Marina Silva está de saída do PV

Marina é vítima da ditadura partidária

As estaturas e biografias políticas de Marina Silva e José Luiz Penna são muito diferentes. Líder emblemática do movimento ambientalista, herdeira de Chico Mendes, Marina Silva se elegeu senadora pelo PT do Acre, depois trocou a legenda pelo PV. Candidata improvável à Presidência em 2010, Marina, com surpreendentes 19,5 milhões de votos, conquistou o espaço de fiel de balança no segundo turno entre Dilma Rousseff e José Serra. Saíram da eleição vitoriosas Dilma e Marina.
Penna, por sua vez, foi eleito deputado federal pelo PV, em São Paulo, com menos de 100 mil votos. Entrou na Câmara impulsionado pela sobra de votos de outros candidatos verdes.
Em condições normais, num choque entre Marina e Penna no PV, não seria difícil prever o desfecho. No Brasil, porém, com a legislação que regula a vida dos partidos, José Luiz Penna sai vencedor. Presidente do PV há 12 anos, o deputado - como qualquer dirigente partidário - tem instrumentos à disposição para agir como ditador. Por isso é muito adequado chamar dirigente de legenda de "cacique".
Com o capital político acumulado nas eleições de 2010, Marina procurou obter mais espaço no PV. Esbarrou em José Luiz Penna e grupo. Não conseguiu seu objetivo, apesar dos votos e da popularidade. Decidiu sair do partido, deixá-lo sob comando de uma burocracia que, se quiser, tem condições de se eternizar no controle do fundo partidário, na manipulação e no preenchimento de cargos em diretórios, e assim por diante.
Este quadro no PV chama mais atenção apenas porque a legenda tem uma imagem de modernidade, democracia interna. Falso. O partido, no aspecto do funcionamento interno, é idêntico a qualquer outro.
A raiz desta distorção está na Lei Orgânica dos Partidos, cuja alteração consta da proposta de reforma política da OAB nacional. Acertada decisão.
Promulgada em 1995, a lei sofreu influência dos ventos liberalizantes da redemocratização. Não poderia ser diferente. Alguns dispositivos da época da ditadura foram alijados, em nome da democracia e das liberdades. Assim, por exemplo, nas convenções partidárias não entram fiscais da Justiça Eleitoral nem representantes do Ministério Público. Inexiste fiscalização. Imagine-se o que acontece.
O presidente de partido, além disso, e seu grupo podem definir regras disciplinares próprias. Com base nelas, conseguem intervir em qualquer diretório e nomear comissões de dirigentes a qualquer hora. Convertem-se em caciques de fato, imãs da política, similares aos aiatolás iranianos.
Outra fragilidade da lei é não estabelecer que demandas judiciais geradas nos partidos devem ser levadas à Justiça eleitoral. Como elas vão para a Justiça comum, onde os magistrados não têm especialização para tratar dos processos, as ações terminam nos arquivos.
A OAB acerta ao apontar para o problema da inexistência de democracia na vida partidária. Entende-se, então, por que Marina Silva e seus quase 20 milhões de votos não conseguem que a burocracia do PV convoque sequer uma convenção. Mudar esta lei é uma reforma política verdadeira.

Editorial de O Globo

Dos 15 parlamentares do PV, apenas um está disposto a seguir a ex-senadora Marina Silva

