Sting e Raoni se unem contra a hidrelétrica de Belo Monte


Raoni participou de show de Sting, em São Paulo. Mais cedo, ambos deram entrevista coletiva

"Quando o presidente Lula me deu uma medalha, ele disse que não ia assinar a construção da barragem de Belo Monte", afirmou neste domingo, 22, em São Paulo o líder indígena Raoni, ao lado de um velho amigo, o cantor britânico Sting. "Fico preocupado: será que ele falou a verdade para mim?", questionou o cacique, tendo como intérprete seu sobrinho, o líder indígena Megaron. Raoni recebeu, em 2007, a Ordem do Mérito Cultural do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O leilão da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), aguarda a licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e deve acontecer em janeiro. Com um projeto estimado em R$ 20 bilhões, a usina é classificada pelo governo como essencial para garantir a oferta de energia elétrica necessária para o crescimento do Brasil. É também uma das grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).



"Eu sei que a obra faz sentido do ponto de vista econômico, mas, do ponto de vista ecológico, talvez não seja uma boa ideia", afirmou Sting, ex-líder da banda Police, durante entrevista na casa de Beto Ricardo, um dos coordenadores da ONG Instituto Socioambiental. O cantor conheceu Raoni durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, na cidade de Altamira (PA), em fevereiro de 1989, e se engajou na luta pela demarcação das terras indígenas no Xingu. Logo em seguida, Sting criou em Nova York a Rainforest Foundation, ao lado de sua mulher Trudie.

Os líderes indígenas Raoni e Megaron reclamaram que seu povo não está sendo ouvido pelo governo. "Quando planejou Belo Monte, o governo não conversou com o índio", disse Megaron. "O índio não sabe o que é audiência pública, acha que é para brigar. O presidente Lula acha que pode usar seu poder para fazer de qualquer jeito Belo Monte. Não pode ser assim."

Entre 28 de outubro e 2 de novembro, as lideranças indígenas do Xingu fizeram uma reunião na aldeia de Piaraçu (MT), para discutir o projeto de Belo Monte. Desse encontro resultou uma carta endereçada ao presidente Lula, em que as tribos se opõem à construção da usina, e questionam um parecer técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai) que é favorável à obra.

"Meu povo está crescendo, e o governo quer fazer uma grande barragem em Belo Monte, que pode atingir a terra do meu povo", disse Raoni. "O Rio Xingu tem que ficar como está. Vivemos de peixe e de caça. Eu defendo a comida do meu povo. Vocês precisam respeitar meu povo. Meus netos e seus netos vão viver em paz, quando eu morrer."

O Brasil é signatário da Convenção 69 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante os direitos dos povos indígenas. Essa convenção prevê que o governo precisa conseguir o consentimento prévio, livre e informado dos povos indígenas, antes de tomar medidas que os afetem. No caso de Belo Monte, Megaron afirmou que não teve nenhuma notícia de conversas para apresentar o projeto e conseguir o consentimento.

Sting disse saber que o País precisa de eletricidade, mas que "talvez haja uma alternativa a essa usina". O cantor se apresentou na noite deste domingo em São Paulo, e abriu o microfone para Raoni discursar. "Vamos tocar enquanto ele fala. Seremos a banda de apoio de Raoni", disse sting mais cedo.

Em Brasília, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse neste domingo que o adiamento da concessão de licença ambiental para as obras de Belo Monte, não trará "efeitos maiores" ao cronograma do projeto. O governo espera que a usina comece a gerar energia em 2014.

via Estadão 

Brasil deve ouvir índios do Amazonas sobre represa, diz Sting

O governo brasileiro deveria ouvir os índios antes de decidir sobre a construção da polêmica usina hidrelétrica de 17,3 bilhões de reais no coração da floresta amazônica, disse o cantor britânico e ativista Sting neste domingo.
Sting, que fundou a Rainforest Foundation em 1989 após conhecer um grupo de indígenas brasileiros no Amazonas, pediu mais diálogo sobre a represa de Belo Monte, um projeto de 11 mil megawatts no rio Xingu. O ex-Police se apresenta neste domingo no "Festival Natura Nós About Us", evento em defesa do meio ambiente, na Chácara do Jockey, em São Paulo.
A represa de Belo Monte atraiu duras críticas por seu alto custo e potencial dano ambiental à bacia amazônica, no momento em que ela é considerada prioridade absoluta pelo governo federal para atender a um aumento na demanda de energia nos próximos anos.
"Tenho certeza de que há fatores econômicos sólidos que justificam essa represa, assim como do lado oposto há fatores ecológicos sólidos que não a justificam", disse Sting ao lado do cacique Raoni, líder dos caiapós.
"Sou um estrangeiro, mas o que me importa é que a voz de todos os brasileiros seja ouvida", acrescentou. "O povo de Raoni precisa ser parte do processo porque está na linha de frente."
Grupos ambientalistas dizem que o projeto de Belo Monte, que também criará um aqueduto para ajudar a transportar commodities agrícolas cultivadas no Amazonas, irá danificar o ecossistema sensível.
Falando em sua língua nativa, Raoni disse que a represa pode prejudicar a caça e a pesca e que inundaria parte do Parque Indígena do Xingu.
"O governo quer construir essa represa e isso me preocupa", disse Raoni, usando um cocar e um disco labial, através de um intérprete, seu sobrinho Megaron.
"Essa represa pode atingir meu povo, a terra de meu povo", acrescentou ele. "Estou muito preocupado com o futuro de meus netos, meus bisnetos, por isso luto para manter a terra e o rio Xingu como são agora."
Na quarta-feira, o governo adiou uma licitação para a construção de Belo Monte até janeiro de 2010 por causa de dificuldades em obter a licença ambiental para o projeto. O país espera ter a licença antes da licitação para reduzir a percepção de risco político para os investidores.
O governo estima o custo da obra em cerca de 16 bilhões de reais, enquanto membros do setor prevêem valores na casa dos 30 bilhões de reais.

via O Globo
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