Morre o senador e ex-presidente Itamar Franco, aos 81 anos


O senador e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) morreu às 10h15m deste sábado, aos 81 anos, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele estava internado desde o dia 21 de maio, com leucemia. Na última semana, seu estado de saúde piorou - com o diagnóstico de pneumonia grave - e ele foi transferido para a UTI. Desde ontem, respirava por aparelhos e, na madrugada de hoje, sofreu um AVC e entrou em coma. As duas filhas do ex-presidente, Georgiana e Fabiana, estavam no hospital no momento da morte.
O corpo de Itamar será transferido na manhã de domingo para Juiz de Fora, para ser velado na Câmara Municipal. Seguirá depois para Belo Horizonte, onde haverá mais um velório, no Palácio da Liberdade, na segunda-feira. Por desejo do senador, o corpo será cremado em Contagem.
A presidente Dilma decretou luto oficial de sete dias. A presidente ofereceu o Palácio do Planalto para o velório, mas a família preferiu realizar a cerimônia fúnebre em Minas Gerais. O governador mineiro, Antonio Anastasia, também decretou luto oficial de sete dias.
No lugar de Itamar no Senado, deve assumir o suplente José Perrella de Oliveira Costa (PDT-MG), conhecido como Zezé Perrella. Ele foi deputado federal pelo PFL (1999-2003) e estadual pelo PDT (2006-2011). Em 2002, ele concorreu a uma vaga no Senado por Minas Gerais, mas não se elegeu.
Itamar assumiu a Presidência da República em 1992, após o impeachment de Fernando Collor, de quem era vice-presidente. O governo dele teve episódios marcantes: o Plano Real, a volta do Fusca e o plebiscito que reafirmou a escolha do presidencialismo no Brasil.
Itamar mostra as novas cédulas do Real. Foto: Arquivo O Globo
Ao pôr em prática o Plano Real, o governo derrotou a hiperinflação, que chegava a 1.100% em 1992. O pacote foi gestado por quase um ano por um grupo de economistas e executado pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso, indicado por Itamar para o Ministério da Fazenda. O plano garantiu a normalização da atividade econômica e permitiu, nos anos seguintes, melhor distribuição de renda e a retomada do desenvolvimento econômico do Brasil. Essa conquista foi, até o fim da vida de Itamar, seu maior orgulho.
Para relançar o Fusca, Itamar aprovou, em 1993, a lei do carro popular. Quando o modelo voltou a ser produzido no Brasil, o país recebeu pedidos de exportação de diversos países, mas não conseguiu dar conta das encomendas. A produção do carro foi encerrada três anos depois.
Em 1999, quando era governador de Minas Gerais recém-empossado, Itamar declarou a moratória da dívida do estado com o governo federal durante 90 dias. A notícia abalou a credibilidade da economia brasileira no exterior. E puxou para baixo o índice Bovespa, que levou consigo as bolsas do México e da Argentina.
Itamar Augusto Cautiero Franco talvez seja o único mineiro que tenha nascido em alto-mar. Foi em junho de 1930, quando sua mãe viajava em um navio do Rio de Janeiro para Salvador e, por isso, foi obrigada a registrar o filho na capital baiana. No ano seguinte, o "erro" seria corrigido com o registro da certidão de batismo, que traz Juiz de Fora como cidade natal.
Na cidade mais importante da Zona da Mata mineira, Itamar viveu a infância e a juventude ao lado da maior parte da família. Era órfão de pai, que morreu antes de ele nacer. Descendente de italianos, a mãe, Itália Cautieiro, sustentava a família vendendo marmitas. Ela morreu em 1992, 20 dias antes da posse oficial do filho caçula como presidente da República do Brasil.
Itamar gostava de jogar basquete mas, no fim da adolescência, escolheu seguir a profissão do pai e formou-se em Engenharia Civil e Eletrotécnica na Universidade Federal de Juiz de Fora. No entanto, a militância estudantil no Diretório Acadêmico falou mais alto e acabou o levando para a política. Aos 28 anos, candidatou-se a vereador pelo PTB e perdeu as eleições. O mesmo ocorreu quatro anos depois, quando tentou ser vice-prefeito.
Itamar assume a Presidência em cerimônia no Congresso. Foto: Gustavo Miranda