A ex-senadora Marina Silva deve contar com apoio mínimo da bancada do Partido Verde em sua decisão de deixar a legenda , numa mostra do caciquismo que impera nas estruturas partidárias no Brasil. Mesmo tendo tido 20 milhões de votos nas eleições presidenciais do ano passado, e com isso ajudado a eleger muitos companheiros para o Congresso, apenas um deputado federal, Alfredo Sirkis (RJ), anunciou até agora que irá acompanhar a ex-presidenciável. Sirkis vai se licenciar por tempo indeterminado do partido, mas não irá se desfiliar para não colocar em risco o seu mandato.
O PV tem 14 deputados federais e um senador. Dos 15, portanto, só Sirkis declarou ao GLOBO que deve seguir Marina, mesmo que permaneça no partido, em protesto contra a falta de democracia interna. Dos outros 14, só dois não responderam à consulta - Roberto Santiago (SP) e Henrique Afonso (AC).
Além do deputado José Luiz Penna (SP), presidente do partido e razão da saída de Marina, oito parlamentares declararam que vão continuar na legenda mesmo com a saída da ex-senadora. O décimo, Guilherme Mussi (SP), já havia anunciado, antes de a crise verde se agravar, que mudará para o PSD, o novo partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.
O movimento pró-Marina ainda pode ser engrossado por dois parlamentares do Rio Grande do Norte, o senador Paulo Davim (que é suplente e está no exercício do cargo) e o deputado Paulo Wagner. Eles se dizem indecisos sobre qual caminho seguir.
- Ainda vou conversar com meu grupo político e decidir o que fazer. Mas estou decepcionado com o partido. Sou deputado federal e não posso votar na Executiva. Falta democracia - afirma Wagner.
Entre os que disseram que vão continuar no PV mesmo com a saída de Marina, são comuns os elogios aos 12 anos do comando de Penna.
- Quando a Marina entrou no partido, o Penna já estava. Ele fez muito, garantiu a estruturação do PV - disse o deputado Fábio Ramalho (SP).

Grupo quer mudar comando nacional

A principal reivindicação do grupo de Marina nos embates com Penna é a realização de uma convenção para escolha de nova direção. A divisão entre os grupos já era evidente na eleição presidencial, mas a crise veio à tona quando a Executiva Nacional aprovou, em março, a prorrogação do mandato do presidente do partido.
- É verdade que é frágil a democracia interna do PV, como em todos os partidos. A causa fundamental disso é que a Constituição deixou os partidos se organizarem da forma que quiserem - minimiza o deputado Antônio Roberto (SP), que ficará no PV.
O grupo de Marina reconhece que mesmo os deputados que inicialmente se aliaram à ex-senadora na batalha pela democratização do comando da legenda tiveram que abandonar o barco quando se decidiu pelo rompimento. Os parlamentares temem ficar sem legenda na eleição do próximo ano.
Um desses casos é o do deputado fluminense Dr. Aluízio, que pretende disputar a prefeitura de Macaé.
- Tomo a decisão (de ficar) também por causa da candidatura. Não tenho como abrir mão da estrutura partidária. Mas vou lutar para concretizar a democracia no PV.
Dr. Aluízio, assim como outros parlamentares, dizem ainda acreditar em uma reviravolta que possa manter Marina no partido. Em um último esforço, ele vai sugerir, na próxima semana, a formação de uma comissão comandada pelo ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) para viabilizar as eleições internas da legenda ainda este ano. Falta combinar com o grupo de Penna.
O plano de Marina é anunciar na próxima quinta-feira, em São Paulo, a saída do PV para liderar um movimento que terá como bandeira a sustentabilidade e a cidadania.

publicado em O Globo

O deputado federal Alfredo Sirkis assume que vai se licenciar do PV

Para deixar claro o seu apoio a Marina Silva e a insatisfação com a falta de eleições internas, o deputado federal Alfredo Sirkis vai se licenciar do partido que ajudou a fundar e presidiu.

Por que a crise no PV chegou a esse ponto?
ALFREDO SIRKIS: Pela total insensibilidade do grupo liderado pelo Penna e pelo Sarney Filho (MA) quanto aos compromissos assumidos quando a Marina entrou no partido. Querem um partido controlado e não enfrentar o crescimento da votação do ano passado.
Ainda acredita que a situação pode ser revertida?
SIRKIS: Acho difícil porque não vejo receptividade no grupo do Penna. Acho que eles torcem para que a Marina realmente saia. Enxergam na permanência dela um obstáculo.
Quem perde mais com a saída da Marina?
SIRKIS: Evidente que é o partido, que abre mão de assumir um papel transformador na sociedade, se auto-impõe a condição de nanico.
Como fica a sua situação?
SIRKIS: Vou deixar a presidência do Diretório Estadual (RJ) e pedir licença por tempo indeterminado.

publicado em O Globo

Para o deputado federal Lindomar Garçon, PV não vive uma crise

Nas palavras do deputado federal Lindomar Garçon (RO), o PV não vive uma crise. Filiado há seis anos, ele também não vê falta de democracia na presidência de José Luiz Penna, há 12 anos no comando da legenda.

