Quem colonizou o Brasil? Sei lá!
Foto: Paulo Santos / Reuters
Maioria dos latino-americanos, brasileiros incluídos, não sabe de que país se tornaram independentes. Atenção comissões comemorativas
A maior parte dos brasileiros não sabe de quem o seu país se tornou independente. Só 43 por cento responderam correctamente a uma pergunta colocada no Latinobarómetro, um estudo alargado de opinião sobre a América Latina. Mas não estão sós: exactamente 43 por cento é também a percentagem de respostas certas obtidas no conjunto dos 18 países em que a questão foi posta.
Os resultados podem parecer estranhos, mas "não devem surpreender porque o nível de educação médio na região ronda os sete anos", adverte o barómetro divulgado na sexta-feira em Santiago do Chile a partir das respostas a 20.204 entrevistas presenciais.
No caso do Brasil, o facto de se estar ainda a cerca de doze anos da efeméride, em 2022, pode ser visto como uma atenuante. E os resultados são até bastante mais animadores do que em países que este ano assinalaram já o bicentenário do início dos seus processos de independência, Equador e Bolívia, onde as respostas correctas se ficaram pelos 39 por cento.
Nos cinco países que assinalam o bicentenário no próximo ano - Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela - os níveis de conhecimento são muito diversos: o Chile, com 71 por cento, e a Argentina, com 63, têm resultados francamente positivos. Os chilenos são mesmo os que mais sabem qual o momento fundador do seu país. Mas nos outros Estados que se preparam para assinalar 200 anos de independência em 2010, as respostas certas alcançaram níveis inferiores: 55 por cento na Venezuela, 40 por cento no México, 35 na Colômbia. Os resultados são "desoladores para os comités organizadores dos festejos", observou o diário espanhol El País.
Os mais alheados da data em que se quebrou a relação com a antiga potência colonizadora são os dominicanos: só 11 por cento responderam correctamente que o país foi colónia de Espanha, ainda que estejam a uma razoável distância da data do bicentenário da proclamação da independência em 1844. Os mesmos dominicanos fazem, no entanto, uma apreciação bastante positiva sobre o significado da efeméride e a influência da Espanha no seu país.
Um total de 37 por cento dos mais de 20 mil entrevistados na região não sabem ou não responderam à questão e 17 por cento erraram ao responder ao nome do colonizador.
Menos que Obama
Tendo em conta as respostas a outra pergunta, o Latinobarómetro destaca que, apesar do fraco conhecimento sobre quem os colonizou, a maioria dos habitantes da região, 57 por cento, considera "muito significativo" ou "bastante significativo" o dobrar do bicentenário e 20 por cento "algo significativo", contra doze por cento que afirmaram que isso nada representa. Onze por cento dos entrevistados não responderam à pergunta.
O Brasil é, de todos os 18 países considerados, aquele em que o bicentenário é considerado "significativo" por mais gente: 77 por cento, segundo a pesquisa que no país de língua portuguesa foi feita pelo instituto Ibope, à frente da República Dominicana, cujos cidadãos, em 70 por cento, atribuem importância à efeméride. A Colômbia surge na cauda da lista, com 36 por cento.
A terceira pergunta sobre o tema visava avaliar a apreciação que os latino-americanos têm da influência da Espanha desde a descoberta da América. O resultado global foi de 57 por cento de opiniões "positiva" e "muito positiva", com uma avaliação particularmente simpática por parte dos dominicanos, 73 por cento, e dos salvadorenhos, 70. Brasil, 45 por cento, Equador, 44, e Peru, 43, surgem nos lugares do fundo.
"Espanha e o bicentenário parecem ter menos presença na opinião pública que a eleição de Barack Obama", refere o Latinobarómetro, que, a partir das respostas a outras questões do estudo, concluiu que o Presidente dos EUA é o político mais popular na região, à frente do Presidente do Brasil, Lula da Silva, e do Rei Juan Carlos, de Espanha.
O nível de conhecimento dos povos sobre o bicentenário "deixa muito a desejar e diz muito sobre a identidade cultural da América Latina e a sua vinculação a Espanha", refere também o Latinobarómetro. A leitura positiva que os cidadãos das suas ex-colónias fazem da influência de Espanha é explicada pelo estudo com a ideia de que uma imagem "se forma pelos actos do presente e não do passado". As entrevistas foram realizadas em todos os países latino-americanos, excepto em Cuba. Foram consideradas as datas de independência referidas no Latinobarómetro.
via Público
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