«Cabeças pensantes das Aldeias »

por Wilson Matos da Silva*

Um Grupo de índios uns com formação superior, outros ainda em formação se unem para formar o comitê pró consciência política nas aldeias. O objetivo é esclarecer a comunidade quanto a necessidade de poder político – representatividade- que as aldeias têm.
É certo que enfrentamos resistência dos apadrinhados políticos, que diuturnamente tentam nos desqualificar perante a opinião pública, para isto, arregimentam alguns índios, pseudo líderes para legitimarem seus projetos, cujas verbas nunca chegam as aldeias. Querem fazer a sociedade crer que somos dominantes, quando na verdade somos cabeças pensantes na busca por soluções dos problemas das nossas comunidades.
Os ‘donos dos índios’, são alguns agentes do Estado que na maioria das vezes são nomeados pelos famosos padrinhos políticos, não tendo qualificação ou quando tem, não simpatiza com a causa indígena. São contra as nossas idéias com o know how de quem vivencia e sente na pele os problemas, nos contestam porque tem medo de perder seus empregos (teta). Intitulam-se "especialistas em índios", donos do bem e do mal.
Uma verdadeira máfia de "protetores" se movimentam nos meandros da política nacional fundando ONGs, através da qual recebem dinheiro público para ações nas Aldeias que nunca chegam a seu destino; propõe a demarcação de milhões de hectares de terras, quando na verdade sabem ser totalmente impossível, servindo apenas para denegrir a já caótica imagem do índio junto à sociedade.
Esses "Urubus" que vivem sobre a desgraça dos nossos povos, recebem sempre uma boa paga para perpetrar a destruição de nossa gente; são diárias, hotéis de luxo, honorários de "consultoria", "locação" de veículos, pagamento de "RPAs", ‘ajuda’ de custa, "auxilio" financeiro etc e etc.
Em nenhum momento nós os índios com formação ou em formação, fomos chamados a participar do processo demarcatório, que alias, já está enchendo! Nós os índios precisamos de ampliação de nossas Aldeias, sim! Todos sabem que estamos confinados em minúsculos territórios, isto é fato! Mas daí, a cogitarem a demarcação de milhões de hectares, quando ao longo de mais de vinte anos não nos garantiram sequer a ínfima área do Nhanderú Marangatú dentre outras é nos chamar de burros.
Todo aquele alarde por ocasião do pleito eleitoral, objetivando dividendo eleitoreiro, e por "tabela" promover uma manifesta ruína à imagem do nosso povo junto à sociedade. E diga-se, nestes anos de luta pela demarcação após a Constituição de 88, 22 anos se passaram muitos lideres foram assassinados, perderam suas vidas, sonhando com um pedacinho de chão que pudesse legar aos seus descendentes.
Já os ‘especialistas’, ‘donos dos índios’, ongueiros, urubus, parasitas sanguessugas de índios. Destes, nenhum perdeu a vida, ao contrário, ganharam suas vidas, U$$ e mais U$$ foram arrecadados em nome do nosso povo. A desgraça dos índios que vivem no mais profundo abandono e pobreza servem-lhes como um negócio altamente lucrativo.
Sou muito criticado, pelos apadrinhados políticos, semi-analfabeto que posam de "doutores", por minha incessante apologia à causa do meu povo. Senão vejamos: Sou nascido e criado na Aldeia Jaguapirú, onde resido atualmente, aqui estão vivendo meus pais; meus irmãos; meus tios; meus avos, que alias, deram a vida pela demarcação das aldeias Jaguapirú; todos meus parentes afins e agora meus netos, e estes desavisados ‘sanguessugas de índios’, ousam a dizer que estão buscando a proteção e que sabem o que é melhor para o meu povo, é muita petulância.
Esses vermes parasitas invadem nossas aldeias sem ser convidados, e passam a fazer experiências como se fôssemos ratos de laboratórios e, querem inclusive nos ensinar a sermos índios, e, aí daquele indígena que ousar discordar dos seus intentos. Estes intrusos, a grande maioria está inserida nas políticas de governo nas três esferas. A sociedade organizada precisa nos ajudar a expurgar esses parasitas nocivos ao desenvolvimento das nossas comunidades!

*É índio residente na Aldeia Jaguapirú, advogado e jornalista, Coordenado regional do ODIN (Observatório nacional de direitos indígenas)
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