Por que a crise chegou a essa situação?
LINDOMAR GARÇON: Acho que estão fazendo uma crise. Não existe crise.
Ainda acredita que a situação possa ser revertida?
GARÇON: Acho que a Marina não vai sair, apesar de pessoas insuflarem para isso. Vi uma unidade grande do partido para impedir a votação do Código Florestal na Câmara. Não existe racha.
Quem perde mais com a saída da Marina?
GARÇON: O partido vai continuar unido, e Marina não sai.
Como fica a sua situação?
GARÇON: Sou filiado ao PV por causa da ideologia. Vou continuar.
Há democracia no PV?
GARÇON: Acho que tem, sim. Todas as questão são submetidas ao diretório nacional. Penna nos ouve em tudo.

publicado em O Globo

Marina Silva representa um poderio eleitoral de 20 milhões de votos 

Ao anunciar sua saída do Partido Verde, a ex-senadora Marina Silva deixará pela segunda vez uma legenda. Antes de ingressar no PV, Marina permaneceu por quase 30 anos no PT, partido no qual começou sua carreira política, desfiliando-se em agosto de 2009. A ex-senadora disputou sua primeira eleição em 1986, quando concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Acre, seu estado natal, mas sem sucesso. Dois anos depois, foi eleita vereadora, a primeira de um partido de esquerda na Câmara de Rio Branco. Já em 1994, Marina, aos 36 anos, se tornou a mulher mais nova a se eleger senadora.   
Com um histórico de lutas sindicais e de defesa da ecologia, Marina conseguiu projeção internacional e chegou ao comando do Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Sua passagem pela pasta se estendeu até o segundo mandato, quando já enfrentava resistências dentro do próprio governo, que a deixaram em uma posição pouco confortável. Marina foi contra decisões como a liberação do plantio de transgênicos, construções de algumas hidrelétricas e a transposição do Rio São Francisco, na Região Nordeste. Sem espaço e com poder reduzido no governo, a ex-senadora deixou o ministério e também o PT.
Poucos dias depois de se desfiliar do partido de Lula, Marina ingressou no PV, partido pelo qual disputou as eleições presidenciais no ano passado e surpreendeu nas urnas. A ex-senadora obteve cerca de 20 milhões de votos. Em locais como o Distrito Federal, chegou a ganhar dos adversários Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), credenciando-a disputar a Presidência da República em 2014. Mas seu bom desempenho eleitoral veio acompanhado de duros embates com a atual Executiva Nacional do PV, que reduziu seu espaço e de seu grupo, deixando-os fora de decisões da legenda.

publicado em O Globo

Sem acordo com a direção do PV, Marina Silva anunciará a saída na próxima semana

Já decidida a sair do PV, a ex-senadora Marina Silva promoverá uma plenária com seu grupo, na quarta-feira da semana que vem, para anunciar que deixará o partido. A saída será oficializada no dia seguinte. Marina e seu grupo já se articulam para definir qual rumo irão tomar visando às eleições de 2014. Em reunião com o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) e o ex-deputado Fernando Gabeira, na noite de domingo , ficou acertada a criação de um movimento em prol da candidatura de Marina à Presidência da República e de defesa de questões ambientais. A previsão é que a ex-senadora só se filie novamente a um partido em 2013, passadas as eleições municipais do ano que vem.
Parte do grupo de Marina deverá continuar no PV - os nomes ainda serão definidos. A estratégia será manter um bom número de descontentes com o atual comando nacional do partido - incluindo parlamentares com mandato - para que tentem derrubar a Executiva Nacional e preparem um possível retorno de Marina em 2013. Caso a estratégia não obtenha sucesso, o grupo recorrerá a um plano B. Eles criarão um partido, tendo como alicerce o movimento lançado em prol de Marina - a ex-senadora é contrária à fundação de uma nova legenda este ano. Nomes importantes do partido, como Sirkis e Gabeira, ainda têm destino indefinido.
Para contornar problemas que poderiam surgir com a criação de um novo partido, como a falta de tempo na TV e no rádio na próxima campanha presidencial, em 2014, os verdes dissidentes recorreriam ao capital eleitoral de Marina. O bom desempenho da ex-senadora nas eleições presidenciais do ano passado ajudaria na formação de alianças com outros partidos, aumentando a participação na propaganda eleitoral gratuita. A ex-senadora somou cerca de 20 milhões de votos no pleito de 2010.
Ainda como uma terceira saída para o grupo, alguns seguidores da ex-senadora defendem o ingresso em um partido pequeno que defenda questões ligadas ao meio ambiente. Mas, para isso, exigiriam o controle da legenda. A opção é a que encontra a maior resistência entre os descontentes.