Por ser amigo do governador mineiro Magalhães Pinto, sobreviveu ao golpe de 1964 e não foi cassado, ao contrário da maioria dos colegas do PTB. A primeira vitória chegaria em pouco tempo. Filiado ao MDB, foi escolhido prefeito de Juiz de Fora em 1966 e reeleito em 1972. Como administrador da cidade, dividiu a experiência de poder com personalidades que, anos depois, escolheria para ocupar cargos importantes no Planalto: o professor Murilo Hingel (futuro ministro da Educação), Mauro Durante (futuro secretário-geral), Djalma Moraes (Comunicações), Alexis Stepanenko (Planejamento) e Henrique Hargreaves (Casa Civil). No governo federal, formariam juntos o núcleo da que ficou conhecida como República de Juiz de Fora, ou República do Pão de Queijo.
No governo, Itamar não se isolava na hora de decidir. Cercava-se de colaboradores e mantinha o hábito de consultar pessoas simples, do garçom à faxineira. Já era assim em 1974, quando exercia o segundo mandato como prefeito e decidiu renunciar para concorrer ao Senado pelo mesmo MDB. A decisão final só veio depois de ouvir a opinião do seu motorista.
- A vontade dele sempre prevalecia no final, apesar de ser um bom ouvinte e não ter vergonha de voltar atrás - lembra Henrique Hargreaves.
As chances de vitória na disputa pelo Senado eram remotas. O candidato natural do MDB era Tancredo Neves, mas o mineiro temia perder para o candidato da Arena e, por isso, lançou Itamar ao sacrifício. Na apuração, a surpresa: Itamar foi eleito por Minas e repetiu a dose em 1982, com o partido renomeado como PMDB.
Em 1986, perdeu o controle da legenda em Minas e tentou o governo do estado pelo PL, mas foi derrotado por Newton Cardoso, justamente o candidato do PMDB. Voltou para o Senado e encerrou o mandato com a participação na Assembleia Constituinte de 1987 no currículo.
Desde a época em que era prefeito, Itamar gostava de dizer que se considerava um político de esquerda, embora pouquíssimas vezes tenha composto com os partidos mais tradicionais deste campo. Foi mais eficiente que os colegas na hora de reforçar a imagem de político marcado pela seriedade e pela austeridade. Surpreendeu muitos correligionários quando aceitou ser vice na chapa de Fernando Collor (PRB) à Presidência, em 1989.
O temperamento intempestivo do mineiro e de Collor não deu muito certo. Desde a campanha, os dois se desentendiam com frequência e o clima não melhorou após a vitória nas urnas. Itamar achava que era perseguição Collor escolher justamente a Usiminas na primeira etapa do processo de privatização, ao qual se opunha. Quando contrariado, tremia até o topete - mantido desde a juventude e sem adição de produtos de beleza, garantem os mais próximos.
Um ano e meio depois da eleição, escândalos de corrupção envolvendo pessoas ligadas ao presidente começaram a manchar o mandato e, meses antes do impeachment de Collor, Itamar percebia que a situação era insustentável. Naquela época, reunia auxiliares para diagnosticar os principais problemas do país e traçar o que poderia vir a ser o seu governo. Com o afastamento definitivo de Collor, assumiu o cargo apoiado por um amplo leque partidário, num esforço claro para manutenção da ordem democrática recém-conquistada.
- Pode orgulhar-se a nação capaz de dominar as suas mais graves crises políticas na ordem da lei. Sábio é o povo que, na conquista e preservação de sua própria liberdade, expressa veemência no clamor das ruas e na serenidade de seus atos - discursou Itamar na TV, como presidente.
Apesar da amplitude de apoio ao seu governo, o núcleo duro era mesmo formado pelos amigos do tempo de Juiz de Fora, somados a poucos parceiros da época do Senado, como Maurício Corrêa, que viria a ser ministro da Justiça. Não havia outro jeito: Itamar conhecia pouca gente no Rio ou em São Paulo e não tinha canais com o mundo acadêmico, empresarial ou sindical. Até mesmo no mundo político, sua base era considerada precária. Ainda assim, Itamar foi hábil o suficiente para garantir a estabilidade política do país depois do maior escândalo político da vida nacional.
O núcleo estava sempre por perto e o aconselhava, mas não foi capaz de evitar um episódio constrangedor. Com o argumento de que o último presidente a participar do carnaval teria sido Hermes da Fonseca, em 1913, Itamar decidiu assistir ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro 1994. Protagonizou uma cena inesquecível ao lado da modelo cearense Lilian Ramos, de 27 anos, no camarote. Sem calcinha, a jovem - com quem Itamar sambou, cochichou ao pé do ouvido e trocou telefones - fez a alegria dos fotógrafos que cobriam o evento. As fotos, que correram o mundo, serviram para encerrar abruptamente o romance do então presidente.

