Desmatamento zero é meta possível, diz estudo

Além dos investimentos feitos na Amazônia pelo governo federal e estados e do dinheiro proveniente de fundos, o Brasil pode zerar o desmatamento da maior floresta tropical do mundo até 2020, caso haja um aporte adicional de recursos entre US$ 7 bilhões e US$ 18 bilhões. O estudo foi apresentado ontem em Copenhague pelo coordenador de Pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Paulo Moutinho. Segundo ele, o momento não poderia ser mais oportuno. "Essa é a hora certa para fazermos algo. Os estados amazônicos estarão reunidos na COP-15 e, nos próximos dias, o governo de Mato Grosso deve anunciar metas a serem alcançadas para reduzir o desmatamento no estado", disse.

Questionado sobre uma possível coalizão entre os países que formam a Amazônia Continental - com 7,5 milhões de quilômetros quadrados, e que, além do Brasil, ocupa territórios da Bolívia, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do Suriname, da Venezuela e da Guiana Francesa -, Moutinho disse ser esse um sonho. "São países com grandes blocos de florestas. O Brasil, inclusive, pode dar uma atenção maior para esse tema e liderar uma conversa. As alternativas de baixo carbono estão colocadas e acho que é uma boa oportunidade para o Brasil avançar agora."

Segundo Moutinho, o uso da terra ocupa 70% da Amazônia brasileira, sendo desses, cerca de 50% por desmatamento. O que, se for considerada a contribuição global em termos de emissão para o planeta, teria participação de 2%. "Nos últimos anos, desmatamos mais do que uma França. Para haver a preservação, precisamos distribuir melhor a terra, respeitar os povos da floresta e os índios e incluí-los nos processos de desenvolvimento e como guardiões da Amazônia. Temos que investir em manejo e em áreas protegidas; aumentar o projeto de pagamento por serviços ambientais para quem protege a floresta. Com essas ações, acredito que, em 2020, podemos chegar ao desmatamento zero no país", acrescentou. Para Moutinho, é preciso mudar a lógica. "Em breve, teremos soja e carne subindo no mercado internacional, com desmatamento caindo na floresta. Será um grande teste."

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Qual a expectativa do senhor para as negociações em Copenhague?
O que começa hoje (ontem) é resultado de dois anos de trabalhos preparatórios. A ideia é dividida em dois trilhos de trabalhos: um que debate a convenção do clima e a outra o Protocolo de Kyoto. O objetivo é chegar à redação final de propostas para os dois trilhos, dos dois processos. As duas decisões centrais estão ligadas a pontos específicos, como a mitigação para países desenvolvidos e em desenvolvimento; a implantação do projeto de redução de emissões por desmatamento e degradação (Redd); ações de adaptação; financiamento; transferência de tecnologia, entre outras.
As discussões vão caminhar para algo concreto?
Mesmo que em nível informal, delegados e representantes dos países começam a trabalhar nesta terça-feira (hoje) com os textos, que devem ser concluídos em uma semana. Na quarta-feira da semana que vem, eles relatarão seus resultados na plenária da COP-15. Daí é que as intervenções nacionais, os debates finais ocorrerão, o que pode se dar pelos chefes de estado que aqui estiverem ou pelos representantes máximos das delegações. Algumas coisas vão avançar, mas outras, como as regulamentações, vão sair só em 2010. Por exemplo, sobre o projeto de redução das emissões por desmatamento e degradação (Redd): vamos chegar a um acordo, mas não vamos conseguir determinar como vai ser feita sua verificação técnica, quais os instrumentos, quais os recursos financeiros. Isso leva muitos anos de discussão. Outra questão são os fundos internacionais. Um dos problemas de Copenhague é a falta de engajamento claro dos países industrializados para com os países em desenvolvimento. A presidente da COP, Connie Hedegaard (que também é ministra de clima e energia da Dinamarca), diz que se não houver fundos, não há acordo. E acho difícil a gente conseguir esse acordo. Os países desenvolvidos estão sinalizando com algo que chamamos de %u201CFundo de Partida Rápida%u201D, para financiar essas nações em desenvolvimento, como o Brasil. Mas há relutância maior de países desenvolvidos de se comprometer com financiamento de longo prazo.
Será produzido um novo protocolo em substituição ao de Kyoto?
Se for um acordo novo, um protocolo novo, é uma decisão da COP-15. Vamos trabalhar sobre textos nesses próximos dias e temos que ter um contexto para isso. Não estamos partindo do nada. Já temos muita coisa em debate e nada disso vai funcionar se não houver negociação real.

» Ouça entrevista com o coordenador de pesquisas do Instituto de Pesquisas da Amazônia, Paulo Moutinho



via Correio Braziliense
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