Grupo reclama de desprestígio

A reunião de domingo durou cerca de quatro horas e aconteceu no apartamento de Gabeira, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Além da criação do movimento, ficou decidido que o anúncio da saída de Marina só seria feito após seu retorno da Europa. A ex-senadora embarcará na quinta-feira para a Alemanha, onde participará de um encontro internacional de partidos verdes. O período até o anúncio oficial da saída, no dia 7 de julho, será dado como prazo para uma última tentativa de negociação com a atual Executiva Nacional.
- Estou indo nesta quinta-feira para a Alemanha, onde participarei do encontro internacional de partidos verdes. Ainda tenho outras reuniões marcadas antes de tornar pública qualquer decisão - afirmou a ex-senadora, após a reunião no apartamento de Gabeira.
Marina e seu grupo têm demonstrado descontentamento com a direção nacional do partido e reclamam da falta de espaço nas decisões da legenda. Eles travam uma queda de braço pesada com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, e pedem sua saída do cargo. Ele ocupa a função há 12 anos. O grupo de Marina cobra mudanças no processo de condução do PV.
De acordo com Sirkis, o PV enfrenta, atualmente, "uma crise séria" . Os descontentes cobram eleições para os diretórios municipais e a fixação de um prazo de mandato para a Executiva Nacional.
- Não estamos pedindo a lua, estamos pedindo eleições nos diretórios municipais. Hoje o que se vê no PV é a escolha dos diretórios municipais pelos estaduais, que por sua vez são indicados pela nacional, que acaba controlando todas as esperas do partido. O PV tem hoje uma situação catastrófica, com alianças políticas contestáveis, como em Mato Grosso e no Amazonas. O partido está sendo penalizado - diz Sirkis, que reclama do "fechamento" da legenda para novos nomes. - Não estão deixando o partido crescer, não permitem que pessoas com mais representatividade entrem no partido - critica o deputado.
Um possível retorno de Marina ao PV em 2013 é defendido por boa parte do grupo, em função de o partido ter uma forte identificação com a imagem da ex-senadora. Sua volta, caso Penna deixe o comando da legenda ou abra espaço para o grupo, seria sem traumas.
A criação de um novo partido também é bem aceita pelos seguidores de Marina, desde que haja a possibilidade de alianças com outras siglas na eleições municipais. A opção de migração em massa para um partido menor não tem a simpatia de todos os descontentes. Mas não é descartada. Hoje, dois partidos pequenos focados em causas ambientais estão em fase de criação: o Partido Ecológico Nacional (PEN), que já tem representação em nove estados, e o Partido do Meio Ambiente (PMA).
O presidente do PV, José Luiz Penna, informou nesta segunda-feira, por meio de sua assessoria, que aguarda o comunicado oficial da saída de Marina para poder avaliar o caso. Quanto às eleições para os diretórios municipais, o PV diz que faz um levantamento dos diretórios estaduais e municipais onde os mandatos das executivas já expiraram, como é o caso do de São Paulo (estado), para definir, nos próximo dias, se autorizará a eleição das executivas ou se o grupo continuará a ser indicado pela Executiva Nacional.

publicado em O Globo

Marina Silva dá mais uma semana de prazo para dizer se deixa o PV 

Após quatro horas de reunião na noite de domingo com o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) e o ex-deputado Fernando Gabeira, a ex-senadora Marina Silva decidiu dar mais uma semana de prazo para anunciar se permanecerá no PV. Marina e seu grupo têm demonstrado descontentamento com a direção nacional do partido e reclamam da falta de espaço nas decisões da legenda. Eles cobram mudanças no processo de condução do PV. - Estou indo nesta quinta-feira para a Alemanha, onde participarei do encontro internacional de partidos verdes. Até a semana que vem, nada será anunciado. Ainda tenho outras reuniões marcadas antes de tornar pública qualquer decisão - afirmou Marina ao deixar o apartamento de Gabeira, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, acompanhada de Sirkis e assessores.
De acordo com Sirkis, o PV enfrenta, atualmente, "uma crise séria". Os descontentes cobram eleições para os diretórios municipais e a fixação de um prazo de mandato para a Executiva Nacional. O atual presidente, José Luiz Pena, está à frente da direção do partido há 12 anos.
- Não estamos pedindo a lua, estamos pedindo eleições municipais. Hoje o que se vê no PV é a escolha dos diretórios municipais pelos estaduais, que por sua vez são indicados pela nacional, que acaba controlando todas as esferas do partido. O PV tem hoje uma situação catastrófica, com alianças políticas contestáveis, como em Mato Grosso e no Amazonas. O partido está sendo penalizado - diz Sirkis.
A possibilidade de Marina Silva e seu grupo anunciarem a saída do PV vem se arrastando há algumas semanas. Marina estudaria o ingresso em outra legenda ou a criação de um novo partido, também focado em questões ambientais.