publicado em O Globo

Presidente do real, Itamar navegou entre polêmicas 

Presidente da República durante o período de estabilização da economia, Itamar Augusto Cautiero Franco morreu neste sábado aos 81 anos, vítima de acidente vascular cerebral, após se internar para tratamento de uma pneumonia. Com uma carreira política crivada de polêmicas, que lhe rendeu a imagem de um político folclórico, Itamar gostava de dizer que chegou à Presidência "pela Constituição e pela vontade de Deus".
Nascido a bordo de um navio em 28 de junho de 1930 e registrado como natural de Salvador (BA), Itamar perdeu o pai com poucos meses e foi levado pela mãe a Juiz de Fora (MG), cidade onde cresceu e iniciou sua trajetória política.
Formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora, foi prefeito por duas vezes e, em 1974, elegeu-se senador pelo MDB, partido de oposição ao regime militar (1964-1985), sendo reeleito em 1982.
O grande salto na carreira, no entanto, começou em 1989 quando lançou-se candidato a vice-presidente na chapa do extinto Partido da Reconstrução Nacional (PRN), encabeçada pelo então governador de Alagoas Fernando Collor de Mello.
Com o impeachment de Collor em 1992, Itamar se viu alçado ao cargo mais alto do país, ao centro de uma crise institucional e ao mandato em que foi criado o Plano Real, que colocaria fim à inflação de mais de 1.000 por cento ao ano.
Foi apontado como desleal por Collor, que o acusou de fazer agrados e dar cargos a senadores durante o período que o ex-companheiro de chapa estava afastado aguardando julgamento justamente do Senado.
"O Itamar nunca foi favorável ao impeachment do Collor. O Congresso Nacional é que cassou o mandato do Collor", disse à Reuters o senador Pedro Simon (PMDB-RS), líder do governo Itamar no Congresso e amigo do ex-presidente.
"Era de uma modéstia exagerada... A obra dele foi realmente excepcional", afirmou.
Por outro lado, Itamar também se declarou traído, por Fernando Henrique Cardoso, com quem mantinha boas relações e foi seu ministro da Fazenda e sucessor na Presidência.
"As coisas entre nós só se complicaram depois, quando eu já o sucedera, e tardiamente percebi que Itamar gostaria de voltar à Presidência", afirma FHC sobre o ex-chefe em seu livro "A Arte da Política".
Travou, e perdeu para seu ex-ministro, a disputa pela paternidade perante a opinião público do Plano Real, e rompeu com ele após a aprovação da emenda da reeleição e depois de perder uma disputa dentro do PMDB para ser o candidato da sigla na eleição presidencial de 1998.
Após assumir a Presidência em 1992, Itamar criou um "governo de união nacional". À época, apenas o PT entre os grandes partidos se recusou a integrar o governo.
"Havia um governo de diálogo permanente com o Congresso. É um governo que você não tem uma vírgula para falar que não seja de correção", lembra Simon.
Teve de combater também as turbulências econômicas do período. Em pouco mais de dois anos de governo, teve seis ministros da Fazenda, nenhum deles ficou mais de um ano no posto.

