Lula define com ministros posição na conferência climática

O governo brasileiro deve decidir terça-feira quanto o país está disposto a reduzir das emissões nacionais de gases de efeito estufa. O número será apresentado pela delegação brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, daqui a pouco mais de um mês.

A primeira reunião, em meados de outubro, terminou sem consenso após apresentação de três propostas, uma do Ministério do Meio Ambiente, uma do Ministério de Ciência e Tecnologia e outra do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que os textos fossem agrupados e terça-feira deve bater o martelo sobre a posição brasileira na COP-15.

O único ponto definido até agora é o objetivo de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020. Em relação às emissões, o Ministério do Meio Ambiente defende defende uma redução de 40% até 2020. Os ministérios da Ciência e Tecnologia e das Relações Exteriores, contudo, têm ressalvas a compromissos mais ousados sem que haja contrapartida à altura por parte dos países desenvolvidos.

Outro ponto de discórdia dentro do governo é em relação ao crescimento econômico do país até 2020, um dado que altera diretamente os cálculos em torno das emissões. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc considera um cenário de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) de 4% ao ano. Mas a pedido da ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, Minc deve apresentar duas opções de redução com crescimento de 5% e 6%. Quanto maior o PIB, maiores as emissões, o que deve exigir esforços maiores de setores como energia e indústria para garantir queda na ordem de 40%.

Organizações ambientalistas e da sociedade civil e até empresários têm pressionado o governo para que o Brasil leve uma proposta ambiciosa a Copenhague para pressionar países ricos a assumirem compromissos maiores. Na conferência, os 192 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) terão que chegar a um consenso sobre o novo acordo global para complementar o Protocolo de Kyoto. A negociação é para ampliar metas obrigatórias de reduções de emissões para os países ricos, incluir os Estados Unidos no regime de controle de emissões de gases estufa e definir compromissos mais efetivos para grandes emissores em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia.

Além de Minc e Dilma, participam da reunião com o presidente Lula os ministros da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, além de representantes do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Absorção de carbono por floresta pode ser menor

Dados referentes às emissões e ao armazenamento de gás carbônico pela Floresta Amazônica necessitam de mais precisão para que o país possa estabelecer de forma adequada as políticas de proteção ambiental e de valorização florestal e, ainda, conhecer o papel da região no cenário global das mudanças climáticas. A constatação é do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), Júlio Tota. Para ele, a atual absorção de carbono pela floresta pode ser inferior à estimativa de grande parte da comunidade científica internacional.

– As atuais medições são feitas como há 50 anos e não consideram todas as variáveis que podem influenciar no resultado sobre estoque e emissão de carbono pela floresta – alerta o cientista. A constatação de Tota é resultado de quase uma década de pesquisas, em especial nos últimos seis anos, quando acompanhou o monitoramento das trocas gasosas existentes entre a biosfera e a atmosfera na Amazônia, feitas com ajuda de torres micrometeorológicas do Programa LBA. Ainda segundo o pesquisador, a expectativa é que, com a implementação do projeto Atto (sigla em inglês para Torre Alta de Observação da Amazônia) – prevista para 2010 – o Brasil alcance a almejada precisão dos dados sobre o estoque e a emissão de carbono. O projeto prevê a construção e instalação de uma torre com 300 metros de altura na Reserva Biológica do Uatumã, na região da Hidrelétrica de Balbina, a cerca de 150 quilômetros de Manaus.

A estrutura da torre terá sensores para monitorar de forma contínua, por exemplo, as condições meteorológicas e fatores como velocidade do vento e umidade. No local, além da torre principal de 300 metros, haverá outras quatro torres meteorológicas – de cerca de 70 metros cada uma – voltadas para a medição de fluxos menores. As torres vão ajudar o país a tirar conclusões mais precisas sobre o papel da floresta no processo de aquecimento global.

O projeto ATTO deve custar ao Brasil e à Alemanha cerca de 8,4 milhões de euros. Tudo será realizado por meio de parceria entre os governos dos dois países, sob coordenação do Inpa e do Instituto Max Planck de Química, do país europeu. O modelo da torre principal está baseado em um similar já existente na Sibéria (Rússia). O projeto foi concebido para fornecer dados durante os próximos 30 anos.

– O local foi escolhido porque é uma área preservada, com disponibilidade de energia elétrica, mas com todas as características de floresta que precisam ser monitoradas – acrescenta Tota.

Desde 1994 - quando o Brasil fez o último inventário sobre as emissões de gases de efeito estufa – não se sabe exatamente quanto de gás carbônico é absovido pela floresta. Um novo estudo está sendo feito pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, mas somente em 2010 a população deve conhecer as atualizações. Dados da Universidade de São Paulo (USP) apontam que, nos últimos 15 anos, as emissões de gases do efeito estufa no Brasil cresceram cerca de 17%.

– O que queremos verdadeiramente descobrir é como a floresta vai se comportar nos próximos 30 anos. Isso vai nos ajudar a saber com precisão dados sobre a absorção de carbono, por exemplo, e como os serviços ambientais poderão ser praticados a partir desse sistema preservado – conclui Tota.

Especialistas elogiam iniciativas do Brasil na área

A 15ª. Conferência das Partes sobre o Clima (COP-15), que será realizada em dezembro deste ano, em Copenhague, só será proveitosa se os países participantes mostrarem mais interesse em apresentar suas propostas para a redução das ações que vêm causando as mudanças climáticas globais. A afirmação foi feita pela secretária de Assuntos Climáticos da Embaixada da Dinamarca no Brasil, Tine Lundi.

A secretária elogiou o fato de que o Brasil, segundo ela um dos países que mais desmatam no mundo, já ter anunciado a meta de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia até o ano 2020. Para ela, a COP-15 será um ponto de partida para que outros países se envolvam na luta pela redução das mudanças climáticas.

Na conferência de Copenhague, os 192 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) participantes buscarão um novo acordo mundial para reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa, principais responsáveis pelas alterações do clima global, entre as quais o temido aquecimento global. O novo acordo vai substituir o Protocolo de Kyoto, previsto para expirar em 2012.

Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e considerado um dos maiores especialistas em meio ambiente no Brasil, Eduardo Viola lembra as várias causas dos impactos climáticos, como as altas quantidades de carbono emitidas por muitos países, o desmatamento e as queimadas, para destacar que o Brasil está mudando gradualmente de postura em benefício do meio ambiente.

– Uma vantagem do Brasil, por exemplo, é o uso do etanol, que polui menos que a gasolina – observa. De acordo com Viola, outro fator importante é a iniciativa do governo de conscientizar a população sobre o assunto. – A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para produtos com menor emissão de gases é um outro bom exemplo.

Tanto Tine Lundi quanto Eduardo Viola destacam, também, que o tema mudanças climáticas é relevante e precisa ser tratados por todas as editorias de jornais e outros veículos de comunicação. Segundo eles, além do meio ambiente, as alterações do clima envolvem áreas como economia, segurança e política. Tine Lundi disse, inclusive, que na Dinamarca todas as editorias de jornais falam sobre o tema.

– Há cinco anos a imprensa abriu os olhos para a importância da abordagem do clima. Vejo o Brasil hoje, como a Dinamarca há cinco anos – completou. (ABr)


via Jornal do Brasil