publicado em O Globo

Artigo de Marina Silva critica cúpula do PV

Os quase 20 milhões de brasileiros que me deram seus votos na eleição presidencial do ano passado, possivelmente tinham em mente que até poderiam não estar elegendo, naquele momento, a presidente da República, mas, com certeza, estavam elegendo uma expectativa de mudança profunda na política e na adoção do olhar socioambiental como eixo estratégico de organização da sociedade e de estruturação do Estado. Precisamos honrar o credito dessa expectativa, sob o risco de, eu e o PV, nos transformarmos em devedores de credibilidade, sonhos e esperança. Agora é o momento de mostrar com clareza e sinceridade que vamos saldar nossa conta.
Construir no país uma nova força política significa muito e não se pode confundir tal missão com cálculos imediatistas, nem com vaidades, nem com candidaturas. Não podemos ignorar a oportunidade que a sociedade brasileira nos deu de fazer História.
Agora é o momento de confirmar o que nos une, acima de divergências, erros e dificuldades de comunicação. E de traçar, a partir daí, a estratégia partidária que dialogue com a realidade política do país, mas como pólo inovador e não como mais uma usina de atraso. A esperança não pode ser traída pelas tentações do poder ou pela acomodação aos hábitos, aos costumes, às facilidades. Não estamos agora discutindo futuras candidaturas à Presidência da República ou a quaisquer outros cargos. Estamos discutindo de que matéria essas candidaturas serão feitas: da revitalização da essência democrática do espaço público, ou de política convencional, sem conexão com a sociedade, sem alma, sem causas.
Estamos discutindo aquilo que colocamos em perspectiva lá no início da campanha política de 2010, ou seja, a promessa de reestruturar o PV e, a partir de sua democracia interna, sua postura e seu programa, arejar a cultura política brasileira e apresentar propostas de desenvolvimento compatíveis com o que se espera no futuro, no século 21. Hoje, não há outro assunto mais importante do que esse, porque ainda não nos acertamos, nos detalhes, para seguir nessa direção. E se não é esta a direção, estaremos nos desconstituindo enquanto promessa e negando a própria gênese do PV no mundo.
Muitas vezes falei - falamos - da insatisfação da sociedade, da frustração da juventude com a incapacidade do sistema político para promover o bem-comum e para gerar dinâmicas democráticas verdadeiras em todas as esferas do processo de tomada de decisões de caráter público. Falei, falamos, dos avanços sociais, democráticos e econômicos conquistados com o processo de redemocratização do país, principalmente de FHC a Lula, mas também falei e falamos da necessidade de ir adiante na prática política e na concepção e prioridades do desenvolvimento.
O centro vital propositivo de nosso programa moldou-se a partir de três fontes poderosas de significados: a sustentabilidade, a educação e a renovação política. Não podemos abrir mão de nenhuma delas, ou gangrenamos. Em especial, se deixarmos de lado a renovação política dentro do partido, acabou-se a moral para falar de sonhos, de ética, de um mundo mais justo e responsável com o meio ambiente. Podemos até continuar falando, mas soará falso, como voz metálica de robô.
É impossível negar os problemas. É preciso termos mútua tolerância e respeito à nossa diversidade; é imprescindível termos a paciência para o desconstruir/reconstruir responsável e paulatino. Só não podemos deixar de fazer ou abrir mão do que é essencial. E essa é uma decisão coletiva a ser tomada com clareza, à luz do sol, sem nenhuma dúvida. E a clareza se constrói no cotidiano de nossas pequenas ações e intenções, debruçando-nos, dentro do partido, sobre os passos necessários para atingir aquilo que pregamos para fora: a mudança. Não há como recuar de nossa própria reforma política, e há que encará-la com a coragem e o desprendimento que faltam ao sistema como um todo.
Esse novo jeito de fazer política requer enfrentar a crise geral pela qual passam os partidos, que de instrumentos de representação e avanço social cristalizaram-se como máquinas burocráticas, amorfas e voltadas para a conquista do poder pelo poder, muitas vezes não importando os meios, e abandonando a disputa programática pela simples disputa pragmática.
