Especialista brasileiro rejeita ideia «apocalíptica» da destruição Amazónia



O especialista brasileiro em história ambiental e co-fundador da Greenpeace Brasil José Augusto Pádua rejeitou hoje a ideia «apocalíptica», que diz subsistir na Europa, sobre a destruição da floresta amazónica.

«A situação não é tão apocalíptica assim», disse José Augusto Pádua, que falava à agência Lusa um dia antes de animar uma sessão, no Porto, sobre temática ambiental.
O docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que assinou vários trabalhos sobre o chamado «pulmão do mundo», recordou que só a parte brasileira da floresta ocupa uma área de quatro milhões de quilómetros quadrados e o que se perdeu foi 20 por cento dessa mancha verde.
«Ao contrário do que acontece com outras florestas do mundo, esta está discutida e debatida e muitas medidas estão a ser tomadas numa altura em que ainda há 80 por cento do coberto original», assinalou, referindo que a destruição da mancha verde amazónica se está a processar agora a metade do ritmo verificado na década de 80.
Nas suas declarações à Lusa, José Augusto Pádua exortou os historiadores portugueses a interessarem-se pela história ambiental e mesmo a criarem uma sociedade científica especializada na área, seguindo outros exemplos na Europa e no continente americano.
«Os historiadores em Portugal ainda não estão a trabalhar muito nessa perspectiva e gostaria que conhecessem melhor essa linha ambiental (…), incorporando-se nesse esforço que ocorre em vários continentes de ter uma visão mais ecológica da história humana», declarou o especialista, para quem a agressão ao verde é uma história negra que se vai repetindo há milénios.
«Existem problemas ambientais com os quais a humanidade convive há mais de cinco mil anos», disse, citando o caso da salinização do solo provocado por obras de irrigação mal feitas na Mesopotâmia.
«Parece que a humanidade não aprende a lição e não muda o comportamento», assinalou, saudando contudo o facto de a questão ambiental estar agora a interessar «muito mais» a sociedade civil.
O especialista referiu que assina por baixo as preocupações do antigo vice-presidente norte-americano All Gore sobre o aquecimento global: «Não tenho dúvida de que o aquecimento global é a questão central do século 21, porque ela pode impedir todos os outros objectivos que temos de desenvolvimento internacional, como acabar com a miséria».
José Augusto Valladares Pádua participou nos primeiros grupos ecológicos brasileiros pelo menos a partir de 1980 e seria mais tarde co-fundador da Greenpeace Brasil, enquanto prosseguia a sua carreira académica.
Coordena o Laboratório de História e Ecologia no Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é membro do Conselho Científico da Sociedad Latinoamericana y Caribeña de História Ambiental.
Como especialista em história ambiental e política ambiental, deu cursos, proferiu conferências e participou de trabalhos de campo em mais de 35 países. José Augusto Pádua anima uma sessão sobre temática ambiental, hoje à noite, na sede da associação ambientalista Campo Aberto, Porto.




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