MORATÓRIA, CARNAVAL E FUSQUINHA

Com um indefectível topete e afeito a polêmicas, Itamar ganhou fama de político folclórico, o que o incomodava, em grande parte por conta de episódios como o Carnaval de 1994. O então presidente foi fotografado na Marquês de Sapucaí sorridente ao lado da modelo Lilian Ramos que, detalhe, não usava roupa de baixo.
Também foi alvo de piadas quando, em 1993, defendeu a fabricação de carros populares no país e incentivou a Volkswagen a voltar a fabricar o Fusca, "criando" um novo modelo do popular da montadora alemã no país: o Fusquinha Itamar.
Já desafeto de Fernando Henrique Cardoso, elegeu-se governador de Minas Gerais em 1998 e, pouco depois de assumir no ano seguinte, decretou a moratória da dívida do Estado com a União, gerando turbulências nos mercados financeiros num momento delicado da economia do país.
Itamar fez mais. Mobilizou membros da tropa de elite da Polícia Militar de Minas Gerais e os colocou nos arredores do Palácio da Liberdade, sede do governo estadual, para proteger Minas de um eventual ataque federal.
Também mobilizou policiais militares para proteger a Cemig, companhia elétrica estatal de Minas, e Furnas, para resistir a tentativas de privatização dessas empresas.
Itamar também foi embaixador do Brasil em Lisboa, Roma e na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Aliado ao ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB), se elegeu ao lado dele senador por Minas Gerais pelo PPS em 2010 com 5,1 milhões de votos. Seu mandato como senador iria até 2019.

publicado na Reuters via O Globo
publicada em 02/07/2011 às 16h51m



Vaga de Itamar vai para Zezé Perrela



O presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella, deve tomar posse no Senado no lugar de Itamar Franco, que faleceu na manhã deste sábado, vítima de uma pneumonia sofrida durante o tratamento de leucemia.
Perrela foi indicado como primeiro suplente de Itamar nas eleições de 2010. Ex-deputado federal, e ex-deputado estadual, Perrela é empresário do ramos de frigoríficos e pecuarista, com patrimônio declarado de R$ 490 mil.
Foi presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados e de Frios de Minas Gerais (Sinduscarne) entre 1992 e 1997. Também foi diretor da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) entre 1998 e 2001. As principais regiões de atuação política do mineiro são a Central, Noroeste e Centro-Oeste.
Perrela foi eleito pelo PFL em 1998 para a Câmara dos Deputados, atingindo a segunda maior votação entre os candidatos em Minas Gerais. Ocupou o cargo por um único mandato (1999-2003).
Zezé assumiu a presidência do Cruzeiro pela primeira vez no biênio 1995/96, dando início à ''dinastia'' da família Perrela no clube mineiro. Posteriormente, ele venceu duas eleições seguidas para os triênios 1997/98/99 e 2000/01/02.
Nesse período, o dirigente conquistou 14 títulos, sendo a Copa Libertadores de 1997 o mais importante deles. O irmão de Zezé, Alvimar de Oliveira Costa, sucedeu-o a partir de 2003 e comandou o Cruzeiro até 2008, em dois triênios.
No fim de 2008, Zezé Perrella voltou ao cargo maior do clube ao derrotar o candidato Márcio Rodrigues, representante único da oposição, por 375 votos a 49.
(...)
por Ricado Noblat
Às vésperas do impeachment do presidente Fernando Collor, acusado de corrupção, Itamar Franco, que era vice dele, começou discretamente a montar o seu futuro governo.
Sua pretensão era a de poder contar com representantes da maioria dos partidos.
Mandou Fernando Henrique Cardoso, então senador pelo PSDB, sondar Lula, presidente do PT. Queria um ministro do PT.
Lula recusou a oferta. O PT ficaria de fora. Mas sugeriu, para espanto de FHC, o nome de José Serra para ministro da Fazenda.
Itamar conversou com Serra duas vezes. Depois chamou FHC e disse:
- Não dá.
- Por que?
- Porque ele é muito preparado, muito competente, tem boas idéias, mas o que vai querer mesmo é o meu lugar.

