram inclusive primatas, répteis, tubarões, chifres de rinocerontes e esturjões, todas espécies cuja comercialização está proibida ou sujeita à normativa da Cites.

Grace Ge Gabriel, encarregada da Ifaw na China, tem observado um pico nas vendas de vinho de osso de tigre (vinho de arroz curtido durante 3, 6 ou 9 anos com a carcaça do animal).

O mesmo acontece com a bílis de urso, usada na medicina tradicional chinesa, com forte potencial exportador.

"O mercado chinês está saturado, mas as alfândegas canadeses e americanas têm feito apreensões frequentes", afirmou.

Em Doha, a organização Traffic chamou a atenção para uma pequena salamandra procedente do Irã ("Neurergus kaiseri"), da qual só restariam mil adultos vivendo na natureza. Em 2006, a entidade encontrou uma dezena de páginas na internet onde a espécie era posta à venda por 300 dólares.

"Uma companhia ucraniana afirma ter vendido mais de 200, capturadas na natureza, em um ano", disse Ernie Cooper, da Traffic canadense.

"A maior parte dos anúncios é de particulares", estimou Ge Gabriel. "As redes de traficantes contam com muitos outros meios para vender no atacado. Mas, com frequência, quando se demora em localizá-las, a oferta desaparece", acrescentou.

Há dois anos, a maioria das grandes plataformas na internet proibiram o comércio de marfim e todos os derivados de espécies cuja comercialização é proibida pela Cites, inclusive o site chinês taobao.com.

"Mas os vendedores disfarçam sua oferta, mencionam 'dentes do maior animal terrestre' ou cometem erros de ortografia para escapar dos filtros", denunciou.

A Cites leva a sério este assunto, que já foi examinado por um grupo de trabalho em 2009, em Vancouver.

Segundo John Sellar, encarregado da luta contra o tráfico na secretaria da Convenção, é difícil avaliar o alcance do tráfico na rede mundial de computadores ou sua tendência.

"Os leilões se multiplicam, então há mais oferta. Mas o mesmo objeto pode ser vendido várias vezes. Não dispomos de números confiáveis", afirmou.

Benito Pérez, responsável há dez anos pela repressão de fraudes ambientais do governo americano, assegurou que em algumas ocasiões a internet permite que se chegue aos fornecedores.

Recentemente, lembrou, "uma investigação conjunta com a Tailândia permitiu a apreensão de dezenas de peças de marfim e a acusação, nos Estados Unidos, de um americano e de um tailandês".
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