Em contraposição, podemos criar um partido em rede, capaz de dialogar com os núcleos vivos da sociedade para realizar as transformações de uma forma radicalmente democrática. E a disposição do Partido Verde não pode ser menor do que iniciar, nele mesmo, esse movimento de mudança.
Temos que chegar a uma proposta que reflita esse destino histórico escolhido, apregoado e aceito e abraçado por quase 20 milhões de pessoas.
Considero esse projeto que emergiu da campanha eleitoral de 2010 como um legado. Não é uma espécie de espólio a ser dividido entre herdeiros, mas, sim, um conjunto de propostas que podem e devem ser apropriadas pela sociedade e até mesmo por outros partidos e políticos. Meu maior desejo e, creio, de muitos novos e antigos filiados que participaram ativamente dessa campanha, é que o PV discuta profundamente o significado dessa eleição e incorpore novas práticas ao seu longo e rico percurso de construção partidária.
Por isso, parecia natural que o caminho adotado na reunião da Executiva Nacional, em Brasília, fosse o da adoção inconteste do novo jeito de fazer política. Mas essa não foi a tônica. Ao contrário, a decisão da Executiva Nacional de ampliar seu mandato por até um ano e, assim, postergar qualquer mudança endógena imediata, vai na contramão do que foi dito na campanha e do compromisso feito perante o país.
A ampliação do mandato, segundo seus proponentes, é necessária para a realização de seminários, discussões e aprovação de propostas de democratização do partido. Não creio que o aprofundamento da democracia possa ser feito através da supressão, mesmo que temporária, da pouca democracia ainda existente.
No PV, a maiorias das Executivas Estaduais são provisórias, designadas pelo presidente do partido. O mesmo acontece com a totalidade das Executivas Municipais, designadas pelos presidentes estaduais. Praticamente não há convenções municipais e estaduais ou eleições diretas de dirigentes. Esses mecanismos provisórios têm sido vistos como forma de proteger o partido de atitudes oportunistas e da pressão do poder econômico. Agora, eles nos isolam da sociedade, nos fragilizam no que pode nos tornar mais fortes que é a nossa coerência e não nos protegem nem de nós mesmos.
Quero participar das discussões para propor formas mais democráticas de organização partidária, juntamente com todos que estiverem de fato motivados a abrir o partido para a energia revitalizante que vem da sociedade. Lembro que a proposta de adequar o PV a esses novos tempos foi feita pela própria Executiva Nacional, quando do convite feito a mim para ingressar no partido. Ouvi do próprio presidente que a atualização programática e democratização do PV já eram um movimento em curso, uma determinação da própria direção e, acrescento agora, uma imposição da realidade, um desaguadouro natural dos 25 anos de Partido Verde no Brasil.
Por isso, o que está em jogo é se o PV vai fortalecer tudo de positivo que foi construído nesses 25 anos, afastando de vez a zona sombria que ainda envolve o partido. Se beberá da fonte do impulso criativo de milhões de jovens, homens e mulheres que voltam a se apaixonar pela política e se dispõem a colaborar com os verdes. Se vai pegar a trilha civilizatória que se abre no mundo todo, apesar das forças reacionárias de todo tipo que teimam em manter seus status quo à custa de um futuro melhor para a humanidade e para o planeta.
Estou no PV não como plataforma para candidaturas. Estou porque o respeito e vi no partido, pela sua história e pelo que conversamos antes de minha entrada, uma coragem, um arejamento, um frescor juvenil no melhor sentido de ousar mudar, de querer o aparentemente impossível. Reafirmo meu desejo de permanecer neste Partido Verde, contribuindo para o seu crescimento e qualidade política. Estou confiante que a militância verde, seus amigos e simpatizantes, além de todas as pessoas que querem o jeito novo de fazer política, contribuirão para o reencontro do PV consigo mesmo. Tenho plena convicção, como dizia Victor Hugo, de que forte é "a idéia cujo tempo chegou". Não vamos deixar o nosso tempo passar. Ele está aqui, em nossas mãos e em nossos corações.
Marina Silva, 53, ex-senadora do Acre pelo PV, foi candidata do partido à Presidência da República nestas eleições e ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).
 "O Tempo do PV" por Marina Silva
24.03.2011