Quando Itamar escolheu quem ninguém imaginava

Uma vez que Fernando Collor foi obrigado a se afastar do cargo quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do seu processo de impeachment por corrupção, Itamar Franco, o vice dele, assumiu interinamente a presidência da República no dia 2 de outubro de 1992.
Assumiria de vez no dia 29 de dezembro depois que o Senado decretou o impeachment de Collor.
Mesmo na condição de interino, Itamar decidiu montar seu própria governo.
A dois dias do anúncio dos nomes dos novos ministros, ele ainda não escolhera o da Fazenda - na época, o mais importante de um país que convivia com uma inflação mensal de 20%.
Havia figurões do eixo-Rio-São Paulo-Minas dispostos a aceitar um convite para o cargo. Mas o que fez Itamar?
Reunido em sua casa com amigos na noite do dia 1º, convocou para uma conversa o deputado federal do PFL Gustavo Krause, duas vezes secretário da Fazenda de Pernambuco, ex-vice-governador e ex-vereador pelo Recife.
Krause era deputado federal pela primeira vez, eleito em 1990. E estava cotado para assumir o ministério da Integração Regional.
Foi grande o susto que Krause tomou ao ouvir Itamar dizer que pensava no nome dele para ministro da Fazenda. Krause ponderou:
- Se o senhor escolhesse para o ministério da Fazenda um ilustre desconhecido, enfrentaria problemas. Imagine escolher um desconhecido que não é ilustre...
José Aparecido, ex-governador de Brasília e testemunha do encontro, saiu em defesa da nomeação de Krause. Aureliano Chavez, ex-vice-presidente da República do último governo do regime militar de 64, também.
Itamar queria um ministro da Fazenda que fosse competente, mas que não se tornasse mais importante do que ele.
Então virou-se para Krause e disse:
- Eu faço um apelo...
Krause o interrompeu:
- Presidente da República não faz apelo.
Ganhou o cargo. Que perderia depois de 75 dias.
O chamado "mercado" não engoliu a indicação de Krause. Ele foi substituído pelo economista Paulo Hadad, que durou no cargo menos tempo, e em seguida por Elizeu Rezende, que durou menos tempo ainda.
O ministro da Fazenda seguinte ficou no governo até quase o seu fim, e dali saiu para se eleger presidente da República - Fernando Henrique Cardoso.

Quando Itamar deixou ACM furioso

Uma vez, no seu curto governo, o presidente Itamar Franco ouviu Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) dizer no Senado que tinha uma série de denúncias de corrupção a fazer contra o seu governo.
Convocou ACM ao seu gabinete para fazê-las. E na hora de recebê-lo, para sua surpresa, chamou os jornalistas lotados no Palácio do Planalto para testemunharem a conversa entre os dois.
ACM foi embora do palácio furioso. Suas denúncias se resumiam a recortes de notícias de jornais.
Nunca mais perdoou Itamar.

A desesperança de Itamar com o Poder Legislativo (vídeo)

O repórter inexperiente entrevista Itamar (video)

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As contribuições de Itamar Franco da área nuclear à moeda

Itamar Franco assumiu a presidência da República sem qualquer condição de fazer a diferença. Tinha menos de dois anos de mandato, o país estava no meio da hiperinflação e nem ele mesmo sabia por onde começar. Nomeou quatro ministros da Fazenda nos sete primeiros meses de um meio mandato. Era tentativa e erro. E nada parecia dar certo. A escolha de Fernando Henrique abriu o caminho para o Plano Real que ontem completou 17 anos de sucesso.
Durante a preparação do Plano várias vezes Itamar deu sugestões que não se encaixavam na arquitetura do plano, mas se deixou convencer por bons argumentos a anunciar um plano consistente que manteve a moeda estável. Sempre houve muita discussão sobre quem é o pai da moeda. A história registra: foi arquitetado por Fernando Henrique mas o governo Itamar Franco é que permitiu que tudo fosse feito. Era impossível estabilizar naquele momento, mas ele quis tentar. Poderia ter empurrado o governo para o fim fazendo o mínimo, mas quis fazer o impossível naquelas circunstâncias - tentar de novo depois de cinco fracassos - e foi bem sucedido.
Os jovens não tem condição de lembrar de Itamar antes disso, mas eu me lembro bem de quando ele como senador presidiu uma CPI histórica. Em plena ditadura a CPI questionava o Acordo Nuclear com a Alemanha, o programa nuclear brasileiro. Presidiu com firmeza aquela CPI que nos mostrou os equívocos de uma política que era considerada a menina dos olhos dos militares. Foi o que implodiu um plano megalômano e arriscado.
Quando ele assumiu o governo após a queda de Fernando Collor ele tentou fazer um governo de união nacional. Isso não foi possível, mas ele conseguiu reunir as forças políticas que garantiram a governabilidade num dos momentos de maior perigo que a nossa democracia viveu. Quem o viu no começo dessa legislatura em alguns debates ficou com a sensação que ele aos 81 anos faria um grande trabalho no Senado. Por isso fica uma sensação de que ele poderia ter ficado um pouco mais por aqui, apesar da longa vida política que teve.

por Miriam Rios 
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Itamar: um homem público singular

A morte do ex-presidente Itamar Franco deixa o Senado mais pobre.
Eleito no ano passado para o seu terceiro mandato como senador, Itamar tomou posse em fevereiro cheio de planos.
Mesmo aos 80 anos, apresentava uma grande vitalidade, difícil de se encontrar hoje em vários jovens, e prometia dar trabalho ao governo de Dilma Rousseff no Congresso. Isso ficou claro nos poucos meses que chegou a atuar no Senado, antes de ser diagnosticado com leucemia.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que o diga. Pois foi justamente com ele que Itamar travou seus principais combates na sua estratégia de tentar impedir que a Casa fosse atropelada pela ampla maioria governista.
Em mais de uma ocasião, Itamar obrigou Sarney a rever suas decisões na condução de votações de interesse do governo no Senado, como na do salário mínimo, exigindo o cumprimento do regimento interno da Casa.
Numa das últimas vezes que o entrevistei, Itamar revelou que aprendeu com o ex-senador e ex-governador Franco Montoro, quando assumiu seu primeiro mandato como senador ainda no período da ditadura militar, que as minorias precisam necessariamente de ser mais aplicadas e estudiosas do que a maioria, se não quiserem ser dizimadas.
Dono de uma personalidade polêmica e um gênio forte, Itamar chegou à Presidência da República após o impeachment de Fernando Collor em 1992 numa situação bastante delicada.
Conseguiu, a duras penas, construir um governo de coalizão do qual o PT se recusou a participar e enfrentou de peito aberto problemas com sua base aliada, como quando o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) tentou constrangê-lo anunciando que tinha uma série de denúncias a fazer sobre irregularidades ocorridas em sua administração.
ACM marchou rumo ao Planalto disposto a confrontar o então presidente. Ele só não esperava que Itamar fosse abrir a audiência para a imprensa, o que acabou inibindo o então senador de fazer as revelações prometidas.
Esse era o estilo de Itamar. Não abria mão de suas convicções e princípios. Foi por isso que rompeu com Fernando Henrique Cardoso, depois de ajudá-lo a se eleger presidente da República em 1994, após o lançamento bem sucedido do Plano Real.
Itamar nunca perdou o ex-presidente tucano por ele ter patrocinado a emenda da reeleição em benefício próprio. Um equívoco, na sua avaliação, que Itamar planeja mudar com a reforma política que começou a tramitar este ano no Senado.
Já no hospital, tratando da leucemia que foi diagnósticada em maio, Itamar não parou de sonhar e fazer planos. Na última visita que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) fez ao ex-presidente, Itamar estava animado e prometia se recuperar rapidamente para ajudá-lo na campanha presidencial de 2014.
Itamar fará muito falta.

por Adriana Vasconcelos
(...)


Itamar Franco respira com a ajuda de aparelhos

Um novo boletim médico, divulgado nesta sexta-feira, pelo Hospital Albert Einstein, em São Paulo, informa que o senador e ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) continua em estado grave e respira com a ajuda de aparelhos. Ele foi levado para a UTI na tarde da última segunda-feira, com quadro de pneumonia grave.
A leucemia, de acordo com os médicos, está sob controle.
Leia o boletim médico na íntegra:
" Hospital Israelita Albert Einstein informa que o Senador Itamar Franco segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em tratamento de uma pneumonia.
O diagnóstico de Pneumonia Aguda Fibrosante e Organizada foi possível através de biopsia do pulmão. Trata-se de um quadro grave e seu tratamento é realizado com corticoesteróides em altas doses.
O Senador encontra-se sob ventilação mecânica com necessidade de baixo fluxo de oxigênio.
O exame de medula óssea utilizado para avaliação da resposta ao tratamento da Leucemia Linfocítica Aguda mostrou remissão completa.
O Hospital Israelita Albert Einstein continuará fornecendo boletins semanais à imprensa ou assim que haja alguma nova informação."

publicado em O Globo

REPERCUSSÃO: Políticos de todos os partidos lamentam a morte de Itamar
FOTOGALERIA: Veja a carreira de Itamar Franco em imagens
NOBLAT: Quando Itamar recusou Serra para ministro
MIRIAM LEITÃO: Colunista comenta as contribuições de Itamar ao Brasil
ADRIANA VASCONCELOS: Morte deixa o Senado mais pobre

Cf. também:
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