Cf. também:
Sem acordo com a direção do PV, Marina Silva anunciará a saída na próxima semana
...decidida a sair do PV, a ex-senadora Marina Silva promoverá uma plenária com seu grupo...será oficializada no dia seguinte. Marina e seu grupo já se articulam para definir...movimento em prol da candidatura de Marina à Presidência da República e de defesa...
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Marina Silva representa um poderio eleitoral de 20 milhões de votos
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Marina Silva dá mais uma semana de prazo para dizer se deixa o PV
...Fernando Gabeira, a ex-senadora Marina Silva decidiu dar mais uma semana de prazo...anunciar se permanecerá no PV. Marina e seu grupo têm demonstrado descontentamento...diz Sirkis.A possibilidade de Marina Silva e seu grupo anunciarem a saída...
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...atitude para evitar que a ex-senadora Marina Silva deixe o partido na próxima semana...esperanças de que a posição de Marina mude, mas reconhece que uma reviravolta...burocracia.Entre os aliados de Marina, a esperança de que o quadro seja...
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...o PT pelo PV, a ex-senadora Marina Silva deve anunciar na próxima terça-feira...após reunião com o Movimento Marina Silva, grupo apartidário que atuou...chapa presidencial.Leia mais em Marina Silva deve anunciar saída do PV na terça-feira...
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O deputado federal Alfredo Sirkis assume que vai se licenciar do PV
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Aliados de Marina dão saída do PV como certa
...O Estado de S. PauloAliados de Marina Silva avaliam que a permanência da ex-senadora...ex-ministra do Meio Ambiente que Marina e o núcleo marineiro estão convencidos...45 dias.Leia mais em Aliados de Marina dão saída do PV como certa Siga...
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Marina Silva diz que cúpula do Partido Verde sufoca a 'pouca democracia' da legenda
RIO - A ex-presidenciável Marina Silva divulgou artigo, nesta quinta-feira...O descontentamento da ala de Marina com o comando da sigla é evidente...último dia 17.(Leia o artigo de Marina Silva)"Se deixarmos de lado a renovação...
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Onde está Marina Silva?
...que pensa a ex-presidenciável Marina Silva?Há uma presidente governando e tomando...importância, o que tem a dizer Marina? O que ela pretende? O que ela propõe...estão se fazendo essa pergunta.Marina precisa voltar ao palco onde foi colocada...
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São Paulo - A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, em nota, lembrou do apoio que recebia de José Alencar durante...era uma pessoa acessível e disposta a ouvir - falou, em nota, Marina Silva.
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Artigo de Marina Silva critica cúpula do PV
RIO - Leia o artigo de Marina Silva postado em seu site:O Tempo do PVOs quase 20 milhões...está aqui, em nossas mãos e em nossos corações.Marina Silva, 53, ex-senadora do Acre pelo PV, foi candidata...
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...Arruda, Estadão.comAfastada há doze dias do Senado, Marina Silva já definiu suas próximas tarefas. No plano político...entrevista em Não farei oposição pela oposição , afirma Marina Silva Siga o Blog do Noblat no twitter Ouça a Estação Jazz...
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Sandra Werneck vai dirigir longa sobre Marina Silva
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...filme deve mostrar a dura infância de Marina no Acre, onde só aprendeu a ler aos 16...Ambiente entre 2003 e 2008 no governo Lula, Marina ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores...convento em Rio Branco foi o destino de Marina - ela se preparou durante anos para ser...
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Marina Silva, 'fiel da balança', rouba cena na imprensa estrangeira
...Partido Verde (PV) à Presidência, Marina Silva, roubou a cena dos dois principais...internacional.(Leia também: PV de Marina Silva decide em até 15 dias quem vai apoiar...interpretaram a votação maciça em Marina Silva como sinal de que a sociedade...
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